|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ALEMANHA
Chanceler, segundo nas pesquisas de opinião, contrata ex-chefe do tablóide "Bild" para coordenar sua campanha
Atrás de voto, Kohl apela a sensacionalista
SILVIA BITTENCOURT
especial para a Folha, de Berlim
O democrata-cristão Helmut
Kohl acaba de dar mais uma cartada para tentar se reeleger em setembro, pela quinta vez, chanceler
federal da Alemanha. Kohl dispensou, no mês passado, figuras
importantes de seu gabinete e contratou para a sua campanha o relações-públicas e jornalista
Hans-Hermann Tiedje, 49,
ex-chefe do jornal sensacionalista
"Bild", o mais popular do país.
A contratação de Tiedje chocou
políticos e jornalistas.
Conhecido por seus comentários
inescrupulosos e pelas edições audaciosas do "Bild" durante sua
gestão, Tiedje é chamado de
"Rambo" nos bastidores da imprensa, em uma alusão ao violento
personagem dos filmes protagonizados pelo ator de Hollywood Silvester Stallone.
Tiedje aparece agora, a menos de
três meses das eleições, como uma
possível arma milagrosa que poderá salvar a campanha do chanceler (premiê) alemão. Kohl vinha
sofrendo nos últimos meses uma
enorme perda de popularidade
junto a um país com mais de 4 milhões de desempregados.
O chanceler aparece, nas principais pesquisas de opinião pública,
cerca de cinco pontos percentuais
atrás do candidato do Partido Social Democrata da Alemanha
(SPD), Gerhard Schröder.
Os levantamentos também indicam que quase 70% dos eleitores
querem agora um novo governo,
depois de ter, por quase 16 anos,
Helmut Kohl no poder.
"Temo que a campanha se torne
ainda mais pessoal", disse Schröder à Folha, durante uma entrevista concedida a jornalistas estrangeiros, em Berlim. "Isto é um
sinal de desespero e não de soberania", acrescentou, ao comentar a
contratação de Hans-Hermann
Tiedje.
Por enquanto, a conservadora
União Democrata Cristã (CDU),
de Helmut Kohl, acompanhada de
sua versão bávara, a União Social
Cristã (CSU), vem usando como
tema de campanha o "perigo vermelho" que poderia representar a
eleição do SPD.
A CDU-CSU propaga que o SPD
poderá se unir, em nível federal,
não apenas com os Verdes, mas
também com os socialistas do
PDS, assim como fez em maio passado na Saxônia-Anhalt, para garantir a maioria no Parlamento estadual.
Propagando o "perigo vermelho", a CDU-CSU derrotou o SPD
nas últimas eleições, em 1994. Pesquisas indicam, porém, que este
ano os eleitores alemães não se espantam tanto com uma possível
cooperação entre social-democratas e socialistas.
O SPD está temendo, atualmente, que a CDU-CSU, por meio da
contratação de Tiedje, vá ainda
mais longe nos seus temas de campanha.
Ex-diretor das revistas de fofoca,
"Bunte" e "Tango", Tiedje poderá, na opinião dos social-democratas, introduzir na campanha da
CDU temas de caráter privado, como a terceira separação conjugal
de Gerhard Schröder, dois anos
atrás, e seu quarto casamento,
com a jornalista Doris Koepf.
Correligionárias da CDU-CSU já
vestem camisetas de campanha
que questionam a personalidade
de Schröder, avisando: "Três mulheres não se enganam".
"O frouxo!'
A contratação de Tiedje chocou
até mesmo correligionários de
Helmut Kohl. Afinal, na chefia do
jornal "Bild", Tiedje não poupou
o chanceler em algumas de suas
edições.
Foi de sua responsabilidade, por
exemplo, uma capa do "Bild" cujo texto principal tratava de um
debate sobre aumento de impostos, no ano de 1991.
Passado o furor da reunificação
do país, Kohl era acusado de descumprir a promessa de campanha
de não aumentar impostos. O
"Bild" ousou inverter uma foto
do chanceler em pé, para que este
aparecesse deitado. A manchete:
"O frouxo!".
Ninguém nega, porém, a sensibilidade de Tiedje para captar o
que as massas querem. Sob sua
gestão, o "Bild" -hoje com quase 5 milhões de exemplares diários- aumentou em capacidade
de circulação.
Além disso, desde a contratação
de Tiedje -que coincidiu com o
Congresso da CDU, quando o partido retomou um pouco de fôlego-, Kohl vem assistindo a uma
sensível melhora nas pesquisas.
A melhora aparece como um milagre, já que a campanha democrata-cristã vinha sofrendo nos últimos meses uma série de derrotas
e desgastes.
A última derrota eleitoral do
chanceler aconteceu em maio, no
Estado da Saxônia-Anhalt (centro
do país). Ali, a CDU não só se viu
derrotada mais uma vez pelo SPD,
mas também perdendo votos para
um grupo de extrema-direita, a
DVU (União do Povo Alemão).
Com o ingresso da DVU no Parlamento da Saxônia-Anhalt, pela
primeira vez um partido de extrema direita foi eleito na região da
antiga Alemanha Oriental.
Em uma tentativa de aumentar
sua popularidade, Kohl decidiu
mudar sua equipe.
A primeira mudança foi a de
porta-voz. No lugar de Peter
Hausmann, até então considerado
um dos mais fiéis auxiliares do
chanceler, entrou o deputado Otto
Hauser, conhecido por polemizar.
Hauser, porém, polemizou cedo
demais.
Dias depois de sua posse, comparou os ex-comunistas alemães-orientais, reunidos hoje no
Partido do Socialismo Democrático (PDS), com os nazistas.
Além disso, ameaçou os alemães
orientais com cortes de verbas, caso estes continuassem votando em
"extremistas".
O chanceler se irritou com as declarações de Hauser e este acabou
sendo obrigado a se justificar junto à opinião pública.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|