São Paulo, quarta-feira, 05 de novembro de 2008

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Na Califórnia, eleição vira dia de gays se casarem

Estado fez ontem referendo que pode proibir matrimônio entre homossexuais

Uniões são legais desde junho; consulta eclipsou pleito presidencial, já que vitória de Obama era dada como certa na Califórnia


VALDO CRUZ
ENVIADO ESPECIAL A SAN FRANCISCO

Com a previsão de vitória tranqüila do democrata Barack Obama no Estado, a atenção dos eleitores da Califórnia ontem estava voltada para outra votação: da proposta que tenta proibir definitivamente o casamento gay. Com receio de serem derrotados, dezenas de casais de gays e lésbicas decidiram se casar ontem no prédio da Prefeitura de San Francisco.
O centro administrativo da cidade, que no dia anterior estava tomado por eleitores buscando votar antecipadamente, ontem parecia mais uma festa gay. No hall do prédio e no seu mezanino, era possível assistir a três ou quatro celebrações de casamento simultaneamente.
Do lado de fora, o clima era o mesmo. Dezenas de cartazes defendiam o voto contra a proibição do casamento gay na Califórnia, dando boas-vindas aos casais de homossexuais que chegavam e saíam a todo momento da prefeitura. Enquanto isso, apenas um manifestante pedia votos para Barack Obama -e nenhum para John McCain.
"Hoje é um grande dia, não sabemos se amanhã estaremos novamente proibidos de casar", disse Henry Hopkins, 67, ao comentar a votação de uma proposta de emenda à Constituição estadual proibindo definitivamente o casamento gay na progressista Califórnia.
Desde junho, após decisão da Suprema Corte da Califórnia, o casamento entre pessoas do mesmo sexo está liberado no Estado. Milhares de gays e lésbicas se casaram desde então. Ontem, segundo a juíza de paz Esterela Bryant, era considerado um dia especial por causa da votação da chamada proposta oito, apresentada por grupos religiosos.
"Estou celebrando um casamento de gays e lésbicas a cada quinze minutos. Contando ainda meus colegas [pelo menos mais quatro estavam oficiando casamentos na manhã de ontem], teremos com certeza centenas de uniões", afirmou Bryant. Hopkins, por sinal, fazia questão de dizer que o casamento de seus amigos tinha o registro de número 500 do dia.
Entre todos os casais de gays e lésbicas, acompanhados de familiares e amigos, o voto em Barack Obama era consensual. "Claro que votei em Obama, ele significa o futuro e é muito aberto às questões sociais", disse Carlos Pérez, 45, acompanhado de seu marido. "Obama é mais sensível às nossas preocupações", disse Brittany Ceres.

Todos por Obama
Quanto ao resultado da eleição presidencial, todos confiam na vitória do candidato democrata. Sobre a proposta que tenta proibir o casamento gay na Califórnia, ninguém apostava um palpite. "O resultado é imprevisível, os grupos religiosos gastaram milhões de dólares em anúncios na TV nos últimos dias a favor da proposta e a diferença diminuiu muito", afirmou Hopkins, casado há 17 anos com um homem, depois de viver 16 com uma mulher.
As últimas pesquisas apontavam um empate entre os dois lados, que arrecadaram cerca de US$ 70 milhões. "A diferença é muito pequena. Seria muito importante ganharmos aqui, porque a Califórnia é um Estado que sempre está na vanguarda. Se vencermos, aos poucos os demais Estados iriam nos acompanhar", disse Hopkins.
Juíza de paz, Rosewind Veilove disse que a diferença entre os dois lados é tão pequena que talvez o resultado só seja conhecido dentro de dois dias. Até lá, os homossexuais ficarão na dúvida se suas uniões vão continuar liberadas.

16%
da população dos Estados Unidos não tem convênio ou seguro médico, o que significa aproximadamente 47 milhões de pessoas

24%
é a contribuição atual dos EUA ao PIB mundial, a soma das riquezas produzidas no planeta; em 2000, ela era de 30,85%

12ª
é a colocação atual dos EUA no Índice de Desenvolvimento Humano elaborado pela ONU; em 2000, o país estava em 3º lugar

1 mi
de americanos perderam suas casas na crise de crédito, e há ainda cerca de 1,5 milhão de devedores sendo processados atualmente


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