São Paulo, quarta-feira, 07 de janeiro de 2004

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AMÉRICA LATINA

Para o governo, a versão americana é "fantasiosa" e política

Brasil descarta terror na Venezuela

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Brasil não acredita na possibilidade de a Venezuela estar sendo usada como base por terroristas adversários dos EUA, muito menos por terroristas islâmicos.
Na avaliação de setores do Itamaraty, as versões de que o presidente Hugo Chávez estaria facilitando até a emissão de documentos falsos para terroristas são "fantasiosas" e caracterizam uma disputa interna dentro dos EUA.
De um lado, estariam os "falcões", que querem fragilizar a posição de Chávez num momento crucial de seu governo, quando o Conselho Nacional Eleitoral analisa as assinaturas favoráveis a um referendo que pode abreviar seu mandato.
De outro, ficariam os "pombos", os pragmáticos, adeptos da dissociação entre a ideologia e os interesses econômicos do governo Chávez nos EUA. Essa linha da Casa Branca foi descrita anteontem por um importante diplomata brasileiro assim: "Deixem o Chávez falar o que quiser, desde que garanta o petróleo nos Estados Unidos".
Apesar de todas as idiossincrasias de Chávez em relação ao governo americano, ele está interessado neste momento em aproveitar os efeitos imediatos da Guerra do Iraque para aumentar a participação venezuelana no fornecimento de petróleo aos EUA.
A Venezuela é hoje responsável por 15% das importações americanas de petróleo e quer atingir 25% -mais do que os 18% a 19% de antes do governo Chávez. O crescimento de agora seria, na avaliação chavista, para suprir os cortes nas compras que os EUA fazem do produto do mundo árabe -os mais fortes fornecedores do mundo.
O Palácio do Planalto e o Itamaraty receberam informações ainda superficiais, na dependência de confirmação, de que há inclusive a possibilidade de um encontro de Bush e Chávez na próxima semana, em Monterrey, no México, justamente para tratar da questão.
O distanciamento dos EUA dos países árabes está redirecionando uma guinada da maior potência do mundo para a África, onde a Nigéria, por exemplo, também é forte produtora de petróleo. A Venezuela quer disputar esse espaço, independentemente das dificuldades políticas e diplomáticas entre os dois governos. E tem um trunfo: Caracas fica a cerca de cinco horas de vôo de Miami, a principal entrada da América do Sul nos EUA.


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