São Paulo, sábado, 05 de dezembro de 2009

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Pacto nuclear EUA-Rússia expira sem acordo

Países dizem que manterão princípios do Start-1, que limita arsenais nucleares estratégicos, até elaboração de novo tratado

Preocupação é mais política do que de segurança; na ausência de novo tratado, conversas têm melhorado relações entre as potências


ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO

Apesar das promessas de colaboração, no dia em que expira o mais importante tratado de redução de armas nucleares em vigor entre EUA e Rússia, os presidentes americano, Barack Obama, e russo, Dmitri Medvedev, se veem hoje sem um acordo substituto à altura.
Os dois lados não foram capazes de firmar antecipadamente um acordo temporário para substituir o Start-1 (Tratado de Redução de Armas Estratégicas, na sigla em inglês), o que deixa as potências aptas a rejeitar checagens em suas armas pelo outro lado e mina, ao menos por algum tempo, o forte significado do compromisso com o controle nuclear.
EUA e Rússia esperam um acordo temporário até o final do ano. Um tratado substituto demorará um pouco mais, por ser necessária ratificação nos Legislativos dos dois países.
Boa parte da pressa tem cunho político e não de segurança, sendo motivada pela proximidade de uma cúpula sobre segurança nuclear global em Washington em abril e da conferência que revisará o Tratado de Não Proliferação Nuclear, em Nova York, em maio.
A credibilidade de Washington e de Moscou em tais encontros será afetada se ambos não fizerem sua parte para a redução das armas nucleares, especialmente quando avaliam punições a programas nucleares do Irã e da Coreia do Norte.
Para os EUA, seria produtivo também alcançar um tratado de redução de armas antes da cerimônia em que Obama recebe o Nobel da Paz no próximo dia 10, em Oslo, num momento em que a Casa Branca decidiu enviar mais 30 mil soldados para a guerra no Afeganistão.
Para a Rússia, a questão é ainda mais vital, dado o envelhecimento de seu arsenal nuclear estratégico e as deficiências de sua força convencional -o que é fator complicador para as negociações.
"Os russos estão contando cada vez mais com um grande arsenal nuclear tático [de alcance limitado] para suprir deficiências das forças convencionais. Mas os EUA relutam em limitar demais suas ogivas nucleares estratégicas [de longo alcance e decisivas em caso de guerra] diante da força tática russa", afirma Charles Ferguson, especialista nuclear do Council on Foreign Relations.

Paliativo
Ferguson não espera um acordo substituto do Start-1 muito ambicioso, mas há sinais de boa vontade mútua. Em julho, Obama e Medvedev firmaram diretrizes para um novo tratado que limite o número de ogivas em 1.500 a 1.675 e de mísseis em 500 a 1.100.
Pelo Start-1, os arsenais estratégicos podem chegar a 1.600 mísseis e 6.000 ogivas nucleares, e há complexas regras de contagem e checagem.
A Casa Branca e o Kremlin informaram ontem que pretendem "continuar a trabalhar juntos no espírito do Start-1 após sua expiração".
Mas as negociações ainda esbarram em problemas técnicos e políticos. Enquanto a situação doméstica nos EUA e na Rússia é bem diferente de julho de 1991, quando o Start-1 foi assinado, alterações tecnológicas e de desarmamento criaram novas necessidades nas regras de contagem e verificação.
Preocupa os russos a existência de arsenais convencionais (não nucleares) americanos considerados potenciais ameaças estratégicas à Rússia. Aparentemente, Moscou também prefere diminuir o nível de intrusão das verificações e não vê com bons olhos planos para sistemas de defesa.
Ainda assim, para Steven Pifer, ex-embaixador dos EUA na Ucrânia e membro visitante do Instituto Brookings, em Washington, o substituto do Start-1 será o "último acordo "fácil'" sobre arsenais nucleares. "Quanto mais baixamos os limites, mais ganham importância arsenais táticos, de terceiros países e sistemas de defesa" afirma. "Negociações que abordem esses pontos serão muito mais complicadas."


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