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Fischer ataca Partido Verde alemão em livro de memórias
Radical nos anos 60, ex-chanceler agora diz que agremiação que fundou está errada
Joschka Fischer critica colegas que militam no ambientalismo por não abandonar pacifismo; ele apóia Otan no Afeganistão
TONY PATERSON
DO "INDEPENDENT", EM BERLIM
Joschka Fischer, veterano líder político no passado estreitamente associado ao Partido
Verde da Alemanha, fez um
ataque amargurado à agremiação, alertando que um colapso
era possível caso seus líderes
decidissem retornar às raízes
pacifistas e esquerdistas do
movimento.
O antigo ministro do Exterior alemão voltou a Berlim depois de 18 meses de ausência
para publicar sua autobiografia, "Os Anos Rubro-Verdes",
um relato do período em que
integrou o governo liderado pelo social-democrata Gerhard
Schröder.
Fischer, professor convidado
na Universidade de Princeton,
nos EUA, desde que deixou o
posto, no final de 2005, não demorou a criticar os verdes, cujo
partido ele ajudou a fundar no
final dos anos 70. Desde que
perderam o poder, em 2005, os
verdes se tornaram um partido
menor de oposição. Em uma
tentativa de reconquistar importância política, a liderança
do partido se moveu à esquerda
e deu início a um tórrido debate
sobre o papel militar da Alemanha no Afeganistão.
Mas Fischer alertou anteontem que o partido poderia enfrentar "um completo colapso
político" caso mantivesse o
curso atual. "Caso os verdes
imaginem que serão capazes de
restaurar sua posição como
partido de protesto, de esquerda, sem pagar caro por isso, estão se iludindo. Nosso apoio
principal vem do centro do espectro político."
Agora perto dos 60 anos, Fischer abandonou praticamente
suas primeiras convicções ecológicas. Trocou o apartamento
anônimo em que vivia no centro de Berlim por uma casa elegante no afluente bairro de
Grunewald, na qual vive com
Minnu, 30, sua mulher, nascida
no Irã e antiga aluna de seu curso universitário de política.
Político que começou sua
trajetória no final dos anos 60
como um radical marxista, Fischer passou por notável transformação: dedica boa parte de
seu tempo a escrever artigos ou
a palestras no exterior e criou
uma empresa chamada Joschka Fischer Consulting.
Fischer descartou categoricamente a possibilidade de voltar a participar de campanhas
em benefício do Partido Verde.
"Não farei mais nenhum
show", ele disse, em referência
à reputação de "o último astro
do rock na política alemã".
A primeira parte de seu livro
é um acerto pessoal de contas
com os verdes e um relato sobre seu tempo como integrante
do governo Schröder.
Ele diz que teria renunciado
ao Ministério do Exterior caso
França e Rússia não aderissem
à Alemanha na oposição à invasão do Iraque.
A autobiografia dedica muito
espaço à luta de Fischer para
persuadir os verdes a aprovar o
apoio da Alemanha ao bombardeio da Sérvia pela Organização
para o Tratado do Atlântico
Norte (Otan), em 1999.
A decisão da coalizão governante da época, que envolvia os
social-democratas e os verdes,
em favor do apoio à Otan, rompeu os precedentes de mais de
40 anos de política externa pós-nazista, sob a qual o país não
deveria se envolver em operações militares fora de suas
fronteiras.
Fischer descreve como, em
uma conferência do Partido
Verde em 1999, ele foi atacado
verbalmente por uma multidão
de militantes pacifistas e esquerdistas que lançou um balão
cheio de tinta contra sua cabeça. Ele explica que, se sua moção tivesse sido rejeitada, ele
teria sido forçado a renunciar.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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