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ANÁLISE
Arsenal das medidas anticrise já se esgotou
Governos gastaram para ajudar bancos e empresas em 2008, mas usar dinheiro público tornou-se insustentável
FERNANDO CANZIAN
DE SÃO PAULO
O "derretimento" dos mercados nesta semana tornou real a possibilidade de recessão ou de um longo período de baixo crescimento nas economias avançadas.
Ao contrário da crise de 2008/2009, que marcou o início da Grande Recessão, desta vez não há arsenal disponível para evitar o pior.
A crise de quase três anos atrás foi atacada em várias frentes: os bancos centrais de EUA e União Europeia trouxeram para próximo de zero os juros (barateando empréstimos) e injetaram bilhões em bancos e empresas para estimular o crédito e a atividade.
Nos EUA, o Fed (o banco central americano) jogou US$ 2,3 trilhões no mercado (o equivalente ao PIB do Brasil) nessas intervenções.
Ao mesmo tempo, governos anunciaram pacotes de gastos sem precedentes (cerca de US$ 800 bilhões só nos EUA) em projetos de infraestrutura e programas sociais.
O alvo era compensar o congelamento do mercado de crédito a empresas e famílias, que virou um "vale da morte". Mas, mesmo tendo novos financiamentos disponíveis, as famílias deixaram de gastar, pois temiam o pior.
Assim, a demanda privada por bens e serviços, muito baixa, deu lugar a gastos estatais crescentes. Esse foi o arranjo que funcionou até o início de 2011.
FRUSTRAÇÃO
A esperança era que, a partir deste ano, famílias europeias e americanas voltassem a gastar, diminuindo a necessidade da intervenção estatal. Isso não ocorreu.
Nos EUA, o gasto público não só foi insuficiente para substituir o consumo das famílias (responsável por 70% do PIB) como levou a um recorde de endividamento.
Colocar mais dinheiro público na economia tornou-se insustentável politicamente, como mostrou o embate sobre o teto da dívida norte-americana.
Com os juros no país já próximos de zero, talvez reste ao Fed apenas injetar mais dinheiro no mercado, em cima dos US$ 2,3 trilhões despejados até agora.
A medida tende a depreciar o dólar, barateando as exportações. Internamente, as famílias, endividadas como nunca e temendo os 9% de desemprego, tendem a manter os bolsos fechados.
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