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ITÁLIA
Anunziatta diz que premiê transformou a rede em "caixa postal" de suas ordens; para governo, acusação é "ridícula"
Presidente da RAI se demite com crítica a Berlusconi
DA REDAÇÃO
A jornalista Lucia Annunziata
renunciou ontem à presidência
da RAI, rede pública italiana de
rádio e televisão. Ela justificou sua
decisão em razão da suposta tentativa do governo de centro-direita do premiê Silvio Berlusconi de
procurar assumir o controle político das emissoras.
Berlusconi hoje completa 1.060
dias no poder, o que faz dele o
premiê de maior longevidade desde que, em 1946, foi criada a República Italiana. Antes dele o premiê de maior duração havia sido
Betino Craxi, que governou por
1.059 dias, entre 1983 e 1986.
O vice-primeiro-ministro Gianfranco Fini qualificou as acusações de Annunziata de "ridículas"
e disse que ela estava agindo politicamente para favorecer, em junho, a oposição de centro-esquerda nas eleições para o Parlamento
Europeu. Fini negou que o governo queira assumir o controle das
emissoras públicas.
Annunziata disse que a RAI estava reduzida à condição de "caixa postal" para a qual o governo
envia suas ordens. Afirmou que a
rede permanecia "ocupada" por
partidários do premiê, situação
que ameaçaria o pluralismo e a liberdade de expressão.
Ela tem longa carreira na mídia
italiana. Foi correspondente dos
jornais "La Repubblica" e "Corriere della Sera" e foi também
uma das fundadoras da agência
de notícias AP-Biscom.
No mês passado, o Parlamento
Europeu aprovou, por 237 votos a
24, um documento no qual se
mostrou "preocupado" pelos riscos que as liberdades estão correndo na mídia eletrônica italiana. O premiê Berlusconi não foi
nominalmente citado.
Ele é o principal acionista da Fininvest, que por sua vez controla
a Mediaset, proprietária das três
maiores redes de televisão privadas em seu país. Como premiê,
Berlusconi tem meios para exercer influência sobre a rede pública
RAI. Desse modo, ele tem poder,
direto ou indireto, sobre 90% do
telejornalismo e da programação
vistos pelos italianos.
Annunziata presidiu a RAI por
13 meses, período em que ela e o
diretor-geral Flavio Cattaneo, um
apoiador da coalizão de centro-direita, disputaram ruidosamente
espaço no conglomerado.
Analistas constatam que a RAI
nunca se beneficiou de uma independência operacional parecida
com a da britânica BBC, estando
condenada ao oficialismo em seu
jornalismo e a ser cabide de emprego de partidários do governo.
O estopim da atual crise foi a
promulgação pelo presidente da
República, Carlo Ciampi, de uma
lei que adversários de Berlusconi
acreditam ter sido feita sob medida para aumentar seu poder.
Novas regras para o mercado
publicitário reduzem as receitas
da RAI e beneficiam os canais privados, sobretudo os da Mediaset,
da família do premiê.
A lei também ampliou o conselho diretor da RAI. Seus novos integrantes foram indicados entre
simpatizantes do governo, o que
aumentou a base interna a partir
da qual o diretor-geral poderia
neutralizar a presidente.
Com agências internacionais
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