São Paulo, quarta-feira, 06 de janeiro de 2010

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UE vai debater uso de scanner em aeroporto

Espanha já afirmou que não adotará aparelho, cujo emprego descreve como "violação da privacidade dos passageiros"

Viajantes comentam ao desembarcar em Nova York que aplicação das normas de segurança dos EUA pelo mundo não é uniforme

LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
JANAINA LAGE
DE NOVA YORK

A Comissão Europeia, órgão executivo da União Europeia, reunirá amanhã peritos em segurança aérea parar discutir custos e benefícios de adotar scanners corporais nos aeroportos dos 27 países do bloco.
As máquinas são uma espécie de "raio-X" com micro-ondas que revelam o que os viajantes usam sob as roupas -exibindo até contornos dos corpos nus.
Segundo uma porta-voz da comissão, "é cedo demais" para se falar em um futuro compromisso entre UE e EUA.
A medida -citada ontem pelo presidente Barack Obama como artifício para aumentar a segurança da população americana- passou a ser cogitada por sugestão da agência americana de segurança nos transportes após uma tentativa frustrada de atentado em um avião rumo a Detroit no Natal. Aeroportos dos EUA enrijeceram suas práticas desde então.
Um dos maiores aeroportos da Europa, Schiphol, em Amsterdã, já iniciou os testes e anunciou que adotará scanners para voos aos EUA em breve.
O governo britânico também informou ontem que passará a usar os aparelhos, apesar da chiadeira de grupos de liberdades civis que os acham invasivos à privacidade, sobretudo no caso de crianças. Especialistas ainda questionam sua eficácia.
Embora em 2008 o Parlamento Europeu tenha levantado dúvidas sobre a privacidade e a saúde dos passageiros sob os scanners, a legislação da UE não veta os aparelhos.
Há, no entanto, dissonâncias entre os 27 países do bloco. A Espanha já afirmou que não adotará as práticas, que descreve como "violação da privacidade dos passageiros". E a Alemanha deve esperar até o verão setentrional (junho a setembro) para testar aparelhos que resguardem os viajantes.
Anteontem, a Folha esteve nos maiores aeroportos espanhóis (Madri e Barcelona). Nada mudou na inspeção comum.

Em Nova York
No segundo dia de aplicação das novas medidas de segurança anunciadas pelo governo dos EUA, passageiros que desembarcaram no aeroporto internacional JFK em Nova York relataram a falta de padronização nas medidas de segurança adotadas em aeroportos e as dúvidas sobre o que pode ou não ser carregado na bagagem.
Na prática, aeroportos que funcionam como plataformas de distribuição de voos internacionais, como o de Dubai (nos Emirados Árabes Unidos), já adotaram regras mais rígidas.
Ferdous Alam chegou na manhã de ontem de Bangladesh. Em seu país, não houve qualquer procedimento novo.
Na parada em Dubai, todos os passageiros tiveram as bagagens de mão revistadas, foram submetidos à revista corporal e passaram por scanner.
Chawa Gupta, que também chegou de Bangladesh, reclama dos exageros. "Bangladesh é um país pobre. Não temos tempo e nem recursos para ficar checando todo mundo. No aeroporto de Dubai, que é mais internacional, até meu batom tiraram da bagagem de mão."
Jaber Ismaeel, que voou diretamente de Dubai, reclamou dos procedimentos adotados na chegada a Nova York. "Há anos visito esse país. Venho a cada seis meses. Hoje, ao passar pela imigração, cumpri todo o procedimento de quem vem ao país pela primeira vez."
Alguns passageiros relataram dificuldades nos aeroportos para passar pela checagem sem provocar atrasos. Evelyn Rodriguez chegou da República Dominicana e disse que a inspeção tomou muito mais tempo que em viagens anteriores.
Andrea Clemons, que chegou da Índia, também narrou discrepância entre o tratamento no embarque e na escala. "Na Índia, o procedimento foi como o que ocorria antes das novas restrições. Em Dubai, me disseram para tirar aquele saco plástico transparente, que diferença isso faz para a segurança?".
O Departamento de Segurança Doméstica enviou funcionários para reuniões com os principais aeroportos da Ásia, África, Europa, América do Sul e Oriente Médio para definir a implantação das novas regras.


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