São Paulo, quinta-feira, 05 de julho de 2007

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análise

Gaza, agora mais segura, teme futuro

ANDREW ENGLAND
DO "FINANCIAL TIMES", EM GAZA

Perto do esqueleto daquilo que, anos atrás, prometia ser um hotel de cinco estrelas, crianças palestinas brincam na praia. Carroças disputam o espaço com táxis amarelos e com carros mal conservados, enquanto um grupo de homens sentados em cadeiras de plástico se prepara para uma festa de casamento. Duas semanas depois que o Hamas tomou o controle dessa pequena faixa localizada à beira do Mediterrâneo, Gaza apresenta um ar de segurança, e o número de atiradores e de postos de controle caiu bastante.
Mas sob a superfície a preocupação é imensa e as pessoas tentam divisar que futuro terão em um território que caiu em isolamento político e econômico ainda maior desde que o movimento islâmico tomou o controle.
Com o fechamento dos principais pontos de travessia na fronteira, surgiu uma escassez de produtos como arroz, açúcar e farinha. A ONU distribui suprimentos básicos, mas, com o fechamento do principal ponto de travessia comercial, em Karni, a atividade econômica normal se tornou impossível.

Dilemas
Fawzy Barhoom, porta-voz do Hamas, diz que seu movimento deseja que "equipes técnicas" do Fatah retornem aos postos de fronteira, para que eles possam ser reabertos. Um dos dilemas do Hamas, desde que venceu as eleições de 2006, é que Israel se recusa a tratar com seus militantes, o que o torna dependente do Fatah para coordenar a passagem de bens com os israelenses.
Mas essa cooperação foi suspensa quando o Hamas derrotou o Fatah em Gaza. Depois dos confrontos, Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, dissolveu o governo de unidade entre Fatah e Hamas estabelecido em março e criou uma administração de emergência para a Cisjordânia.
No domingo, Israel transferiu cerca de US$ 120 milhões em arrecadação tributária palestina ao novo governo de Abbas, que ontem começou a pagar os salários dos funcionários públicos. No entanto, milhares de trabalhadores empregados pelo Hamas nos últimos 18 meses não receberão pagamento, e os policiais em Gaza foram instruídos por Abbas a ficar em casa se quiserem receber.
Ainda assim, não são as dificuldades econômicas que parecem incomodar mais os moradores de Gaza. O que mais os preocupa é o futuro político e a causa palestina mais ampla. Muitos dizem desejar diálogo entre os grupos rivais. Mas as perspectivas de curto prazo parecem negativas. "Interessa ao Hamas conversar, mas não interessa ao Fatah, porque eles acreditam que isso reabriria as portas da legitimidade", diz Diana Buttu, analista palestina.
Raji Sourani, do Centro Palestino de Direitos Humanos, diz que, se a situação piorar, o Hamas pode perder o apoio da "área cinzenta", pessoas que não pertencem a nenhum dos dois grupos rivais. Mas também acautela contra subestimar o Hamas. "Eles estão agindo como o Hizbollah. São organizados, práticos e perfeitos nas táticas militares."


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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