São Paulo, quinta-feira, 05 de julho de 2007

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Adesão ao bloco é desastre, diz industrial venezuelano

Mas razão de Chávez para se afastar do Mercosul é política, afirma líder do setor

Ismael Vigil, presidente da Confederação Venezuelana de Industriais, diz que seu país não é competitivo com o Brasil em nenhum setor

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A MÉRIDA (VENEZUELA)

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, age corretamente ao se distanciar do Mercosul, mas a sua motivação é sobretudo política, na opinião de Ismael Pérez Vigil, presidente-executivo da Confederação Venezuelana de Industriais. Opositora da entrada da Venezuela ao Mercosul, a Conindustria representa cerca de 90% da produção manufatureira do país. Leia, a seguir, a entrevista de Peréz Vigil à Folha, por telefone.

 

FOLHA - A Conindustria concorda com o distanciamento de Chávez em relação ao Mercosul?
ISMAEL PÉREZ VIGIL -
Nossa posição tem sido contrária à saída da Comunidade Andina de Nações (CAN) e à entrada no Mercosul. A razão, hoje utilizada pelo presidente Chávez, é o tema da assimetria. Consideramos que as economias são demasiado assimétricas entre a Venezuela e os demais países do Mercosul, sobretudo o Brasil. Praticamente nenhum setor venezuelano é competitivo com o equivalente brasileiro. O ingresso sempre nos pareceu uma loucura, um desastre. Por outro lado, a CAN tem mecanismos mais transparentes do que o Mercosul, que deixa muito sob o critério dos governos durante as reuniões presidenciais. Há instrumentos, como o Tribunal Andino, aos quais se pode recorrer. O Pacto Andino oferece muito mais segurança jurídica.

FOLHA - Esse afastamento é por ceder à pressão do setor industrial ou está mais ligado à polêmica com o Senado por causa da RCTV?
PÉREZ -
Assim como a decisão inicial foi política, consideramos que essa decisão também tenha sido política, sem relações com os motivos econômicos com os quais temos argumentado. Não creio que o governo tenha feito isso por levar em consideração o ponto de vista dos empresários que representamos. Agora, o resultado prático nos parece conveniente para a indústria venezuelana. É bem-vindo.

FOLHA - O comércio com o Brasil tem crescido muito rápido sob Chávez, a ponto de se tornar o segundo parceiro comercial da Venezuela, superando a Colômbia. É uma mudança política? Essa invasão tem provocado dano à indústria local?
PÉREZ -
Sem dúvida. Uma boa parte da penetração de produtos brasileiros se deve a decisões do Estado venezuelano, como a contratação de empresas brasileiras para construir certas obras, a importação de alimentos pelo governo.
Não é a mesma facilidade que temos para entrar no Brasil, porque não somos tão competitivos, mas também porque o governo brasileiro cria barreiras muito difíceis de romper. É totalmente assimétrico. Com a Colômbia, a relação era mais ou menos equilibrada.


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