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Ao confrontar bloco, Chávez põe em risco "colchão político"
FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO
RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES
Bravata irresponsável, blefe
de bom jogador ou fim de jogo
de fato? Na tentativa de desvendar os objetivos do presidente venezuelano Hugo Chávez ao apresentar seu ultimato
ao Mercosul, os analistas ouvidos pela Folha lançam as três
interpretações.
Seja qual for a hipótese, eles
concordam que Chávez, com a
atitude confrontativa, arrisca-se a perder o "colchão político"
do bloco -aliados de peso numa região onde não tem amigos fortes e se afasta cada vez
mais de México e Colômbia.
"As negociações parecem caminhar para o insustentável",
afirma o cientista político Marcelo Coutinho, sobre as conseqüências das críticas feitas pelo
venezuelano, que resvalaram
diretamente no chanceler Celso Amorim anteontem.
Para Coutinho, que é diretor-executivo do OPSA (Observatório Político Sul-Americano), do Iuperj, as declarações
deixam o Itamaraty e o governo em situação delicada: como
responder à altura sem queimar navios? "Não interessa
que Amorim seja tratado como
a Condoleeza Rice. Abrir esse
corredor de conflito é muito
ruim para a região."
É por isso que, segundo ele, a
diplomacia brasileira vai se
desdobrar para minimizar o
mal-estar. "Com um ator tresloucado como o Chávez há
duas escolhas: ou incorpora ou
isola. A opção foi integrar. O
Brasil estava conceitualmente
correto. O projeto era que o
bloco servisse como amálgama
da região, a começar pela cláusula democrática."
Mas o argentino Juan Gabriel Tokatlian, diretor de Relações Internacionais da Universidade de San Andrés, diz
que a aposta na "incorporação"
é um equívoco em si: "É um raciocínio falacioso. Não conheço
ninguém que tenha contido
Chávez em nada. Supor que
Lula e Kirchner conseguiriam
é não levar em conta a recente
história da Venezuela".
Para o argentino, o ultimato
de Chávez é para valer. "Ele
cumpriu muitos de seus anúncios categóricos. Tempos atrás,
anunciou que se retiraria da
Comunidade Andina de Nações e se retirou. Disse que desejava se filiar ao Mercosul e se
apresentou para ser membro.
Agora promete sair; não há por
que não acreditar."
Tanto para Tokatlian quanto
para Coutinho havia empenho
real de Mercosul e Venezuela
para que a adesão funcionasse.
"Mas todos estão mais descontentes. Ninguém está obtendo
o que buscava", diz Tokatlian.
"Chávez cometeu um erro de
cálculo, pensou que teria vantagens econômicas, tarifas melhores [que não prejudicassem
sua indústria]", diz Coutinho.
É para obter essas vantagens
que Chávez blefa e dá últimato,
sustenta o argentino Jorge
Arias, pesquisador do portal argentino Polilat.com: "Chávez
gosta de jogar com a iniciativa
do seu lado. O Parlamento brasileiro lhe dá a chance de pôr
um preço no seu ingresso ao
Mercosul: "Me querem, então
têm que pagar um custo'".
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