São Paulo, sábado, 06 de agosto de 2011

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Brasil já discute corte nos juros

TONI SCIARRETTA
GIULIANA VALLONE

DE SÃO PAULO

A nova fase da crise global levou o mercado financeiro brasileiro, em menos de uma semana, a mudar o foco das sucessivas altas nos juros para a redução deles, algo inimaginável até sexta passada.
Diante de uma possível recessão global, a preocupação agora não é mais com inflação, mas com deflação de preços de matérias-primas, alimentos e produtos acabados.
A visão corrente é que o BC brasileiro, a exemplo do que ocorreu nos EUA, terá de reduzir juros daqui seis meses.
A taxa negociada para janeiro de 2013 (reflete os juros definidos em janeiro de 2012) já é de 12,25%, 0,25 ponto abaixo dos atuais 12,5% da Selic, piso do juro nacional.
Nos EUA, os juros dos títulos de dez anos desabaram em um mês de 3,11% para 2,52%, com a procura dos investidores por proteção.
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, disse ontem que vê risco de paralisação do crédito global, como ocorreu em 2008 após a quebra do Lehman Brothers.
Afirmou que não "é mais sensato" pensar em alta dos juros após a deterioração do cenário externo. "A situação é frágil. Estamos à beira de um duplo mergulho e de paralisia do crédito internacional", disse Coutinho.
"O Banco Central já deu uma indicação bem nítida de que vai parar de subir os juros. E agora, após a possibilidade de uma nova queda na economia global, há essa sensação de que ele pode reduzir os juros bem antes do que a gente imaginava, já no primeiro trimestre do ano que vem", disse Alexandre Espírito Santo, do Ibmec-RJ.

DÓLAR BATE EM R$ 1,60
No dia seguinte à derrocada dos mercados, a Bolsa brasileira foi uma das mais instáveis do mundo, alternando minutos de baixa e de alta, ao sabor do noticiário externo.
Terminou o dia com alta de 0,26% no Ibovespa, que perdeu 10% na semana -pior recuo desde novembro de 2008. No ano, a Bolsa brasileira já acumula queda de 23,6%.
O dólar voltou à casa de R$ 1,60 pela manhã, mas terminou o dia valendo R$ 1,587, com valorização de 0,37%.
Na semana, a moeda dos EUA subiu 2,12% -maior variação semanal desde maio.
"O aumento das incertezas internacionais e o menor crescimento da economia mundial devem ter impacto relativamente limitado sobre a economia doméstica. Mas devem ser suficientes para levar o Banco Central a dar por encerrado o ciclo de aperto monetário", disse Maristela Ansenatti, do Banco Fibra.
Para Carlos Acquisti, da Infinity Asset, a deterioração dos mercados reduziu a expectativa de alta da inflação e fez os juros desabarem.
"As perspectivas de agravamento da situação nos países desenvolvidos mudaram as curvas de juros nos últimos dias, e tivemos forte devolução de prêmios [de inflação]."

Com a agência Reuters


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