São Paulo, sábado, 05 de junho de 2010

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ENTREVISTA

"Ancara vê chance de aumentar sua projeção regional"

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Os embates da Turquia com Israel e EUA, antes vistos como aliados, após o ataque à frota que tentou furar o bloqueio a Gaza não são um incidente isolado: chegam em um contexto de afirmação de uma nova posição de Ancara como potência regional. Quem afirma é Stephen Larrabee, analista de segurança para Europa e Turquia do grupo Rand. Leia abaixo trechos de sua entrevista à Folha.

Folha - O que a Turquia tem a ganhar com a pressão contra Israel?
Stephen Larrabee
- Muita coisa. Há um reconhecimento geral de que Israel está na defensiva. A opinião pública está contra os israelenses, e os turcos veem uma oportunidade para avançar em sua liderança regional.

Como a Turquia vem redefinindo seu papel?
Na Guerra Fria, os turcos estavam dispostos a subordinar seus interesses nacionais a seus desejos de serem protegidos pelos EUA.
Com o fim da União Soviética, se tornaram menos dependentes dos EUA e puderam retomar interesses no Oriente Médio.
O ritmo dessa mudança se acelerou nos últimos anos. Eles se veem como poder ativo no Oriente Médio, no Cáucaso e na Ásia Central, como mostraram ao mediar a relação entre a Síria e Israel e com o acordo nuclear com o Brasil e o Irã.

Quão habilidosos eles são nesse reposicionamento?
Bastante habilidosos, considerando-se que a Turquia não tinha muita experiência -sua política externa costumava ser reativa e orientada para o status quo.
Se você comparar a situação com a década passada, verá que tem tido muito sucesso, especialmente no Oriente Médio.
Havia muita oposição e resistência à Turquia na região devido a seu papel imperialista durante o Império Otomano. Mas a percepção pública mudou em uma direção positiva. O premiê Erdogan é visto como um líder muito forte, particularmente frente a Israel.
Há fatores internos e externos que contribuíram para isso. Sem dúvida, o governo turco percebeu que sua política para Israel pode ser muito popular dentro do país se for mais dura.
A opinião pública árabe também aprovou essa mudança, apesar da resistência do Egito, que vê um papel que toma para si ser usurpado pelos turcos.


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