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Fim da trégua da ETA abala popularidade de Zapatero
Horas antes do ataque, socialista disse que processo de paz era seu maior êxito
Fracasso nas negociações
com grupo basco põe em
risco reeleição do premiê
espanhol, que era tida como
certa no ano que vem
Paco Campos - 04.jan.2007/France Presse
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Zapatero (dir.) visita local do atentado, no aeroporto de Madri |
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
No balanço de fim de ano, o
premiê socialista espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero,
enumerou diversas conquistas
de seu governo. Como a mais
reluzente, o processo de paz
com o grupo terrorista ETA,
que declarou trégua permanente em março passado. "Daqui a um ano, estaremos muito
melhor", prometeu.
Menos de 24 horas depois do
discurso triunfante de Zapatero, uma picape com 200 quilos
de explosivos destruiu o estacionamento do terminal 4 do
aeroporto de Barajas, em Madri, em 30 de dezembro. Era o
ruidoso fim da trégua.
Além de dois equatorianos
que cochilavam dentro do carro no momento da explosão e
morreram na hora -o corpo do
segundo foi achado ontem-, a
outra grande vítima do atentado é o próprio Zapatero. A derrota para a ETA põe em risco
sua folgada reeleição em 2008.
A ETA (sigla para as iniciais
em basco de Pátria Basca e Liberdade) continua a demonstrar seu poder de fogo. Entre
quinta e sexta-feira, foram encontrados 160 quilos de explosivos na pequena cidade de Atxondo, no País Basco.
Ao visitar os destroços no estacionamento do aeroporto,
Zapatero afirmou ter "mais
vontade ainda de alcançar a
paz". Mas o secretário-geral do
Psoe (Partido Socialista Operário Espanhol), José Blanco, admitiu que "a informação que o
governo tinha não correspondia à vontade da ETA".
O Partido Popular, de direita,
que governou o país entre 1996
e 2004, critica duramente o
processo de paz. "Espero que
Zapatero anuncie finalmente
que não haverá mais nenhuma
negociação com a ETA e que o
Estado de Direito atue com
contundência", disse o líder do
PP, Mariano Rajoy.
Ícone da esquerda
Apesar de a Espanha ser apenas a quinta maior economia
da União Européia, Zapatero
representava muito para a esquerda do continente.
Para muitos intelectuais, é o
único governante forte de esquerda num país grande da Europa Ocidental. O inglês Tony
Blair se tornou tão conservador
quanto a alemã Angela Merkel,
enquanto o italiano Romano
Prodi tenta administrar uma
coalizão problemática, com
maioria parlamentar frágil.
E a vitória de Zapatero em
2004 foi celebrada como a primeira derrota séria dos aliados
do presidente George W. Bush
-entre eles o ex-premiê conservador José María Aznar, que
mandou 1.400 soldados para o
Iraque, apesar da oposição de
91% dos espanhóis.
Até que tudo mudou em 11 de
março de 2004, quando explodiram quatro trens em Madri.
O maior atentado terrorista da
história européia teve 191 mortos e 1.900 feridos. Às vésperas
das eleições gerais, três dias
após o atentado, o governo de
Aznar escondeu as informações que apontavam para a autoria da Al Qaeda e culpou a
ETA para garantir sua vitória.
Na madrugada de domingo,
horas antes da eleição, milhares de espanhóis trocaram
mensagens por celular, dizendo que o governo mentia e que
o atentado era obra da Al Qaeda. E Zapatero se elegeu de forma surpreendente. Em seu primeiro dia no cargo, em 18 de
abril, o socialista anunciou a retirada das tropas do Iraque.
"Bambi de aço"
Chamado de "Bambi" antes
da eleição por sua fragilidade,
Zapatero surpreendeu com
suas primeiras medidas. Nomeou oito ministras, metade
do gabinete. Depois de brigar
com Bush, ele arranjou disputa
com o Vaticano ao aprovar o casamento gay e o direito à adoção de crianças por casais homossexuais - ele também pretende legalizar a eutanásia. Regularizou a situação de quase 1
milhão de imigrantes ilegais.
Mandou retirar as poucas estátuas que sobravam no país
em homenagem ao ditador
Francisco Franco e criou uma
comissão para homenagear todas as vítimas da Guerra Civil
Espanhola (1936-1939).
Aos poucos, foi afastando (ou
derrubando) os velhos caudilhos socialistas. Ex-vice-premiê espanhol no tempo de Felipe González, Alfonso Guerra
apelidou Zapatero de "Bambi
de aço".
Mas uma das principais bandeiras de Zapatero em política
externa, a chamada Aliança das
Civilizações, que promoveria o
diálogo entre Ocidente e Oriente, cristãos e muçulmanos, mal
saiu do papel.
Se não teve nenhum retorno
a seu projeto, Zapatero precisará buscar a paz de maneira bem
mais concreta com a ETA, o
único grupo terrorista da Europa Ocidental em atividade.
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