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São Paulo, quinta-feira, 06 de novembro de 2003

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GUERRA SEM LIMITES

Detenção de homem árabe que disse ter vindo do Brasil reforça indícios de atividade do terror na região

Suspeito de terrorismo é preso no Uruguai

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

A Interpol (polícia internacional) e a DNII (Direção Nacional de Informação e Inteligência), do Uruguai, prenderam um homem árabe suspeito de terrorismo, a partir da similitude entre seu nome -que não foi divulgado- e o de um terrorista que consta de uma lista distribuída internacionalmente pela polícia norte-americana.
Essa prisão pode ser mais um indício de que existem células terroristas na Tríplice Fronteira (entre Brasil, Paraguai e Argentina), conforme suspeitas do Departamento de Estado dos EUA.
Tal preocupação foi revelada, também em Montevidéu, pelo especialista em terrorismo Dorsey Edward Rowe, coordenador das políticas de operações especiais do governo norte-americano, que encerrou ontem uma conferência sobre terrorismo.
A Agência Folha tentou obter detalhes sobre o caso do homem preso no Uruguai, mas a inteligência uruguaia disse que a Interpol daria mais informações. Na Interpol, o subdiretor, Rafael Peña, evitou alguns pormenores sobre o caso, tratado com extremo sigilo.
Além do nome semelhante (há apenas uma letra de diferença entre o do preso e o da lista), o suspeito -que ficará detido em Montevidéu por tempo indeterminado e depois deve ser expulso do país-, segundo a Interpol, tem semelhança física com o terrorista que consta da lista norte-americana.
A prisão ocorreu no município de Rivera, que faz divisa com a brasileira Santana do Livramento (497 km de Porto Alegre e 500 km de Montevidéu).
Os uruguaios tomaram as impressões digitais e fotografaram o preso, que não fala espanhol nem português -além do árabe, fala um pouco de inglês- e já foi trasladado a Montevidéu.
Ele foi preso quando chegou a uma delegacia para dizer que havia perdido seus documentos. Flagrada a coincidência de nomes, afirmou que estava de passagem pelo Uruguai, vindo do Brasil, e que é egípcio. Apresentou, então, a fotocópia de um documento de identidade.
Durante entrevista em Montevidéu, Dorsey Rowe afirmou saber que existem organizações terroristas especiais atuando na região. Segundo Rowe, "elas podem estar buscando um lugar seguro para planificar suas operações".
O especialista norte-americano acrescentou, ainda, que não acredita haver atualmente atividade terrorista no Uruguai, incluindo a fronteira com o Brasil.
Mesmo assim, em razão das facilidades que a fronteira oferece, Rowe, que falou a militares uruguaios no Centro de Altos Estudos Nacionais do Uruguai, afirmou: "Não se pode deixar a guarda baixa, porque, em todo o mundo, todas as coisas podem ser um alvo [do terrorismo]".
E recomendou: o importante é ter "um bom serviço de informações e inteligência" para estar apto a prevenir possíveis ações terroristas.
Rowe citou também a preocupação em evitar o fluxo de dinheiro para o terrorismo -muitas vezes, ele se origina do contrabando, do narcotráfico, do tráfico de armas, da lavagem de dinheiro e de outros delitos típicos do crime organizado transnacional.
Ontem, em razão da prisão efetuada em Livramento, a principal preocupação das autoridades uruguaias estava na forma fácil com que pessoas sem documentos ou com documentos de origem duvidosa entram no país.
As divisas do Uruguai com o Rio Grande do Sul, pelos municípios de Rivera e Livramento e Chuy (Uruguai) e Chuí (Brasil) formam tradicionais redutos de comunidades árabes.
Ainda que em menor intensidade do que na Tríplice Fronteira, o local costuma ser monitorado pela Interpol em razão, justamente, de supostamente servir de trânsito para dinheiro ilícito.


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