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Pacto nuclear EUA-Rússia expira sem acordo
Países dizem que manterão princípios do Start-1, que limita arsenais nucleares estratégicos, até elaboração de novo tratado
Preocupação é mais política do que de segurança; na ausência de novo tratado, conversas têm melhorado relações entre as potências
ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO
Apesar das promessas de colaboração, no dia em que expira
o mais importante tratado de
redução de armas nucleares em
vigor entre EUA e Rússia, os
presidentes americano, Barack
Obama, e russo, Dmitri Medvedev, se veem hoje sem um acordo substituto à altura.
Os dois lados não foram capazes de firmar antecipadamente um acordo temporário
para substituir o Start-1 (Tratado de Redução de Armas Estratégicas, na sigla em inglês), o
que deixa as potências aptas a
rejeitar checagens em suas armas pelo outro lado e mina, ao
menos por algum tempo, o forte significado do compromisso
com o controle nuclear.
EUA e Rússia esperam um
acordo temporário até o final
do ano. Um tratado substituto
demorará um pouco mais, por
ser necessária ratificação nos
Legislativos dos dois países.
Boa parte da pressa tem cunho político e não de segurança, sendo motivada pela proximidade de uma cúpula sobre
segurança nuclear global em
Washington em abril e da conferência que revisará o Tratado
de Não Proliferação Nuclear,
em Nova York, em maio.
A credibilidade de Washington e de Moscou em tais encontros será afetada se ambos não
fizerem sua parte para a redução das armas nucleares, especialmente quando avaliam punições a programas nucleares
do Irã e da Coreia do Norte.
Para os EUA, seria produtivo
também alcançar um tratado
de redução de armas antes da
cerimônia em que Obama recebe o Nobel da Paz no próximo
dia 10, em Oslo, num momento
em que a Casa Branca decidiu
enviar mais 30 mil soldados para a guerra no Afeganistão.
Para a Rússia, a questão é
ainda mais vital, dado o envelhecimento de seu arsenal nuclear estratégico e as deficiências de sua força convencional
-o que é fator complicador para as negociações.
"Os russos estão contando
cada vez mais com um grande
arsenal nuclear tático [de alcance limitado] para suprir deficiências das forças convencionais. Mas os EUA relutam em
limitar demais suas ogivas nucleares estratégicas [de longo
alcance e decisivas em caso de
guerra] diante da força tática
russa", afirma Charles Ferguson, especialista nuclear do
Council on Foreign Relations.
Paliativo
Ferguson não espera um
acordo substituto do Start-1
muito ambicioso, mas há sinais
de boa vontade mútua. Em julho, Obama e Medvedev firmaram diretrizes para um novo
tratado que limite o número de
ogivas em 1.500 a 1.675 e de
mísseis em 500 a 1.100.
Pelo Start-1, os arsenais estratégicos podem chegar a
1.600 mísseis e 6.000 ogivas
nucleares, e há complexas regras de contagem e checagem.
A Casa Branca e o Kremlin
informaram ontem que pretendem "continuar a trabalhar
juntos no espírito do Start-1
após sua expiração".
Mas as negociações ainda esbarram em problemas técnicos
e políticos. Enquanto a situação doméstica nos EUA e na
Rússia é bem diferente de julho
de 1991, quando o Start-1 foi assinado, alterações tecnológicas
e de desarmamento criaram
novas necessidades nas regras
de contagem e verificação.
Preocupa os russos a existência de arsenais convencionais
(não nucleares) americanos
considerados potenciais ameaças estratégicas à Rússia. Aparentemente, Moscou também
prefere diminuir o nível de intrusão das verificações e não vê
com bons olhos planos para sistemas de defesa.
Ainda assim, para Steven Pifer, ex-embaixador dos EUA na
Ucrânia e membro visitante do
Instituto Brookings, em Washington, o substituto do Start-1
será o "último acordo "fácil'" sobre arsenais nucleares. "Quanto mais baixamos os limites,
mais ganham importância arsenais táticos, de terceiros países e sistemas de defesa" afirma. "Negociações que abordem
esses pontos serão muito mais
complicadas."
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