São Paulo, domingo, 07 de janeiro de 2007

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Socialista foi ingênuo com ETA, diz filósofo

Para Josep Ramoneda, conservadores tiveram comportamento "vergonhoso"

Zapatero inovou em várias áreas, como na política imigratória e nos costumes, mas fracassou ao avaliar grupo separatista basco

DA REPORTAGEM LOCAL

Colunista do jornal "El País", o filósofo espanhol Josep Ramoneda, 57, acredita que o premiê espanhol foi ingênuo e desinformado ao negociar com a ETA. Diretor do Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona, ele é autor do livro "Después de la Pasión Política", em que fala sobre o fim da paixão pela política e o comodismo da esquerda atual. Para ele, Zapatero inovou nas bandeiras do governo, mas manteve a política econômica da direita. Leia os principais trechos da entrevista que concedeu à Folha, de Barcelona. (RJL)

 


OTIMISMO EM EXCESSO
"Zapatero tem uma compulsão otimista de achar que tudo ficará como ele deseja. Abriu diversas frentes de batalha. Mas, desta vez, a audácia de Zapatero não funcionou. Houve, de certa forma, ingenuidade com ignorância. Ele passou a imagem de desinformado, que não tinha os interlocutores adequados na ETA ou que estes o enganaram. Ele precisa fazer um acordo com as forças de segurança francesas e prender a cúpula da ETA."

SEM TRÉGUA
"Um processo negociado de fim da violência só é possível se as partes estão convencidas que não chegarão a seus objetivos pela via militar. A ETA tem pouco futuro, mas ainda guarda uma capacidade de intimidação. Seu comando não tem um projeto político sem violência."

TORCIDA DO CONTRA
"O Partido Popular [oposição conservadora] teve um comportamento vergonhoso. Desde o início, quis que a trégua fracassasse. Sua estratégia se revelou mentirosa. Acusaram Zapatero o tempo inteiro de fazer concessões à ETA. Pelo que vimos, não houve concessão."

MUITOS ACERTOS
"Até o atentado, o governo Zapatero era muito bem-sucedido, popular. A economia cresce, o desemprego diminui. Ele criou políticas muito inclusivas. O casamento gay foi absorvido em duas semanas. A legalização em massa dos imigrantes ilegais foi um acerto extraordinário. Pena que depois, por pressão dos vizinhos ou pelas pesquisas de opinião, Zapatero mudou. Um erro."

NOVA ESQUERDA?
"Zapatero representa uma ruptura geracional com a velha social-democracia. Tem um projeto muito liberal e revolucionário nos costumes. Também adotou um zelo sanitário exagerado. Não acho que o governo é que deve dizer se podemos fumar ou não, comer gordura ou não. Mas, diante da impotência dos Estados nacionais, desbordados pelo poder econômico, Zapatero preferiu essas novas atitudes. Na economia, não há diferença entre os governos de Felipe González, Aznar e Zapatero, os três seguindo a ortodoxia absoluta."


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