São Paulo, domingo, 05 de novembro de 2006

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Árabes lançam corrida nuclear, diz jornal

"Times" afirma que plano foi anunciado à AIEA por Egito, Argélia, Tunísia, Marrocos, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos

Para especialista, intenção dos seis países é construir barreira de segurança para se contrapor a programa suspeito do regime iraniano

DA REDAÇÃO

A AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) foi informada na sexta-feira que seis países árabes decidiram, quase simultaneamente, desenvolver programas nucleares. O documento com essa revelação foi obtido pelo jornal "Times", de Londres, que aponta como candidatos à corrida tecnológica a Argélia, o Egito, o Marrocos, a Arábia Saudita, a Tunísia e os Emirados Árabes Unidos.
A agência, que funciona dentro da ONU para questões de não-proliferação, foi informada de que os seis Estados pretendem construir usinas termonucleares para a produção de eletricidade. Não recai sobre nenhum deles a suspeita imediata de pretender militarizar seu programa ou se engajar na construção da bomba.
Mesmo assim, Richard Beeston, editor de diplomacia no jornal britânico e autor da reportagem, afirma que essa intenção tem algo a ver com o fracasso dos ocidentais em impedir que o Irã atingisse um domínio tecnológico que o capacitaria a explodir um artefato.
Os países árabes do Oriente Médio e da África do Norte sinalizam que pretendem, mesmo que de forma defensiva, dotar-se também da mesma capacitação tecnológica.
O Tratado de Não-Proliferação permite que qualquer país utilize a energia nuclear com finalidades pacíficas, desde que abra suas instalações a inspeções internacionais. O "Times", porém, diz que a súbita corrida de tantos países ao mesmo tempo levanta a suspeita de que pode haver um esforço de se construir uma bomba árabe.
Tomihiro Taniguch, vice-diretor-geral da AIEA, afirmou ao semanário "Middle East Economic Digest" que o Egito, o Marrocos, a Argélia e a Arábia Saudita canalizariam a energia gerada pelos reatores, "em princípio", para projetos de dessalinizar da água do mar.
Esse grupo chegou a manter contatos com técnicos da agência para se informar sobre o tipo de reator mais apropriado.

Barreira
Mas Mark Fitzpatrick, especialista em proliferação nuclear no IISS (Instituto Internacional de Estudos Estratégicos), avalia que esses países procuram, ao terem acesso simultâneo à tecnologia, construir uma "barreira de segurança" contra o Irã. Fitzpatrick afirmou ainda que, "caso o Irã não tivesse atingido sua atual capacitação na área nuclear, não estaríamos assistindo a essa corrida".
O jornal britânico diz que o anúncio feito pelos seis países à AIEA representa uma reviravolta na política até agora observada no mundo árabe, que consistia em manter o Oriente Médio desnuclearizado. Israel é o único país da região a ter um programa nuclear com fins militares, possuindo supostamente algo em torno de 200 ogivas em estado operacional.
A intenção anterior de manter a região desnuclearizada era também um instrumento de pressão para que Israel abrisse mão de seu arsenal.
"Os cálculos da região foram dramaticamente modificados neste ano", diz o jornal. "O Irã, sob a chefia do presidente Ahmadinejad, desafiou pressões da comunidade internacional e se engajou num processo de enriquecimento de urânio que poderá produzir material físsil, necessário à arma nuclear."
Será fundamental identificar agora se os seis países árabes pretendem importar combustível de um dos grandes fornecedores ou se querem enriquecer seu próprio urânio, o que criaria tensões semelhantes às que hoje envolvem o Irã e a Coréia do Norte.


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