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Só sanções a Israel trarão confiança, diz analista
SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
Barack Obama só conquistará a confiança do mundo muçulmano quando acenar com a
possibilidade de aplicar a Israel
as mesmas sanções que os EUA
impõem a outros países.
O diagnóstico é do franco-tunisiano Chérif Ferjani, estudioso do islã e cientista político da
Universidade de Lyon 2.
Em entrevista à Folha, por telefone, ele disse não acreditar no
choque entre as civilizações islâmica e ocidental.
FOLHA - O que o sr. achou do discurso de Obama?
CHERIF FERJANI - Achei que a
mensagem ficou aquém do que
exige a gravíssima situação em
que o mundo está. Obama não
adotou nenhum compromisso
claro, principalmente em relação à política israelense de assentamentos e a recusa de Israel de cumprir as resoluções
da ONU. O discurso teve apenas promessas gerais. Mas a situação atual é tão perigosa que
discursos vagos não despertam
nenhuma esperança.
A fala de Obama sobre o conflito israelo-palestino foi até
mais branda do que o que ele vinha defendendo. Até os israelenses que militam pela paz sabem que, se os apelos da Casa
Branca não forem seguidos de
sanções, Israel continuará se
sentindo impune.
FOLHA - Mas o tom da fala foi amigável e conciliador...
FERJANI - É claro que estamos
longe da retórica americana da
era Bush. Mas a situação chegou a tal ponto que bons sentimentos e belas palavras não
bastam. É preciso que Obama
seja firme e não hesite em aplicar a Israel o que vale para tantos países. Ele precisa ameaçar
impor sanções ou cortar a ajuda
americana. Há avanços por
parte dos EUA, mas falta muito
para convencer os muçulmanos de que não existe uma lógica de dois pesos, duas medidas.
FOLHA - A questão israelo-palestina é a mais importante para melhorar as relações entre os EUA e o mundo muçulmano?
FERJANI - É a única grande pendência. Obama já disse que vai
retirar as tropas americanas do
Iraque. O Afeganistão é uma
questão mais complexa, e os
muçulmanos entendem que os
EUA ainda não podem se retirar. Já o problema israelo-palestino se arrasta por mais de
60 anos. Nesse período, os palestinos fizeram uma concessão atrás da outra e nunca obtiveram nada em troca.
FOLHA - O sr. acredita no choque
das civilizações?
FERJANI - Não. Mas é preciso
sair do impasse no qual tratamos as pessoas em função de
sua religião ou cultura. Isso vale para todo o mundo.
Se ficarmos nessa lógica,
continuaremos acirrando as
tensões identitárias que causam intolerância. As civilizações não carregam em si a rejeição do outro. Prova disso é que
Obama foi muito bem recebido
pelos egípcios.
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