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REINO UNIDO
Derrota do Partido Trabalhista nas eleições municipais provoca megatroca de postos e aumenta pressão sobre premiê
Blair reforma gabinete após revés eleitoral
FÁBIO VICTOR
DE LONDRES
Num dos mais duros golpes sofridos em nove anos de governo, o
primeiro-ministro britânico,
Tony Blair, foi obrigado a fazer
uma reforma ministerial que mexeu com postos-chave de seu gabinete. A medida foi tomada após
a retumbante derrota do Partido
Trabalhista nas eleições municipais de anteontem e deve aumentar a pressão pela abreviação do
terceiro mandato de Blair.
Acossado pelo caso dos criminosos estrangeiros libertados
quando deveriam ter sido deportados, o ministro do Interior,
Charles Clarke, deixou o governo.
Será substituído por John Reid,
que era titular da Defesa, pasta
que ficará a cargo do secretário do
Tesouro, Des Browne.
O ministro das Relações Exteriores, Jack Straw, foi rebaixado,
passando a líder dos trabalhistas
na Câmara dos Comuns (a câmara baixa do Parlamento inglês). A
política externa do Reino Unido
passará às mãos da até aqui ministra de ambiente e assuntos rurais, Margaret Beckett, que será a
primeira mulher a assumir o FCO
(Foreign & Commonwealth Office) na história do país.
Empanado por acusações de
uma amante, o vice-premiê, John
Prescott, se manteve no cargo,
mas perdeu sua atribuição mais
importante, de cuidar de comunidades e governos locais. A função
será assumida por Ruth Kelly, que
deixa o ministério da Educação, a
ser liderado pelo ministro do Comércio, Alan Johnson.
A reforma, a mais ampla da era
Blair, foi anunciada pouco após a
apuração dos votos das eleições
locais da última quinta. Os trabalhistas perderam 319 conselheiros
municipais (equivalentes a vereadores) e o controle de 18 autoridades locais na Inglaterra, além de
terem terminado em terceiro,
atrás dos liberais democratas.
Em sua primeira disputa eleitoral sob a liderança de David Cameron, o Partido Conservador
venceu com folga a corrida, fazendo 316 novos conselheiros e controlando 11 autoridades locais a
mais, seu melhor desempenho
desde 1992. Segundo projeções da
BBC com base nos principais colégios, em termos proporcionais
os "tories" levaram 40% dos votos, os liberais democratas 27% e
os trabalhistas 26%.
O ultradireitista e xenófobo Partido Britânico Nacional pelo menos dobrou o seu número de conselheiros (foi a 46), embora não
tenha conseguido controlar nenhum conselho regional.
Termômetro
Nas eleições locais de 2004, os
governistas sofreram derrota semelhante, então atribuída à rejeição pública à Guerra do Iraque,
na qual os britânicos são aliados
de primeira hora dos EUA.
Sem grande relevância política
em si, as eleições locais são, porém, um eficiente termômetro
das tendências do eleitorado e,
desta vez como nunca antes, simbolizaram a clara rejeição dos ingleses ao governo Blair (Escócia,
País de Gales e Irlanda do Norte
não realizaram pleitos).
As próximas eleições nacionais
estão previstas para 2009, mas é
esperado que Blair entregue o cargo para o ministro das Finanças,
Gordon Brown, bem antes disso.
O fracasso consumado ontem é
um estímulo à oposição -e mesmo aos trabalhistas descontentes- a forçar a antecipação da
saída de Blair. Ao mesmo tempo,
a reforma sinaliza o desejo claro
de Blair de não entregar o cargo
num momento de fraqueza, para
não turvar o que ele chama de "legado de nove anos".
O resultado das "locais" foi o estopim da sucessão de crises que
assolou o gabinete nos últimos
dias. A mais grave foi a que atingiu Clarke no ministério do Interior. Na semana passada, ele admitiu que o governo libertou mais
de 1.000 criminosos estrangeiros
que deveriam ter sido deportados. Entre os condenados havia
assassinos e estupradores.
A pressão sobre ele cresceu
quando foi revelado que, sem o
monitoramento da polícia, que
perdeu o rastro de centenas de libertados, muitos deles reincidiram em crimes.
Já a cabeça de Prescott, o vice-premiê, ficou a prêmio com a revelação de que ele, que é casado,
teve recentemente um caso de
dois anos com sua secretária. Em
entrevista paga a um tablóide, a
ex-amante o acusou de usar instalações e veículos oficiais para encontros amorosos e de interromper ou cancelar reuniões de trabalho para namorar.
O governo também é bombardeado por sindicatos de funcionários da saúde, por seu programa
de cortes de pessoal no serviço nacional do setor. A ministra Patricia Hewitt, outra cuja demissão
era aventada, saiu ilesa.
Antes da tormenta iniciada na
semana passada, o Partido Trabalhista enfrentara denúncias de um
esquema de troca de indicações
para a Câmara dos Lordes (a câmara alta do Parlamento) por empréstimos eleitorais, que se seguiram a uma devassa nos financiamentos de campanhas dos principais partidos do país -hoje investigados pela polícia.
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