São Paulo, quinta-feira, 05 de julho de 2007

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Ao confrontar bloco, Chávez põe em risco "colchão político"

FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO

RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES

Bravata irresponsável, blefe de bom jogador ou fim de jogo de fato? Na tentativa de desvendar os objetivos do presidente venezuelano Hugo Chávez ao apresentar seu ultimato ao Mercosul, os analistas ouvidos pela Folha lançam as três interpretações.
Seja qual for a hipótese, eles concordam que Chávez, com a atitude confrontativa, arrisca-se a perder o "colchão político" do bloco -aliados de peso numa região onde não tem amigos fortes e se afasta cada vez mais de México e Colômbia.
"As negociações parecem caminhar para o insustentável", afirma o cientista político Marcelo Coutinho, sobre as conseqüências das críticas feitas pelo venezuelano, que resvalaram diretamente no chanceler Celso Amorim anteontem.
Para Coutinho, que é diretor-executivo do OPSA (Observatório Político Sul-Americano), do Iuperj, as declarações deixam o Itamaraty e o governo em situação delicada: como responder à altura sem queimar navios? "Não interessa que Amorim seja tratado como a Condoleeza Rice. Abrir esse corredor de conflito é muito ruim para a região."
É por isso que, segundo ele, a diplomacia brasileira vai se desdobrar para minimizar o mal-estar. "Com um ator tresloucado como o Chávez há duas escolhas: ou incorpora ou isola. A opção foi integrar. O Brasil estava conceitualmente correto. O projeto era que o bloco servisse como amálgama da região, a começar pela cláusula democrática."
Mas o argentino Juan Gabriel Tokatlian, diretor de Relações Internacionais da Universidade de San Andrés, diz que a aposta na "incorporação" é um equívoco em si: "É um raciocínio falacioso. Não conheço ninguém que tenha contido Chávez em nada. Supor que Lula e Kirchner conseguiriam é não levar em conta a recente história da Venezuela".
Para o argentino, o ultimato de Chávez é para valer. "Ele cumpriu muitos de seus anúncios categóricos. Tempos atrás, anunciou que se retiraria da Comunidade Andina de Nações e se retirou. Disse que desejava se filiar ao Mercosul e se apresentou para ser membro. Agora promete sair; não há por que não acreditar."
Tanto para Tokatlian quanto para Coutinho havia empenho real de Mercosul e Venezuela para que a adesão funcionasse. "Mas todos estão mais descontentes. Ninguém está obtendo o que buscava", diz Tokatlian. "Chávez cometeu um erro de cálculo, pensou que teria vantagens econômicas, tarifas melhores [que não prejudicassem sua indústria]", diz Coutinho.
É para obter essas vantagens que Chávez blefa e dá últimato, sustenta o argentino Jorge Arias, pesquisador do portal argentino Polilat.com: "Chávez gosta de jogar com a iniciativa do seu lado. O Parlamento brasileiro lhe dá a chance de pôr um preço no seu ingresso ao Mercosul: "Me querem, então têm que pagar um custo'".


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