São Paulo, domingo, 06 de junho de 2004

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Gravidez piora situação das mulheres pobres

DO ENVIADO ESPECIAL AO HAITI

Christa Felix, Acefie Rosemond e Thelma Renette são três exemplos de mulheres haitianas que contribuíram para inflar as altas taxas de natalidade e mortalidade infantil do país. O chamado "índice sintético de fecundidade" mede o número de crianças por mulher. A do mundo está em 2,8 filhos. Um país desenvolvido, a Noruega, tem índice de 1,7, e mesmo no Brasil a taxa é menor que a média mundial, 2,2.
No Haiti o índice é de 4,7 crianças por mulher.
Acefie, 33, teve seis filhos e está grávida de novo. Um filho vive com um pai; outros dois estão com uma tia; outro filho com ainda outro pai; um está com ela e outro foi dado para adoção. Thelma teve quatro filhos, dois morreram. A taxa de mortalidade infantil no Haiti é de 80 mortos em cada 1.000 nascidos vivos. A média mundial é de 55, a brasileira é de 33 e a norueguesa de apenas 4.
Christa, grávida de novo, teve cinco filhos com três homens diferentes. O último morreu baleado durante os distúrbios políticos de fevereiro, sem saber que seria pai. Christa chora quando lembra o fato. Ela deu três dos filhos para adoção. "Fiquei triste, mas foi um privilégio, pois eles continuaram vivos", diz Christa.
Ela trabalhava vendendo limão e laranja na rua. Comprava em um ponto da cidade, vendia em outro, carregava com ela a mercadoria ou, se fosse muita, alugava um carrinho de mão. É o cotidiano dos milhares de vendedores que tomam as calçadas das cidades, vendendo de livros escolares a frutas e eletrodomésticos.
Mas, principalmente, arroz, a base da dieta haitiana. Antonia Jean vende "marmites" de arroz no mercado de La Saline. Cada "marmite" de arroz é uma lata de leite em pó grande que custa 17 dólares haitianos (US$ 2,36).
A moeda haitiana se chama gourde. O "dólar haitiano" é uma moeda virtual, e o dólar americano também é largamente usado nas maiores transações. Um dólar dos EUA vale 7,2 do Haiti.
Os mercados haitianos de rua vivem uma movimentação frenética. Um mesmo comerciante vende uma hora, depois vai ao vizinho comprar algo, pedestres passam continuamente.
Esses microempresários são um dos alvos da Muci, uma cooperativa que atua há 24 anos. "Nós lhes damos crédito para que iniciem seus negócios", diz o economista Danel Georges. Os juros são de 1%, "em vez dos 20% ou 40% que eles teriam de pagar a um banco."
A Muci tem 116 mil membros, segundo Georges. "A crise haitiana é uma crise social, a maneira de resolver é cultural", diz ele. (RBN)



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