São Paulo, quarta-feira, 06 de abril de 2011

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ANÁLISE

Esperar queda da inflação de alimentos é aposta arriscada para os BCs mundiais

SÉRGIO VALE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os últimos anos têm sido trabalhosos para os bancos centrais ao redor do mundo.
Nas décadas de 1990 e 2000, houve uma evolução dos mecanismos de controle de preços, principalmente com o desenvolvimento do sistema de metas de inflação.
Mas os riscos que devem ser controlados por essas instituições aumentaram. Há uma maior instabilidade tanto da inflação quanto do nível de crescimento, o que traz incertezas sobre as políticas a serem seguidas.
Um grande responsável por essa incerteza são os preços dos alimentos. Se fosse apenas uma demanda mais elevada de países como a China, talvez sua evolução fosse um pouco mais previsível. Mas, como há muito dinheiro disponível no mundo e poucos investimentos rentáveis, os fundos de investimentos que negociam commodities se tornaram mais atrativos. Isso ajuda no aumento dos preços.
Combater esses aumentos não é trivial. Como o Banco Central brasileiro reconhece, não há muito a fazer em termos de política monetária contra os choques da inflação de alimentos. Mas cabe aos bancos centrais evitar que essa inflação contamine as diversas cadeias de preços e façam um choque temporário virar permanente.
O BCE (Banco Central Europeu) vai enfrentar uma escolha de Sofia nesta quinta-feira: combater a inflação ou manter os estímulos ao crescimento, ainda fraco em boa parte da zona do euro.
Para o BCE, o risco de inflação sempre foi mais relevante, decisão que deverá prevalecer agora. Para o Fed (Federal Reserve), o risco da economia em baixa ainda é mais importante, mas até 2012 a inflação tenderá a se tornar um problema maior.
O caso brasileiro não é essencialmente diferente. Também sofremos efeitos dos preços de commodities.
Entretanto, o Banco Central deveria ser mais comedido em sua aposta sobre os efeitos temporários desses choques. O Brasil tem duas diferenças essenciais em relação aos outros países: a demanda cresce em ritmo forte e os riscos de reindexação são muito maiores.
Esperar que choques quaisquer se acomodem nessa situação nos parece uma aposta por demais arriscada para o Banco Central fazer neste momento.

SÉRGIO VALE é economista-chefe da MB Associados.


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