|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
análise
Gaza, agora mais segura, teme futuro
ANDREW ENGLAND
DO "FINANCIAL TIMES", EM GAZA
Perto do esqueleto daquilo que, anos atrás, prometia ser um hotel de cinco estrelas, crianças palestinas brincam na praia.
Carroças disputam o espaço com táxis amarelos e
com carros mal conservados, enquanto um grupo
de homens sentados em
cadeiras de plástico se prepara para uma festa de casamento. Duas semanas
depois que o Hamas tomou o controle dessa pequena faixa localizada à
beira do Mediterrâneo,
Gaza apresenta um ar de
segurança, e o número de
atiradores e de postos de
controle caiu bastante.
Mas sob a superfície a
preocupação é imensa e as
pessoas tentam divisar
que futuro terão em um
território que caiu em isolamento político e econômico ainda maior desde
que o movimento islâmico
tomou o controle.
Com o fechamento dos
principais pontos de travessia na fronteira, surgiu
uma escassez de produtos
como arroz, açúcar e farinha. A ONU distribui suprimentos básicos, mas,
com o fechamento do
principal ponto de travessia comercial, em Karni, a
atividade econômica normal se tornou impossível.
Dilemas
Fawzy Barhoom, porta-voz do Hamas, diz que seu
movimento deseja que
"equipes técnicas" do Fatah retornem aos postos
de fronteira, para que eles
possam ser reabertos. Um
dos dilemas do Hamas,
desde que venceu as eleições de 2006, é que Israel
se recusa a tratar com seus
militantes, o que o torna
dependente do Fatah para
coordenar a passagem de
bens com os israelenses.
Mas essa cooperação foi
suspensa quando o Hamas
derrotou o Fatah em Gaza.
Depois dos confrontos,
Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, dissolveu o governo de unidade entre Fatah
e Hamas estabelecido em
março e criou uma administração de emergência
para a Cisjordânia.
No domingo, Israel
transferiu cerca de US$
120 milhões em arrecadação tributária palestina ao
novo governo de Abbas,
que ontem começou a pagar os salários dos funcionários públicos. No entanto, milhares de trabalhadores empregados pelo
Hamas nos últimos 18 meses não receberão pagamento, e os policiais em
Gaza foram instruídos por
Abbas a ficar em casa se
quiserem receber.
Ainda assim, não são as
dificuldades econômicas
que parecem incomodar
mais os moradores de Gaza. O que mais os preocupa
é o futuro político e a causa
palestina mais ampla.
Muitos dizem desejar diálogo entre os grupos rivais.
Mas as perspectivas de
curto prazo parecem negativas. "Interessa ao Hamas conversar, mas não
interessa ao Fatah, porque
eles acreditam que isso
reabriria as portas da legitimidade", diz Diana Buttu, analista palestina.
Raji Sourani, do Centro
Palestino de Direitos Humanos, diz que, se a situação piorar, o Hamas pode
perder o apoio da "área
cinzenta", pessoas que não
pertencem a nenhum dos
dois grupos rivais. Mas
também acautela contra
subestimar o Hamas.
"Eles estão agindo como o
Hizbollah. São organizados, práticos e perfeitos
nas táticas militares."
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Texto Anterior: Jornalista da BBC agradece Hamas pela libertação Próximo Texto: Londres endurecerá admissão de médicos estrangeiros Índice
|