São Paulo, quarta-feira, 05 de maio de 2004

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ITÁLIA

Anunziatta diz que premiê transformou a rede em "caixa postal" de suas ordens; para governo, acusação é "ridícula"

Presidente da RAI se demite com crítica a Berlusconi

DA REDAÇÃO

A jornalista Lucia Annunziata renunciou ontem à presidência da RAI, rede pública italiana de rádio e televisão. Ela justificou sua decisão em razão da suposta tentativa do governo de centro-direita do premiê Silvio Berlusconi de procurar assumir o controle político das emissoras.
Berlusconi hoje completa 1.060 dias no poder, o que faz dele o premiê de maior longevidade desde que, em 1946, foi criada a República Italiana. Antes dele o premiê de maior duração havia sido Betino Craxi, que governou por 1.059 dias, entre 1983 e 1986.
O vice-primeiro-ministro Gianfranco Fini qualificou as acusações de Annunziata de "ridículas" e disse que ela estava agindo politicamente para favorecer, em junho, a oposição de centro-esquerda nas eleições para o Parlamento Europeu. Fini negou que o governo queira assumir o controle das emissoras públicas.
Annunziata disse que a RAI estava reduzida à condição de "caixa postal" para a qual o governo envia suas ordens. Afirmou que a rede permanecia "ocupada" por partidários do premiê, situação que ameaçaria o pluralismo e a liberdade de expressão.
Ela tem longa carreira na mídia italiana. Foi correspondente dos jornais "La Repubblica" e "Corriere della Sera" e foi também uma das fundadoras da agência de notícias AP-Biscom.
No mês passado, o Parlamento Europeu aprovou, por 237 votos a 24, um documento no qual se mostrou "preocupado" pelos riscos que as liberdades estão correndo na mídia eletrônica italiana. O premiê Berlusconi não foi nominalmente citado.
Ele é o principal acionista da Fininvest, que por sua vez controla a Mediaset, proprietária das três maiores redes de televisão privadas em seu país. Como premiê, Berlusconi tem meios para exercer influência sobre a rede pública RAI. Desse modo, ele tem poder, direto ou indireto, sobre 90% do telejornalismo e da programação vistos pelos italianos.
Annunziata presidiu a RAI por 13 meses, período em que ela e o diretor-geral Flavio Cattaneo, um apoiador da coalizão de centro-direita, disputaram ruidosamente espaço no conglomerado.
Analistas constatam que a RAI nunca se beneficiou de uma independência operacional parecida com a da britânica BBC, estando condenada ao oficialismo em seu jornalismo e a ser cabide de emprego de partidários do governo.
O estopim da atual crise foi a promulgação pelo presidente da República, Carlo Ciampi, de uma lei que adversários de Berlusconi acreditam ter sido feita sob medida para aumentar seu poder.
Novas regras para o mercado publicitário reduzem as receitas da RAI e beneficiam os canais privados, sobretudo os da Mediaset, da família do premiê.
A lei também ampliou o conselho diretor da RAI. Seus novos integrantes foram indicados entre simpatizantes do governo, o que aumentou a base interna a partir da qual o diretor-geral poderia neutralizar a presidente.


Com agências internacionais


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