São Paulo, sexta-feira, 05 de junho de 2009

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Só sanções a Israel trarão confiança, diz analista

SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Barack Obama só conquistará a confiança do mundo muçulmano quando acenar com a possibilidade de aplicar a Israel as mesmas sanções que os EUA impõem a outros países. O diagnóstico é do franco-tunisiano Chérif Ferjani, estudioso do islã e cientista político da Universidade de Lyon 2.
Em entrevista à Folha, por telefone, ele disse não acreditar no choque entre as civilizações islâmica e ocidental.

 

FOLHA - O que o sr. achou do discurso de Obama?
CHERIF FERJANI
- Achei que a mensagem ficou aquém do que exige a gravíssima situação em que o mundo está. Obama não adotou nenhum compromisso claro, principalmente em relação à política israelense de assentamentos e a recusa de Israel de cumprir as resoluções da ONU. O discurso teve apenas promessas gerais. Mas a situação atual é tão perigosa que discursos vagos não despertam nenhuma esperança. A fala de Obama sobre o conflito israelo-palestino foi até mais branda do que o que ele vinha defendendo. Até os israelenses que militam pela paz sabem que, se os apelos da Casa Branca não forem seguidos de sanções, Israel continuará se sentindo impune.

FOLHA - Mas o tom da fala foi amigável e conciliador...
FERJANI
- É claro que estamos longe da retórica americana da era Bush. Mas a situação chegou a tal ponto que bons sentimentos e belas palavras não bastam. É preciso que Obama seja firme e não hesite em aplicar a Israel o que vale para tantos países. Ele precisa ameaçar impor sanções ou cortar a ajuda americana. Há avanços por parte dos EUA, mas falta muito para convencer os muçulmanos de que não existe uma lógica de dois pesos, duas medidas.

FOLHA - A questão israelo-palestina é a mais importante para melhorar as relações entre os EUA e o mundo muçulmano?
FERJANI
- É a única grande pendência. Obama já disse que vai retirar as tropas americanas do Iraque. O Afeganistão é uma questão mais complexa, e os muçulmanos entendem que os EUA ainda não podem se retirar. Já o problema israelo-palestino se arrasta por mais de 60 anos. Nesse período, os palestinos fizeram uma concessão atrás da outra e nunca obtiveram nada em troca.

FOLHA - O sr. acredita no choque das civilizações?
FERJANI
- Não. Mas é preciso sair do impasse no qual tratamos as pessoas em função de sua religião ou cultura. Isso vale para todo o mundo.
Se ficarmos nessa lógica, continuaremos acirrando as tensões identitárias que causam intolerância. As civilizações não carregam em si a rejeição do outro. Prova disso é que Obama foi muito bem recebido pelos egípcios.


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