São Paulo, quinta-feira, 06 de janeiro de 2011

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ANÁLISE

Para além dos opositores, o futuro de Chávez dependerá da economia do país

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Para o caso da Assembleia Nacional venezuelana, que iniciou ontem seu período de sessões sem a maioria qualificada de que antes gozava Hugo Chávez, pode-se parafrasear a famosa afirmação do marqueteiro James Carville a Bill Clinton.
Quando este disputava a eleição de 1992, que afinal venceu, ouviu: "É a economia, estúpido".
Na Venezuela, muito mais que a presença de 67 deputados oposicionistas em uma Casa de 165 membros, o que definirá o futuro político de Chávez será a economia, como nos EUA de 1992.
A política poderia ser mais relevante se Chávez não viesse comendo a democracia pelas bordas desde que assumiu, há 11 anos.
No caso da Assembleia, comeu seus poderes, ao arrancar do Legislativo anterior, de esmagadora maioria chavista, a chamada Lei Habilitante, que é um cheque em branco para o presidente fazer o que bem entender até a antevéspera da sucessão, em 2012.
Ou, como prefere Miguel Ángel Bastenier, colunista de "El País", um dos jornalistas que mais profundamente conhecem países como Colômbia e Venezuela: "O apego de Chávez às formalidades democráticas diminui na mesma medida em que a prática da democracia dificulta seus propósitos".
Curiosamente, Chávez recorreu a uma prática realmente democrática para desativar uma frente de oposição -a estudantil- que tendia a ser ainda mais relevante que a parlamentar.
A lei estabelecendo que a Universidade deveria ser um viveiro de formação para o socialismo, esta sim, era mais que comer pelas bordas as práticas democráticas.
Universidade é para ensinar pessoas a pensar, seja o que for o que vierem a pensar. O resto é totalitarismo. Ponto.
Chávez, espertamente, vetou a lei que sua Assembleia aprovara e ainda posou de democrata impecável: "Este é um governo que ouve, que reflete. Estamos muito longe de ser o ditador, o tirano, como diz a oposição".
Com espertezas do gênero, Chávez pode perfeitamente sobreviver a um Parlamento de presença opositora mais forte. Até porque ainda será minoritária.
Mas só o fará se conseguir financiar o seu "socialismo do século 21", o que está em questão agora.
A Venezuela vem de seis trimestres de contração econômica. Terminou 2010 com uma retração de 1,9%, quando toda a América Latina está crescendo, e tem a inflação mais alta do subcontinente, 27,5%.
Inflação que só tende a aumentar com a desvalorização cambial adotada há pouco.
Em última análise, será a reversão de tais números negativos -e não o número de deputados opositores- que determinará o resultado do ano de 2012.


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