São Paulo, sexta-feira, 05 de junho de 2009

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EUA tentaram alterar resolução da OEA

Americanos alegaram não ter recebido versão do texto em inglês antes da aprovação e, em vão, quiseram emendá-lo depois

Empreitada visava enfatizar que eventual volta cubana, e não só o diálogo sobre ela, será "decidida" conforme os princípios da entidade


CLAUDIA ANTUNES
ENVIADA ESPECIAL A SAN PEDRO SULA (HONDURAS)

A delegação dos EUA na Assembleia Geral da OEA (Organização dos Estados Americanos) pediu, ainda na quarta-feira, uma mudança na resolução que anulou a suspensão do governo cubano da entidade. Mas, segundo informou na madrugada de ontem o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, o texto original foi mantido.
A delegação americana informou ter detectado o problema depois que a resolução já tinha sido aprovada. Pediu então a inclusão de um verbo em seu segundo ponto, o que prevê que a "participação da República de Cuba na OEA será o resultado de um processo de diálogo iniciado a pedido do governo de Cuba e em conformidade com as práticas, os propósitos e os princípios" da organização.
Os americanos alegaram temer que houvesse o entendimento errado, de que o diálogo é que deve seguir os princípios da OEA, e não a participação do país caribenho. Por isso, queriam incluir o termo "decidida", e o texto ficaria assim: "a participação da República de Cuba na OEA será o resultado de um processo de diálogo iniciado a pedido do governo de Cuba e decidida em conformidade com as práticas, os propósitos e os princípios" da OEA.
A reivindicação dos EUA não foi atendida, mas Insulza afirmou que a assembleia terminou sem problemas acerca da interpretação correta do texto.
Os representantes dos EUA reclamaram de não terem lido a versão final da resolução em inglês antes de a chanceler de Honduras, Patricia Rodas, submetê-la à aclamação do plenário. Ela foi criticada pelos diplomatas em San Pedro Sula por sua condução da assembleia, como representante do país anfitrião. Disseram que ela desconhecia regras regimentais e atrasou os trabalhos, que terminaram às 3h30 da madrugada de ontem (6h30 no Brasil).
A um representante dos EUA que cobrava decisão sobre a revisão do texto, Rodas disse: "Nós esperamos 47 anos [pela suspensão do veto a Cuba]".

EUA x Alba
A insatisfação com o que julgou ser uma imprecisão da resolução somou-se à preocupação da equipe americana com a reação do seu público interno à decisão sobre Cuba, um meio-termo entre as posições duras iniciais tanto dos EUA quanto dos países da Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas).
Embora os bolivarianos tenham sido os últimos a aderir à resolução e tenham cedido ao concordar com um processo futuro para eventual participação cubana na OEA, eles apresentaram a decisão da assembleia como uma vitória sua.
Os negociadores americanos, que na noite de terça isolaram a Alba, após fecharem um texto junto aos demais países, viram anteontem uma reviravolta de Venezuela e seus aliados.
Se os bolivarianos tivessem rejeitado o texto conciliatório, os EUA não precisariam recuar de sua posição inicial -de não pôr fim à suspensão a Cuba- e poderiam ainda culpar a Alba.
Na entrevista coletiva que deram anteontem em Honduras e falando por satélite a meios de comunicação dos EUA, a preocupação de Thomas Shannon, secretário de Estado assistente para a América Latina, e de Dan Restrepo, que cuida da região no Conselho de Segurança Nacional, era enfatizar que a volta de Cuba à OEA não será automática.
"A resolução deve ser entendida na sua integralidade", disse Shannon. "Os EUA e outros países do continente lutaram e prevaleceu a ideia de que não seria um processo automático, de que não deveríamos mais ser prisioneiros do passado, mas vamos garantir que estamos defendendo os princípios básicos da democracia, dos direitos humanos, da não intervenção, como um caminho adiante para a volta de Cuba" à OEA.
Shannon também insistiu em que seu objetivo foi "construir um novo relacionamento" com a região. Disse que pretendeu fortalecer a OEA e que os EUA conseguiram fazer "com que os países da Alba se comprometessem com a Carta Democrática" da organização, aprovada em 2001 e que acabou não sendo mencionada diretamente na resolução.
Ao final da assembleia, questionado se vai procurar o governo cubano para iniciar um processo de aproximação, o secretário-geral Insulza disse que "participar é uma decisão deles", mas que está "disponível".


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