São Paulo, segunda-feira, 05 de novembro de 2007

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Visando petróleo, chineses alimentam a reconstrução

DO ENVIADO ESPECIAL A LUANDA

Às 8h de segunda-feira, o trabalho nos trilhos que ligarão Luanda a Malange, no centro de Angola, já está em ritmo acelerado. Dez angolanos batem pinos e apertam parafusos na manhã de sol forte. Mas quem dá as ordens são dois chineses sentados a alguns metros, sobre um trator, na sombra. Não querem conversa com a Folha. "[Português] Falo pouco, pouco. Obrigado."
A dois quilômetros dali, Zhao Anzhong é mais acessível. Ele coordena mais uma megaobra angolana tocada com dinheiro chinês, o Palácio da Justiça, com 17 andares. Há 80 trabalhadores chineses, que ficarão 18 meses em Angola. "A vida é boa. Vivemos no nosso próprio complexo fechado, com piscina e academia. Temos nossa horta para plantar repolho e vegetais verdes", diz Anzhong, representante da construtora estatal China Jiangsu.
A linha férrea, o Palácio da Justiça e mais 50 obras públicas de grande porte, muitas destruídas durante a guerra, são quase um presente dos chineses aos angolanos. Incluem ainda o novo aeroporto de Luanda, o novo campus universitário e a pavimentação de estradas. São financiadas por uma linha de crédito chinesa de US$ 4,5 bilhões. A contrapartida é que o petróleo angolano escoe cada vez mais rápido para os portos chineses.
A aliança sino-angolana é vistosa em Angola. Há inúmeras obras com placas bilíngües, em português e mandarim. Oficiais e supervisores chineses circulam em furgões negros Nissan Paladin, com as iniciais do Grupo de Reconstrução Nacional da Presidência -que eles deram aos angolanos.

Sem cobrança
Hoje os chineses ocupam um lugar que já foi dos portugueses, soviéticos e cubanos. O regime ditatorial chinês não faz perguntas embaraçosas sobre democracia. Os angolanos, sem eleições há 15 anos e com o mesmo presidente há quase 30, não escondem a satisfação.
Estimativas falam em 20 mil chineses hoje em Angola. A aliança econômica vai bem, mas a integração cultural ainda é difícil. Nas raras folgas, a mão-de-obra que faz o serviço pesado e fala pouco inglês e quase nenhum português fica nos quartos coletivos nos complexos montados pelas empresas. O salário de US$ 1.000 mensais compensa.
"Os chineses chegam, trabalham e voltam para seus refúgios. Não os vemos", diz Osvaldo Miguel, morador de uma favela vizinha à obra dos trilhos. Já os engenheiros e arquitetos são encontrados no Chez-Wou, um restaurante oriental de alto padrão que vive lotado.
Na última edição da feira Constroi, em Luanda, chineses em grupo olhavam estandes de construtoras. Um deles, Weiping He, de Xangai, encantou-se com um duplex. "Quanto custa?", perguntou ao repórter da Folha, por engano. Há três anos em Angola, He trabalha para o Ministério de Obras Públicas chinês. "Angola é muito bom para os negócios. É tudo muito fácil de vender aqui." (FZ)


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