São Paulo, quarta-feira, 05 de maio de 2004

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ELEIÇÃO NOS EUA

Campanha presidencial deste ano está batendo recordes de arrecadação e deve custar mais de US$ 1 bilhão

Com cofre cheio, Kerry lança ofensiva na TV

VITOR PAOLOZZI
DA REDAÇÃO

O virtual candidato do Partido Democrata nas eleições presidenciais dos EUA em novembro, John Kerry, deu início a uma intensa campanha na TV. Serão gastos nas próximas três semanas mais de US$ 27 milhões, no que, segundo seus assessores, é a maior compra de espaço publicitário já feita por um candidato.
A manobra de Kerry visa contra-atacar uma série de acusações desferidas pelo republicano George W. Bush e também definir melhor sua imagem junto ao eleitorado.
A disputa de Kerry e Bush, que estão batendo recordes de arrecadação de fundos, leva especialistas a crer que o custo da eleição superará a marca de US$ 1 bilhão.
"Não há dúvida de que essa eleição representará um novo recorde. O total vai passar de US$ 1 bilhão", diz Herbert Alexander, da Universidade do Sul da Califórnia, um dos maiores especialistas em finanças eleitorais. Para comparação: segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, foram gastos R$ 93 milhões na eleição presidencial brasileira de 2002.
Saber o custo total das despesas envolvidas na escolha de um presidente americano não é tarefa fácil. "A verdade é que não temos um número exato sobre quanto custou a última eleição presidencial", diz Steve Weiss, do Center for Responsive Politics (centro que estuda o financiamento de campanhas), que computa em torno de US$ 530 milhões os gastos de Bush e Al Gore em 2000.
Kent Cooper, do PoliticalMoneyLine (site que rastreia os gastos dos candidatos), diz que pode ter sido até US$ 550 milhões. Já Alexander estima que houve muito mais dinheiro envolvido: de US$ 700 milhões a US$ 1 bilhão.
A dificuldade para calcular se deve ao fato de os gastos serem bastante pulverizados: há o dinheiro arrecadado pelos candidatos, pelos partidos e por diversos "grupos de interesse" (defensores do aborto, por exemplo).
O que se sabe com certeza é que, ao contrário do que se esperava, os republicanos não vão ter muito mais dinheiro para gastar na fase inicial da corrida -depois que tiverem suas candidaturas oficializadas, Bush e Kerry receberão, cada um, cerca de US$ 75 milhões em financiamento público.
Para conseguir esse cenário inesperado, Kerry continua a se beneficiar do "soft money" (dinheiro fácil, numa tradução livre): contribuições de grande valor que haviam sido proibidas pela nova legislação eleitoral, mas que na prática não deixaram de ser canalizadas para a campanha.
Além disso, o candidato, que em janeiro tinha apenas US$ 2,1 milhões em caixa, somente em março arrecadou US$ 43 milhões -novo recorde de captação de contribuições em um único mês. Como deve ter obtido quantia semelhante em abril, a campanha do senador já elevou sua previsão de arrecadação neste ano de US$ 80 milhões para US$ 100 milhões ou até US$ 120 milhões.
No outro campo, Bush conseguiu US$ 185,7 milhões (até março). Esse número é recorde absoluto em eleições presidenciais. O problema é que já foram gastos US$ 99 milhões. Outro dado preocupante para os republicanos é que em março o total das contribuições recebidas pelo presidente foi US$ 12,2 milhões menor do que o número de Kerry.
Uma das ferramentas dos democratas mais importantes para conseguir dinheiro está sendo a internet. Kerry levantou por esse meio quase US$ 27 milhões no primeiro trimestre do ano. Os republicanos, que engatinham nesse terreno, conseguiram "só" US$ 5,8 milhões pela via digital.
Todos esses milhões de dólares que já estão na mão dos candidatos são o que os americanos chamam de "hard money": as doações de pessoas físicas ou jurídicas que não podem ultrapassar o limite individual de US$ 2 mil.
Como, historicamente, os republicanos sempre conseguiram mais "hard money", os democratas temeram pelo pior quando foi aprovada a lei McCain-Feingold, que proibiu o uso de "soft money". No entanto, os democratas descobriram um jeito de driblar a lei, por meio dos chamados "comitês 527". Devido a uma brecha na legislação, esses comitês podem receber doações ilimitadas que acabam sendo canalizadas para a campanha presidencial.
A TNS/Media Intelligence, empresa que acompanha gastos publicitários em 90% do mercado televisivo americano, apurou que, embora Bush tenha investido em propaganda neste ano cerca de quatro vezes mais do que Kerry, na realidade o presidente só ficou com pouco mais da metade dos comerciais políticos exibidos. A aparente diferença de proporção entre anúncios democratas e republicanos foi toda coberta pelos comitês 527. "Como a maioria disso é contra o Bush, os gastos se dividem entre os dois lados", diz Evan Tracey, diretor da TNS.


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