São Paulo, quarta-feira, 05 de novembro de 2008

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Sem fila, brasileiro vota em Obama vendo características comuns com Lula

FABIANO MAISONNAVE
EM FRAMINGHAM (MASSACHUSETTS)

Dono de uma imobiliária em Framingham, o empresário brasileiro Pablo Maia e a sua mulher, Arleuza, foram em 2006 ao consulado do país em Boston para depositar o voto em Luiz Inácio Lula da Silva.
Dois anos depois, foi a vez de o casal marcar o candidato democrata Barack Obama numa escola judaica de Framingham, cidade da região metropolitana da capital de Massachusetts (nordeste dos EUA).
"Obama e Lula têm algumas características parecidas. São pessoas pobres, que vieram de baixo. Não é como George Bush, um milionário", diz Maia, que ontem teve a companhia da filha Tracy. Nascida há 19 anos nos EUA, a estudante de biologia também depositou seu primeiro voto no democrata.
Ao contrário de outras partes do país, a seção eleitoral onde vota a família Maia estava sem filas. Do lado de fora, uma solitária simpatizante de Obama, vestida com camiseta da campanha e segurando quatro cartazes de apoio ao democrata -em Massachusetts, a propaganda boca-de-urna não é proibida. Tampouco há lei seca.
"Eu moro há 43 anos em Framingham e sei o que os brasileiros fizeram pela rua principal. Muito obrigada", diz a militante democrata à família, em referência à intensa atividade comercial levada pela comunidade "brazuca" ao centro.
Os Maia fazem parte de uma minoria da comunidade brasileira em Massachusetts. Segundo dados compilados pela ONG Grupo Mulher Brasileira, até setembro havia 944 brasileiros naturalizados americanos, numa comunidade estimada entre 100 mil e 200 mil imigrantes. Ao todo, o Estado tem mais de 4 milhões de eleitores.
Para a presidente da ONG, Heloisa Maria Galvão, o número é pequeno, "mas, se chegarmos a 1.100, já poderemos eleger um vereador. E quem sabe um dia teremos um governador brasileiro em Massachusetts?", sonha.

Crise
Como boa parte do comércio brasileiro, a imobiliária da família Maia está na na rua principal de Framingham, epicentro da vida imigrante ali. Mesmo assim, a poucos metros, no posto de votação instalado na prefeitura, a lista de eleitores trazia apenas um sobrenome de origem portuguesa em meio a várias centenas de inscritos.
Há 27 anos nos EUA, Maia, 49, é o único representante brasileiro entre os cerca de 300 membros do conselho da cidade de 67 mil habitantes, dos quais cerca de 15% vindos do Brasil. Espécie de Câmara Municipal ampliada, uma de suas funções é aprovar o orçamento.
Trabalhando num dos setores mais atingidos pela crise econômica americana, Maia acredita que a origem dos problemas não seja a "bolha" imobiliária, mas a incerteza sobre o futuro dos imigrantes ilegais.
"A crise começou quando a lei a favor dos imigrantes não foi aprovada. Somos os maiores consumidores. Se eles dizem que entram por dia 100 mil imigrantes em Nova York, esses 100 mil vão ter de comprar 100 mil TVs, 100 mil geladeiras, 100 mil sofás. Quando a lei foi vetada, pararam de comprar. Como comprar uma televisão hoje se amanhã pode ir embora?"


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