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ENTREVISTA
"Ancara vê chance de aumentar sua projeção regional"
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
Os embates da Turquia
com Israel e EUA, antes vistos como aliados, após o
ataque à frota que tentou furar o bloqueio a Gaza não
são um incidente isolado:
chegam em um contexto de
afirmação de uma nova posição de Ancara como potência regional.
Quem afirma é Stephen
Larrabee, analista de segurança para Europa e Turquia do grupo Rand. Leia
abaixo trechos de sua entrevista à Folha.
Folha - O que a Turquia tem
a ganhar com a pressão contra Israel?
Stephen Larrabee - Muita
coisa. Há um reconhecimento geral de que Israel
está na defensiva. A opinião
pública está contra os israelenses, e os turcos veem
uma oportunidade para
avançar em sua liderança
regional.
Como a Turquia vem redefinindo seu papel?
Na Guerra Fria, os turcos
estavam dispostos a subordinar seus interesses nacionais a seus desejos de serem
protegidos pelos EUA.
Com o fim da União Soviética, se tornaram menos
dependentes dos EUA e puderam retomar interesses
no Oriente Médio.
O ritmo dessa mudança
se acelerou nos últimos
anos. Eles se veem como poder ativo no Oriente Médio,
no Cáucaso e na Ásia Central, como mostraram ao
mediar a relação entre a Síria e Israel e com o acordo
nuclear com o Brasil e o Irã.
Quão habilidosos eles são
nesse reposicionamento?
Bastante habilidosos,
considerando-se que a Turquia não tinha muita experiência -sua política externa costumava ser reativa e
orientada para o status quo.
Se você comparar a situação com a década passada,
verá que tem tido muito sucesso, especialmente no
Oriente Médio.
Havia muita oposição e
resistência à Turquia na região devido a seu papel imperialista durante o Império
Otomano. Mas a percepção
pública mudou em uma direção positiva. O premiê Erdogan é visto como um líder
muito forte, particularmente frente a Israel.
Há fatores internos e externos que contribuíram para isso. Sem dúvida, o governo turco percebeu que
sua política para Israel pode
ser muito popular dentro do
país se for mais dura.
A opinião pública árabe
também aprovou essa mudança, apesar da resistência do Egito, que vê um papel que toma para si ser
usurpado pelos turcos.
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