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São Paulo, quarta-feira, 05 de novembro de 2003

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Arsenal iraquiano alimenta mercado clandestino

JACQUES ISNARD
DO "LE MONDE"

A CIA (serviço de inteligência dos EUA) fez um cálculo, no início do mês passado, estimando em até 1 milhão de toneladas os estoques de armas e munições que, segundo seus agentes, as forças iraquianas teriam escondido no território do país, antes mesmo do início da guerra contra o regime de Saddam Hussein, no final de março.
De acordo com a mesma fonte, esse total representaria um terço dos estoques de armas que possui o Exército dos EUA em território americano.
Essa avaliação é baseada no conjunto de meios -veículos de todo tipo, aviões e helicópteros- que a CIA estimava que o Iraque possuísse antes do início do conflito. A estimativa da CIA parece ter sido desmentida pelo que se descobriu, desde então, sobre o verdadeiro estado do arsenal iraquiano.
De fato, os anos de embargo econômico -estabelecido após a invasão iraquiana do Kuait, em agosto de 1990- e as dificuldades financeiras de Bagdá provocadas pelo controle sobre sua receita petrolífera contribuíram para obrigar o Iraque a empreender vias complicadas e pouco confiáveis para modernizar suas forças.
Apesar disso, as forças americanas lançaram em maio uma grande busca, em todo o Iraque, para tentar descobrir esconderijos de armas e recuperar os equipamentos ainda em estado utilizável. Essa busca as levou a percorrer escolas, hospitais e mesquitas -onde supostamente estariam guardados estoques de armas-, com frequência partindo de denúncias feitas por antigos soldados ou vizinhos.
Consta que os americanos teriam distribuído US$ 1 milhão em recompensas às pessoas que lhes forneceram essas informações. A recompensa média é de US$ 500 por estoque de armas descoberto.

Mercado clandestino
Não foi revelada a quantidade exata e o total das armas recuperadas. Sabe-se apenas que, além de alguns veículos blindados e aviões enterrados propositalmente debaixo da areia ou envoltos em redes que, supostamente, os protegeriam, as forças americanas conseguiram retirar dos estoques aos quais tiveram acesso obuses de todos os calibres, armas automáticas, foguetes antitanque, minas, granadas, morteiros, explosivos comandados à distância ou contendo armadilhas e mísseis antiaéreos fixos ou portáteis.
Os mísseis terra-ar portáteis, disparados desde o ombro de um soldado -Stinger americano, Strela SA-7 russo ou Mistral francês- são ferramentas militares especialmente temidas.
De acordo com um documento do Exército americano divulgado antes do ataque contra o helicóptero Chinook a oeste de Bagdá -que matou 15 americanos, no último domingo-, cerca de 300 mísseis terra-ar teriam sido apreendidos desde maio, quando George Bush declarou concluídas as principais operações militares no Iraque.
Existe um mercado clandestino para esse tipo de armamento, e mais de 100 mil unidades dele foram exportadas por seus fabricantes nos últimos 15 anos. Um SA-7 era vendido por US$ 5.000. De acordo com o Centro de Informações sobre o Terrorismo, de Londres, 30 redes terroristas possuem esses mísseis. Os aviões comerciais e militares podem ser alvejados por eles.


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