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Adesão ao bloco é desastre, diz industrial venezuelano
Mas razão de Chávez para se afastar do Mercosul é política, afirma líder do setor
Ismael Vigil, presidente da Confederação Venezuelana de Industriais, diz que seu país não é competitivo com o Brasil em nenhum setor
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A MÉRIDA
(VENEZUELA)
O presidente venezuelano,
Hugo Chávez, age corretamente ao se distanciar do Mercosul,
mas a sua motivação é sobretudo política, na opinião de Ismael Pérez Vigil, presidente-executivo da Confederação Venezuelana de Industriais.
Opositora da entrada da Venezuela ao Mercosul, a Conindustria representa cerca de
90% da produção manufatureira do país. Leia, a seguir, a entrevista de Peréz Vigil à Folha,
por telefone.
FOLHA - A Conindustria concorda
com o distanciamento de Chávez
em relação ao Mercosul?
ISMAEL PÉREZ VIGIL - Nossa posição tem sido contrária à saída
da Comunidade Andina de Nações (CAN) e à entrada no Mercosul. A razão, hoje utilizada
pelo presidente Chávez, é o tema da assimetria. Consideramos que as economias são demasiado assimétricas entre a
Venezuela e os demais países
do Mercosul, sobretudo o Brasil. Praticamente nenhum setor venezuelano é competitivo
com o equivalente brasileiro.
O ingresso sempre nos pareceu uma loucura, um desastre.
Por outro lado, a CAN tem mecanismos mais transparentes
do que o Mercosul, que deixa
muito sob o critério dos governos durante as reuniões presidenciais. Há instrumentos, como o Tribunal Andino, aos
quais se pode recorrer. O Pacto
Andino oferece muito mais segurança jurídica.
FOLHA - Esse afastamento é por ceder à pressão do setor industrial ou
está mais ligado à polêmica com o
Senado por causa da RCTV?
PÉREZ - Assim como a decisão
inicial foi política, consideramos que essa decisão também
tenha sido política, sem relações com os motivos econômicos com os quais temos argumentado.
Não creio que o governo tenha feito isso por levar em consideração o ponto de vista dos
empresários que representamos. Agora, o resultado prático
nos parece conveniente para a
indústria venezuelana. É bem-vindo.
FOLHA - O comércio com o Brasil
tem crescido muito rápido sob Chávez, a ponto de se tornar o segundo
parceiro comercial da Venezuela,
superando a Colômbia. É uma mudança política? Essa invasão tem
provocado dano à indústria local?
PÉREZ - Sem dúvida. Uma boa
parte da penetração de produtos brasileiros se deve a decisões do Estado venezuelano,
como a contratação de empresas brasileiras para construir
certas obras, a importação de
alimentos pelo governo.
Não é a mesma facilidade
que temos para entrar no Brasil, porque não somos tão competitivos, mas também porque
o governo brasileiro cria barreiras muito difíceis de romper. É totalmente assimétrico.
Com a Colômbia, a relação era mais ou menos equilibrada.
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