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Visando petróleo, chineses alimentam a reconstrução
DO ENVIADO ESPECIAL A LUANDA
Às 8h de segunda-feira, o trabalho nos trilhos que ligarão
Luanda a Malange, no centro
de Angola, já está em ritmo acelerado. Dez angolanos batem
pinos e apertam parafusos na
manhã de sol forte. Mas quem
dá as ordens são dois chineses
sentados a alguns metros, sobre um trator, na sombra. Não
querem conversa com a Folha.
"[Português] Falo pouco, pouco. Obrigado."
A dois quilômetros dali, Zhao
Anzhong é mais acessível. Ele
coordena mais uma megaobra
angolana tocada com dinheiro
chinês, o Palácio da Justiça,
com 17 andares. Há 80 trabalhadores chineses, que ficarão
18 meses em Angola. "A vida é
boa. Vivemos no nosso próprio
complexo fechado, com piscina
e academia. Temos nossa horta
para plantar repolho e vegetais
verdes", diz Anzhong, representante da construtora estatal
China Jiangsu.
A linha férrea, o Palácio da
Justiça e mais 50 obras públicas de grande porte, muitas
destruídas durante a guerra,
são quase um presente dos chineses aos angolanos. Incluem
ainda o novo aeroporto de
Luanda, o novo campus universitário e a pavimentação de
estradas. São financiadas por
uma linha de crédito chinesa
de US$ 4,5 bilhões. A contrapartida é que o petróleo angolano escoe cada vez mais rápido para os portos chineses.
A aliança sino-angolana é
vistosa em Angola. Há inúmeras obras com placas bilíngües,
em português e mandarim. Oficiais e supervisores chineses
circulam em furgões negros
Nissan Paladin, com as iniciais
do Grupo de Reconstrução Nacional da Presidência -que
eles deram aos angolanos.
Sem cobrança
Hoje os chineses ocupam um
lugar que já foi dos portugueses, soviéticos e cubanos. O regime ditatorial chinês não faz
perguntas embaraçosas sobre
democracia. Os angolanos, sem
eleições há 15 anos e com o
mesmo presidente há quase 30,
não escondem a satisfação.
Estimativas falam em 20 mil
chineses hoje em Angola. A
aliança econômica vai bem,
mas a integração cultural ainda
é difícil. Nas raras folgas, a
mão-de-obra que faz o serviço
pesado e fala pouco inglês e
quase nenhum português fica
nos quartos coletivos nos complexos montados pelas empresas. O salário de US$ 1.000
mensais compensa.
"Os chineses chegam, trabalham e voltam para seus refúgios. Não os vemos", diz Osvaldo Miguel, morador de uma favela vizinha à obra dos trilhos.
Já os engenheiros e arquitetos
são encontrados no Chez-Wou,
um restaurante oriental de alto
padrão que vive lotado.
Na última edição da feira
Constroi, em Luanda, chineses
em grupo olhavam estandes de
construtoras. Um deles, Weiping He, de Xangai, encantou-se com um duplex. "Quanto
custa?", perguntou ao repórter
da Folha, por engano. Há três
anos em Angola, He trabalha
para o Ministério de Obras Públicas chinês. "Angola é muito
bom para os negócios. É tudo
muito fácil de vender aqui."
(FZ)
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