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EUA tentaram alterar resolução da OEA
Americanos alegaram não ter recebido versão do texto em inglês antes da aprovação e, em vão, quiseram emendá-lo depois
Empreitada visava enfatizar que eventual volta cubana, e não só o diálogo sobre ela, será "decidida" conforme
os princípios da entidade
CLAUDIA ANTUNES
ENVIADA ESPECIAL A SAN PEDRO SULA
(HONDURAS)
A delegação dos EUA na Assembleia Geral da OEA (Organização dos Estados Americanos) pediu, ainda na quarta-feira, uma mudança na resolução
que anulou a suspensão do governo cubano da entidade. Mas,
segundo informou na madrugada de ontem o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, o texto original foi mantido.
A delegação americana informou ter detectado o problema
depois que a resolução já tinha
sido aprovada. Pediu então a
inclusão de um verbo em seu
segundo ponto, o que prevê que
a "participação da República de
Cuba na OEA será o resultado
de um processo de diálogo iniciado a pedido do governo de
Cuba e em conformidade com
as práticas, os propósitos e os
princípios" da organização.
Os americanos alegaram temer que houvesse o entendimento errado, de que o diálogo
é que deve seguir os princípios
da OEA, e não a participação do
país caribenho. Por isso, queriam incluir o termo "decidida", e o texto ficaria assim: "a
participação da República de
Cuba na OEA será o resultado
de um processo de diálogo iniciado a pedido do governo de
Cuba e decidida em conformidade com as práticas, os propósitos e os princípios" da OEA.
A reivindicação dos EUA não
foi atendida, mas Insulza afirmou que a assembleia terminou sem problemas acerca da
interpretação correta do texto.
Os representantes dos EUA
reclamaram de não terem lido a
versão final da resolução em inglês antes de a chanceler de
Honduras, Patricia Rodas, submetê-la à aclamação do plenário. Ela foi criticada pelos diplomatas em San Pedro Sula por
sua condução da assembleia,
como representante do país anfitrião. Disseram que ela desconhecia regras regimentais e
atrasou os trabalhos, que terminaram às 3h30 da madrugada de ontem (6h30 no Brasil).
A um representante dos EUA
que cobrava decisão sobre a revisão do texto, Rodas disse:
"Nós esperamos 47 anos [pela
suspensão do veto a Cuba]".
EUA x Alba
A insatisfação com o que julgou ser uma imprecisão da resolução somou-se à preocupação da equipe americana com a
reação do seu público interno à
decisão sobre Cuba, um meio-termo entre as posições duras
iniciais tanto dos EUA quanto
dos países da Alba (Alternativa
Bolivariana para as Américas).
Embora os bolivarianos tenham sido os últimos a aderir à
resolução e tenham cedido ao
concordar com um processo
futuro para eventual participação cubana na OEA, eles apresentaram a decisão da assembleia como uma vitória sua.
Os negociadores americanos,
que na noite de terça isolaram a
Alba, após fecharem um texto
junto aos demais países, viram
anteontem uma reviravolta de
Venezuela e seus aliados.
Se os bolivarianos tivessem
rejeitado o texto conciliatório,
os EUA não precisariam recuar
de sua posição inicial -de não
pôr fim à suspensão a Cuba- e
poderiam ainda culpar a Alba.
Na entrevista coletiva que
deram anteontem em Honduras e falando por satélite a
meios de comunicação dos
EUA, a preocupação de Thomas Shannon, secretário de Estado assistente para a América
Latina, e de Dan Restrepo, que
cuida da região no Conselho de
Segurança Nacional, era enfatizar que a volta de Cuba à OEA
não será automática.
"A resolução deve ser entendida na sua integralidade", disse Shannon. "Os EUA e outros
países do continente lutaram e
prevaleceu a ideia de que não
seria um processo automático,
de que não deveríamos mais ser
prisioneiros do passado, mas
vamos garantir que estamos
defendendo os princípios básicos da democracia, dos direitos
humanos, da não intervenção,
como um caminho adiante para a volta de Cuba" à OEA.
Shannon também insistiu
em que seu objetivo foi "construir um novo relacionamento"
com a região. Disse que pretendeu fortalecer a OEA e que os
EUA conseguiram fazer "com
que os países da Alba se comprometessem com a Carta Democrática" da organização,
aprovada em 2001 e que acabou
não sendo mencionada diretamente na resolução.
Ao final da assembleia, questionado se vai procurar o governo cubano para iniciar um processo de aproximação, o secretário-geral Insulza disse que
"participar é uma decisão deles", mas que está "disponível".
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