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Alegação sem prova pode melhorar imagem de Charles, diz biógrafo real
FÁBIO ZANINI
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LONDRES
As alegações da princesa Diana
de que seu ex-marido pretendia
matá-la, em vez de dar novo fôlego às teorias conspiratórias, terão
efeito contrário. Serão uma espécie de "tiro de misericórdia" em
especulações de que ela foi assassinada. A análise é de Robert Lacey, um dos mais respeitados biógrafos da família real britânica,
autor, entre outros, de "Majesty",
sobre a rainha Elizabeth 2ª, e
"Princess", sobre Diana.
"A idéia de uma conspiração já
era vista pelos britânicos como
surreal. Agora, passa a ser absurda", disse à Folha. Em sua opinião, a acusação é um "bônus"
para o príncipe Charles, que poderá extrair do episódio maior
simpatia do público, o que "ele
precisa desesperadamente".
Folha - O sr. leva a sério a acusação de Diana?
Robert Lacey - De maneira alguma. Não há uma evidência, um
indício concreto, nada. Fica claro
que é apenas o comportamento
de uma personalidade perturbada, errática e ainda magoada com
o fim de seu casamento.
Folha - A teoria conspiratória ganha força com a revelação da carta?
Lacey - Acredito no contrário.
Antes desse episódio, as teorias de
que a CIA, o governo francês ou
terroristas estivessem envolvidos
no suposto assassinato já eram
vistas pelos britânicos como surreais. Agora, passa a ser absurda.
Mesmo quem odeia Charles jamais acreditaria que ele fosse matar a mãe de seus filhos. Há outra
razão para não acreditar. Eu, se
fosse matar Diana, jamais tentaria
um acidente de carro. Era grande
a possibilidade de ela sobreviver.
O segurança sobreviveu.
Folha - De qualquer forma, é mais
um episódio desgastante para
Charles.
Lacey - A situação dele já é péssima. A indecisão no romance com
Camilla Parker-Bowles é muito
prejudicial à sua imagem. Ele vai
ter que tomar uma decisão em
breve: ou renuncia ao trono para
ficar com seu amor, como seu tio-avô fez [Edward 8º abdicou nos
anos 30 para casar com uma americana divorciada], ou oficializa a
união e transforma Camilla em
rainha. Nesse contexto ruim, o fato de ter sido recentemente acusado de homossexualismo e agora
de assassinato, ambas as vezes
sem a menor prova, pode até ser
que resulte numa maior simpatia
do público para com ele, o que ele
precisa desesperadamente.
Folha - Qual o impacto da revelação para o príncipe William?
Lacey - Isso é mais complicado.
Ver os pais brigando pela imprensa sempre foi muito doloroso para ele. Que isso continue mesmo
após a morte da mãe é psicologicamente terrível. Essa é uma situação preocupante para a família
real, ainda mais quando tantas esperanças estão sendo depositadas
sobre William para que ele salve o
prestígio da monarquia.
Folha - E a rainha, como sai do
episódio?
Lacey - Acho que sai bem. A população britânica diferencia a rainha do resto da família real. Ela é
vista como sóbria e humana. Nesse episódio, é a imagem de Diana
que sai perdendo.
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