São Paulo, sábado, 06 de outubro de 2007

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Fischer ataca Partido Verde alemão em livro de memórias

Radical nos anos 60, ex-chanceler agora diz que agremiação que fundou está errada

Joschka Fischer critica colegas que militam no ambientalismo por não abandonar pacifismo; ele apóia Otan no Afeganistão

TONY PATERSON
DO "INDEPENDENT", EM BERLIM

Joschka Fischer, veterano líder político no passado estreitamente associado ao Partido Verde da Alemanha, fez um ataque amargurado à agremiação, alertando que um colapso era possível caso seus líderes decidissem retornar às raízes pacifistas e esquerdistas do movimento.
O antigo ministro do Exterior alemão voltou a Berlim depois de 18 meses de ausência para publicar sua autobiografia, "Os Anos Rubro-Verdes", um relato do período em que integrou o governo liderado pelo social-democrata Gerhard Schröder.
Fischer, professor convidado na Universidade de Princeton, nos EUA, desde que deixou o posto, no final de 2005, não demorou a criticar os verdes, cujo partido ele ajudou a fundar no final dos anos 70. Desde que perderam o poder, em 2005, os verdes se tornaram um partido menor de oposição. Em uma tentativa de reconquistar importância política, a liderança do partido se moveu à esquerda e deu início a um tórrido debate sobre o papel militar da Alemanha no Afeganistão.
Mas Fischer alertou anteontem que o partido poderia enfrentar "um completo colapso político" caso mantivesse o curso atual. "Caso os verdes imaginem que serão capazes de restaurar sua posição como partido de protesto, de esquerda, sem pagar caro por isso, estão se iludindo. Nosso apoio principal vem do centro do espectro político."
Agora perto dos 60 anos, Fischer abandonou praticamente suas primeiras convicções ecológicas. Trocou o apartamento anônimo em que vivia no centro de Berlim por uma casa elegante no afluente bairro de Grunewald, na qual vive com Minnu, 30, sua mulher, nascida no Irã e antiga aluna de seu curso universitário de política.
Político que começou sua trajetória no final dos anos 60 como um radical marxista, Fischer passou por notável transformação: dedica boa parte de seu tempo a escrever artigos ou a palestras no exterior e criou uma empresa chamada Joschka Fischer Consulting.
Fischer descartou categoricamente a possibilidade de voltar a participar de campanhas em benefício do Partido Verde. "Não farei mais nenhum show", ele disse, em referência à reputação de "o último astro do rock na política alemã".
A primeira parte de seu livro é um acerto pessoal de contas com os verdes e um relato sobre seu tempo como integrante do governo Schröder.
Ele diz que teria renunciado ao Ministério do Exterior caso França e Rússia não aderissem à Alemanha na oposição à invasão do Iraque.
A autobiografia dedica muito espaço à luta de Fischer para persuadir os verdes a aprovar o apoio da Alemanha ao bombardeio da Sérvia pela Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan), em 1999.
A decisão da coalizão governante da época, que envolvia os social-democratas e os verdes, em favor do apoio à Otan, rompeu os precedentes de mais de 40 anos de política externa pós-nazista, sob a qual o país não deveria se envolver em operações militares fora de suas fronteiras.
Fischer descreve como, em uma conferência do Partido Verde em 1999, ele foi atacado verbalmente por uma multidão de militantes pacifistas e esquerdistas que lançou um balão cheio de tinta contra sua cabeça. Ele explica que, se sua moção tivesse sido rejeitada, ele teria sido forçado a renunciar.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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