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Árabes lançam corrida nuclear, diz jornal
"Times" afirma que plano foi anunciado à AIEA por Egito, Argélia, Tunísia, Marrocos, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos
Para especialista, intenção dos seis países é construir barreira de segurança para se contrapor a programa suspeito do regime iraniano
DA REDAÇÃO
A AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) foi informada na sexta-feira que seis
países árabes decidiram, quase
simultaneamente, desenvolver
programas nucleares. O documento com essa revelação foi
obtido pelo jornal "Times", de
Londres, que aponta como candidatos à corrida tecnológica a
Argélia, o Egito, o Marrocos, a
Arábia Saudita, a Tunísia e os
Emirados Árabes Unidos.
A agência, que funciona dentro da ONU para questões de
não-proliferação, foi informada de que os seis Estados pretendem construir usinas termonucleares para a produção
de eletricidade. Não recai sobre
nenhum deles a suspeita imediata de pretender militarizar
seu programa ou se engajar na
construção da bomba.
Mesmo assim, Richard Beeston, editor de diplomacia no
jornal britânico e autor da reportagem, afirma que essa intenção tem algo a ver com o fracasso dos ocidentais em impedir que o Irã atingisse um domínio tecnológico que o capacitaria a explodir um artefato.
Os países árabes do Oriente
Médio e da África do Norte sinalizam que pretendem, mesmo que de forma defensiva, dotar-se também da mesma capacitação tecnológica.
O Tratado de Não-Proliferação permite que qualquer país
utilize a energia nuclear com finalidades pacíficas, desde que
abra suas instalações a inspeções internacionais. O "Times",
porém, diz que a súbita corrida
de tantos países ao mesmo
tempo levanta a suspeita de
que pode haver um esforço de
se construir uma bomba árabe.
Tomihiro Taniguch, vice-diretor-geral da AIEA, afirmou
ao semanário "Middle East
Economic Digest" que o Egito,
o Marrocos, a Argélia e a Arábia
Saudita canalizariam a energia
gerada pelos reatores, "em
princípio", para projetos de
dessalinizar da água do mar.
Esse grupo chegou a manter
contatos com técnicos da agência para se informar sobre o tipo de reator mais apropriado.
Barreira
Mas Mark Fitzpatrick, especialista em proliferação nuclear
no IISS (Instituto Internacional de Estudos Estratégicos),
avalia que esses países procuram, ao terem acesso simultâneo à tecnologia, construir uma
"barreira de segurança" contra
o Irã. Fitzpatrick afirmou ainda
que, "caso o Irã não tivesse
atingido sua atual capacitação
na área nuclear, não estaríamos
assistindo a essa corrida".
O jornal britânico diz que o
anúncio feito pelos seis países à
AIEA representa uma reviravolta na política até agora observada no mundo árabe, que
consistia em manter o Oriente
Médio desnuclearizado. Israel
é o único país da região a ter um
programa nuclear com fins militares, possuindo supostamente algo em torno de 200 ogivas
em estado operacional.
A intenção anterior de manter a região desnuclearizada era
também um instrumento de
pressão para que Israel abrisse
mão de seu arsenal.
"Os cálculos da região foram
dramaticamente modificados
neste ano", diz o jornal. "O Irã,
sob a chefia do presidente Ahmadinejad, desafiou pressões
da comunidade internacional e
se engajou num processo de
enriquecimento de urânio que
poderá produzir material físsil,
necessário à arma nuclear."
Será fundamental identificar
agora se os seis países árabes
pretendem importar combustível de um dos grandes fornecedores ou se querem enriquecer seu próprio urânio, o que
criaria tensões semelhantes às
que hoje envolvem o Irã e a Coréia do Norte.
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