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Refém libertado pede a governo que negocie com Farc
Sigifredo López, capturado em 2002, contou que os 11 parlamentares cativos com ele foram mortos pela guerrilha, e não em confronto com Exército
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Libertado ontem pelas Farc
(Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) após quase
sete anos de cativeiro, o ex-deputado colombiano Sigifredo
López cobrou do governo que
negocie a troca dos reféns ainda
na selva por guerrilheiros presos. Bogotá rejeita a proposta.
López, 45, disse que só o intercâmbio pode "trazer com vida os 22 militares [e policiais]
que estão amarrados a uma árvore há dez anos". "Libertação
unilateral dos civis já e troca
dos prisioneiros combatentes."
O ex-refém falou a uma multidão que o aguardava em uma
praça de Cali, capital do departamento de Valle del Cauca (sudoeste), pouco após chegar à cidade a bordo do helicóptero
Cougar do Exército brasileiro
que o retirou da selva. Grisalho
e com aparência saudável, López abraçou a mulher, Patrícia,
e os filhos Lucas, 20, e Sérgio,
18, ainda na pista de pouso.
O ex-deputado foi o sexto e
último refém que as Farc, fracas e desmoralizadas, entregaram a um grupo liderado pela
senadora de oposição Piedad
Córdoba. O próprio definiu o
objetivo da guerrilha: "Não se
trata de libertações humanitárias, são políticas".
As Farc tentam influir na
opinião pública de modo a furar
o consenso em torno da ofensiva militar do governo de Álvaro
Uribe contra a guerrilha e relançar o acordo humanitário e a
negociação política. Ontem,
Córdoba afirmou que o líder
das Farc, Alfonso Cano, lhe enviou uma mensagem -ela não a
leu- reforçando a proposta.
Uribe e Lula
A operação de entrega foi dirigida pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e
teve apoio logístico do Brasil,
que cedeu dois helicópteros e
18 militares. Ontem, Uribe ligou ao presidente Luiz Inácio
Lula da Silva para agradecer.
De acordo com o chanceler
Celso Amorim, ele elogiou a
"discrição" brasileira na ação.
Segundo o relato, Lula disse
que, em política, a discrição geralmente é 50% do resultado.
Ele confirmou que Uribe vem
ao Brasil no próximo dia 17.
López é o único sobrevivente
do grupo de 12 deputados de
Valle del Cauca sequestrados
em 2002. Segundo ele, os outros 11 foram mortos pelas Farc
em julho de 2007. O ex-refém
disse que não houve fogo cruzado com "um grupo militar não-identificado", como a guerrilha
alegara. "Isso é um buraco na
minha alma e algo que os colombianos jamais podem esquecer." Na plateia estavam vários familiares das vítimas.
Segundo o ex-deputado, ele
só não morreu porque estava
cumprindo um castigo, preso a
correntes longe dos companheiros. Pelo que soube, um
grupo guerrilheiro chegou ao
acampamento sem avisar e foi
confundido com o inimigo.
"Não houve ataque aéreo."
O chamado ao diálogo de López e as críticas à política de
Uribe se somam às feitas pelo
ex-governador de Meta, Alan
Jara, libertado na terça. Ele defendeu a negociação política
-exigência de seus valores democráticos e cristãos, disse-
em um discurso de uma hora.
"Há um ano e meio não falo
com ninguém", disse, ofegante.
"Me deixam falar então?"
López, do Partido Liberal, o
mesmo de Córdoba, citou a troca de prisioneiros entre palestinos e israelenses para dizer a
Uribe que a negociação não significa um revés à política de
"segurança democrática" -a
estratégia que acossou militarmente as Farc. "A Uribe do que
é de Uribe. É um bom presidente. Dizem que a criminalidade
caiu. Mas a política tem falhas
na parte humanitária", disse.
O ex-refém comparou Córdoba à personagem da mulher
do médico do livro "Ensaio sobre a Cegueira", de José Saramago. "Ela é a única que enxerga" numa Colômbia em trevas.
Com a Sucursal de Brasília e agências internacionais
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