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Migrantes ajudam mais que países ricos
Remessas de dinheiro feitas por emigrantes para seus países de origem são quatro vezes maiores que ajuda oficial ao desenvolvimento
Maiores beneficiários de remessas de divisas são países de médio e alto IDH, e não os mais pobres, que têm taxa de emigração menor
DA SUCURSAL DO RIO
A Safaricom, companhia de
telefones celulares do Quênia,
ganha dinheiro facilitando a vida de famílias que têm parentes
no exterior ou em cidades distantes. Por meio do serviço Mobile-Cash, lançado há dois
anos, seus agentes distribuem
aos usuários da empresa dinheiro depositado, por celular,
pelos emigrantes.
O bem-sucedido negócio é
contado pelo Pnud (Programa
da ONU para o Desenvolvimento) no capítulo do relatório
sobre migrações que analisa a
importância das remessas para
os países em desenvolvimento.
Segundo o relatório, o valor
total desses envios equivaleu
em 2007 a quatro vezes a ajuda
oficial ao desenvolvimento, desembolsada principalmente
pelos países mais ricos. Na
América Latina e no Caribe, as
remessas equivaleram a 60%
da soma da ajuda internacional
e dos investimentos diretos.
Em 2008, as remessas totalizaram US$ 308 bilhões, mas,
por causa da crise econômica,
devem cair neste ano para US$
293 bilhões.
O Pnud não recomenda que
governos contem com as remessas em seus projetos de desenvolvimento, mas reconhece
sua importância permanente
em países com menos de 1,5 milhão de habitantes, que têm a
mais alta taxa de emigração em
relação ao total da população,
de em média 18,4%, contra a
média mundial de 3%.
Entre os países que hoje mais
dependem de remessas de emigrantes estão Egito, Bangladesh, El Salvador e Filipinas.
Os recordistas são Moldova
(leste da Europa) e Tadjiquistão (Ásia Central), onde as remessas correspondem respectivamente a 45% e 38% do PIB
(Produto Interno Bruto).
Custo e pobreza
Os envios contribuem, entre
outras coisas, para aumentar a
escolaridade dos filhos de emigrados que ficam no país de origem. Mas uma das ironias
apontadas pelo Pnud é que as
populações dos 23 países classificados como de baixo desenvolvimento humano, a maioria
na África, não são as principais
beneficiadas pelas remessas.
Isso acontece porque emigrar custa caro, e a maioria dos
que tentam a sorte no exterior
sai dos países de médio e alto
desenvolvimento -80% deles
para destinos com posição superior no ranking do IDH, mesmo que na mesma categoria.
A taxa de emigração nos países de baixo desenvolvimento
humano é de 4%, contra 8% nos
44 países de alto desenvolvimento humano. No paupérrimo Congo, por exemplo, um
passaporte pode custar até US$
500 em propinas, o dobro do
PIB per capita (em poder de paridade de compra).
Ir do Vietnã, país de médio
desenvolvimento, para o Japão,
pode custar o equivalente a seis
anos e cinco meses de salário
médio. Da Colômbia, país de alto desenvolvimento humano,
para a Espanha, um ano e oito
meses.
Golfo e exploração
O relatório do Pnud confirma
que os imigrantes menos qualificados são também os que
mais sofrem abusos.
Nos seis países petrolíferos
do Conselho de Cooperação do
Golfo [Pérsico], por exemplo,
os estrangeiros chegam hoje a
38,6% da população.
São na maioria operários ou
trabalhadores domésticos vindos sem a família de países como Filipinas, Indonésia e Paquistão. Sob o sistema chamado de "kafala", o empregador é
legalmente responsável por
eles e pode determinar sua expulsão se julgar que violaram o
contrato.
(CA)
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