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São Paulo, domingo, 05 de outubro de 2003

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Déficit e apagão são origem da crise política

DA ENVIADA ESPECIAL A LOS ANGELES

Uma combinação de déficit orçamentário e problemas no setor energético criou o ambiente para a crescente impopularidade do governador Gray Davis. Esse descontentamento com a sua administração pode lhe custar o cargo no "recall" de 7 de outubro.
Durante os primeiros quatro anos de mandato de Davis, os gastos públicos do Estado da Califórnia cresceram aproximadamente 40%, passando para US$ 20 bilhões. A receita, porém, não acompanhou esse ritmo e cresceu 25% no período.
À expansão das despesas orçamentárias somou-se o problema energético. A desregulamentação do setor, iniciada em 1996, não contemplou investimentos para suprir a crescente demanda no Estado. O descompasso culminou com um blecaute na Califórnia em 2001, quando Davis já era governador.
O problema energético foi herdado de administrações anteriores, mas as críticas recaíram sobre como Davis lidou com a crise.
Uma série de aumentos nas tarifas de energia, autorizada pelo governo do Estado, se seguiu ao apagão. Além disso, atado pelo aumento das despesas no orçamento, Davis não teve margem de manobra para, por exemplo, realizar investimentos na melhoria das linhas de transmissão de energia.
"Ele [Davis] não deveria ter aumentado os gastos orçamentários de forma tão rápida e tão expressiva. O fato de que os consumidores tiveram de pagar tarifas cada vez mais altas também fez com que a economia freasse", analisa Michael Donnely, economista sênior da consultoria norte-americana Global Insight.
Para explicar o déficit, o principal argumento dos democratas é o de que as despesas cresceram para financiar programas sociais, sobretudo na área de educação e no sistema presidiário. O governador diz que, entre 2002 e 2003, o investimento no ensino fundamental cresceu 16%. As cifras, entretanto, não foram suficientes para convencer os eleitores.

Estouro da bolha
Outro problema que contribuiu para minar a pujança da economia californiana foi o estouro da bolha das ações das empresas de tecnologia, em 2000. A expansão dos gastos do governo da Califórnia foi largamente financiada pela "nova economia".
A derrocada desse mercado fez encolher o número de empregos do Vale do Silício, locomotiva das empresas de tecnologia, e também dragou a receita com arrecadação de impostos da Califórnia.
"Com o estouro da bolha, a receita caiu drasticamente e deixou a Califórnia com um enorme buraco financeiro. Nesse ano, o plano de Davis era pedir empréstimos de US$ 12 bilhões. Mas essa é apenas uma solução paliativa", afirma Donnely.
Para contornar a crise, não há soluções mágicas. Com relação ao setor energético, Donnely e um coro de outros especialistas recomendam investimentos urgentes em linhas de transmissão de energia e revisão de regras de preços para o setor atacadista. Quanto ao déficit, a receita é mais amarga e prescreve ajustes fiscais drásticos.


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