São Paulo, domingo, 5 de julho de 1998

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ALEMANHA
Chanceler, segundo nas pesquisas de opinião, contrata ex-chefe do tablóide "Bild" para coordenar sua campanha
Atrás de voto, Kohl apela a sensacionalista

SILVIA BITTENCOURT
especial para a Folha, de Berlim

O democrata-cristão Helmut Kohl acaba de dar mais uma cartada para tentar se reeleger em setembro, pela quinta vez, chanceler federal da Alemanha. Kohl dispensou, no mês passado, figuras importantes de seu gabinete e contratou para a sua campanha o relações-públicas e jornalista Hans-Hermann Tiedje, 49, ex-chefe do jornal sensacionalista "Bild", o mais popular do país.
A contratação de Tiedje chocou políticos e jornalistas.
Conhecido por seus comentários inescrupulosos e pelas edições audaciosas do "Bild" durante sua gestão, Tiedje é chamado de "Rambo" nos bastidores da imprensa, em uma alusão ao violento personagem dos filmes protagonizados pelo ator de Hollywood Silvester Stallone.
Tiedje aparece agora, a menos de três meses das eleições, como uma possível arma milagrosa que poderá salvar a campanha do chanceler (premiê) alemão. Kohl vinha sofrendo nos últimos meses uma enorme perda de popularidade junto a um país com mais de 4 milhões de desempregados.
O chanceler aparece, nas principais pesquisas de opinião pública, cerca de cinco pontos percentuais atrás do candidato do Partido Social Democrata da Alemanha (SPD), Gerhard Schröder.
Os levantamentos também indicam que quase 70% dos eleitores querem agora um novo governo, depois de ter, por quase 16 anos, Helmut Kohl no poder.
"Temo que a campanha se torne ainda mais pessoal", disse Schröder à Folha, durante uma entrevista concedida a jornalistas estrangeiros, em Berlim. "Isto é um sinal de desespero e não de soberania", acrescentou, ao comentar a contratação de Hans-Hermann Tiedje.
Por enquanto, a conservadora União Democrata Cristã (CDU), de Helmut Kohl, acompanhada de sua versão bávara, a União Social Cristã (CSU), vem usando como tema de campanha o "perigo vermelho" que poderia representar a eleição do SPD.
A CDU-CSU propaga que o SPD poderá se unir, em nível federal, não apenas com os Verdes, mas também com os socialistas do PDS, assim como fez em maio passado na Saxônia-Anhalt, para garantir a maioria no Parlamento estadual.
Propagando o "perigo vermelho", a CDU-CSU derrotou o SPD nas últimas eleições, em 1994. Pesquisas indicam, porém, que este ano os eleitores alemães não se espantam tanto com uma possível cooperação entre social-democratas e socialistas.
O SPD está temendo, atualmente, que a CDU-CSU, por meio da contratação de Tiedje, vá ainda mais longe nos seus temas de campanha.
Ex-diretor das revistas de fofoca, "Bunte" e "Tango", Tiedje poderá, na opinião dos social-democratas, introduzir na campanha da CDU temas de caráter privado, como a terceira separação conjugal de Gerhard Schröder, dois anos atrás, e seu quarto casamento, com a jornalista Doris Koepf.
Correligionárias da CDU-CSU já vestem camisetas de campanha que questionam a personalidade de Schröder, avisando: "Três mulheres não se enganam".

"O frouxo!'

A contratação de Tiedje chocou até mesmo correligionários de Helmut Kohl. Afinal, na chefia do jornal "Bild", Tiedje não poupou o chanceler em algumas de suas edições.
Foi de sua responsabilidade, por exemplo, uma capa do "Bild" cujo texto principal tratava de um debate sobre aumento de impostos, no ano de 1991.
Passado o furor da reunificação do país, Kohl era acusado de descumprir a promessa de campanha de não aumentar impostos. O "Bild" ousou inverter uma foto do chanceler em pé, para que este aparecesse deitado. A manchete: "O frouxo!".
Ninguém nega, porém, a sensibilidade de Tiedje para captar o que as massas querem. Sob sua gestão, o "Bild" -hoje com quase 5 milhões de exemplares diários- aumentou em capacidade de circulação.
Além disso, desde a contratação de Tiedje -que coincidiu com o Congresso da CDU, quando o partido retomou um pouco de fôlego-, Kohl vem assistindo a uma sensível melhora nas pesquisas.
A melhora aparece como um milagre, já que a campanha democrata-cristã vinha sofrendo nos últimos meses uma série de derrotas e desgastes.
A última derrota eleitoral do chanceler aconteceu em maio, no Estado da Saxônia-Anhalt (centro do país). Ali, a CDU não só se viu derrotada mais uma vez pelo SPD, mas também perdendo votos para um grupo de extrema-direita, a DVU (União do Povo Alemão).
Com o ingresso da DVU no Parlamento da Saxônia-Anhalt, pela primeira vez um partido de extrema direita foi eleito na região da antiga Alemanha Oriental.
Em uma tentativa de aumentar sua popularidade, Kohl decidiu mudar sua equipe.
A primeira mudança foi a de porta-voz. No lugar de Peter Hausmann, até então considerado um dos mais fiéis auxiliares do chanceler, entrou o deputado Otto Hauser, conhecido por polemizar.
Hauser, porém, polemizou cedo demais.
Dias depois de sua posse, comparou os ex-comunistas alemães-orientais, reunidos hoje no Partido do Socialismo Democrático (PDS), com os nazistas.
Além disso, ameaçou os alemães orientais com cortes de verbas, caso estes continuassem votando em "extremistas".
O chanceler se irritou com as declarações de Hauser e este acabou sendo obrigado a se justificar junto à opinião pública.



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