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ELEIÇÃO NOS EUA
Campanha presidencial deste ano está batendo recordes de arrecadação e deve custar mais de US$ 1 bilhão
Com cofre cheio, Kerry lança ofensiva na TV
VITOR PAOLOZZI
DA REDAÇÃO
O virtual candidato do Partido
Democrata nas eleições presidenciais dos EUA em novembro,
John Kerry, deu início a uma intensa campanha na TV. Serão
gastos nas próximas três semanas
mais de US$ 27 milhões, no que,
segundo seus assessores, é a
maior compra de espaço publicitário já feita por um candidato.
A manobra de Kerry visa contra-atacar uma série de acusações
desferidas pelo republicano George W. Bush e também definir melhor sua imagem junto ao eleitorado.
A disputa de Kerry e Bush, que
estão batendo recordes de arrecadação de fundos, leva especialistas a crer que o custo da eleição
superará a marca de US$ 1 bilhão.
"Não há dúvida de que essa eleição representará um novo recorde. O total vai passar de US$ 1 bilhão", diz Herbert Alexander, da
Universidade do Sul da Califórnia, um dos maiores especialistas
em finanças eleitorais. Para comparação: segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, foram
gastos R$ 93 milhões na eleição
presidencial brasileira de 2002.
Saber o custo total das despesas
envolvidas na escolha de um presidente americano não é tarefa fácil. "A verdade é que não temos
um número exato sobre quanto
custou a última eleição presidencial", diz Steve Weiss, do Center
for Responsive Politics (centro
que estuda o financiamento de
campanhas), que computa em
torno de US$ 530 milhões os gastos de Bush e Al Gore em 2000.
Kent Cooper, do PoliticalMoneyLine (site que rastreia os gastos dos candidatos), diz que pode
ter sido até US$ 550 milhões. Já
Alexander estima que houve muito mais dinheiro envolvido: de
US$ 700 milhões a US$ 1 bilhão.
A dificuldade para calcular se
deve ao fato de os gastos serem
bastante pulverizados: há o dinheiro arrecadado pelos candidatos, pelos partidos e por diversos
"grupos de interesse" (defensores
do aborto, por exemplo).
O que se sabe com certeza é que,
ao contrário do que se esperava,
os republicanos não vão ter muito
mais dinheiro para gastar na fase
inicial da corrida -depois que tiverem suas candidaturas oficializadas, Bush e Kerry receberão, cada um, cerca de US$ 75 milhões
em financiamento público.
Para conseguir esse cenário
inesperado, Kerry continua a se
beneficiar do "soft money" (dinheiro fácil, numa tradução livre):
contribuições de grande valor que
haviam sido proibidas pela nova
legislação eleitoral, mas que na
prática não deixaram de ser canalizadas para a campanha.
Além disso, o candidato, que
em janeiro tinha apenas US$ 2,1
milhões em caixa, somente em
março arrecadou US$ 43 milhões
-novo recorde de captação de
contribuições em um único mês.
Como deve ter obtido quantia semelhante em abril, a campanha
do senador já elevou sua previsão
de arrecadação neste ano de US$
80 milhões para US$ 100 milhões
ou até US$ 120 milhões.
No outro campo, Bush conseguiu US$ 185,7 milhões (até março). Esse número é recorde absoluto em eleições presidenciais. O
problema é que já foram gastos
US$ 99 milhões. Outro dado
preocupante para os republicanos
é que em março o total das contribuições recebidas pelo presidente
foi US$ 12,2 milhões menor do
que o número de Kerry.
Uma das ferramentas dos democratas mais importantes para
conseguir dinheiro está sendo a
internet. Kerry levantou por esse
meio quase US$ 27 milhões no
primeiro trimestre do ano. Os republicanos, que engatinham nesse terreno, conseguiram "só" US$
5,8 milhões pela via digital.
Todos esses milhões de dólares
que já estão na mão dos candidatos são o que os americanos chamam de "hard money": as doações de pessoas físicas ou jurídicas que não podem ultrapassar o
limite individual de US$ 2 mil.
Como, historicamente, os republicanos sempre conseguiram
mais "hard money", os democratas temeram pelo pior quando foi
aprovada a lei McCain-Feingold,
que proibiu o uso de "soft money". No entanto, os democratas
descobriram um jeito de driblar a
lei, por meio dos chamados "comitês 527". Devido a uma brecha
na legislação, esses comitês podem receber doações ilimitadas
que acabam sendo canalizadas
para a campanha presidencial.
A TNS/Media Intelligence, empresa que acompanha gastos publicitários em 90% do mercado
televisivo americano, apurou que,
embora Bush tenha investido em
propaganda neste ano cerca de
quatro vezes mais do que Kerry,
na realidade o presidente só ficou
com pouco mais da metade dos
comerciais políticos exibidos. A
aparente diferença de proporção
entre anúncios democratas e republicanos foi toda coberta pelos
comitês 527. "Como a maioria
disso é contra o Bush, os gastos se
dividem entre os dois lados", diz
Evan Tracey, diretor da TNS.
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