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Paquistão libera cientista que vendeu tecnologia nuclear
Tribunal decide que Abdul Qadeer Khan pode circular livremente pelo país
Cientista confessou ter negociado com Irã, Líbia e Coreia do Norte; EUA pedem garantias de que ele não voltará a atividades ilícitas
SALMAN MASOOD
DO "NEW YORK TIMES", EM ISLAMABAD
Um tribunal do Paquistão
decidiu ontem que o pai do programa nuclear do país, Abdul
Qadeer Khan, acusado de vender tecnologia nuclear no exterior, não está mais sujeito a prisão domiciliar e tem o direito
de se deslocar livremente no
território paquistanês.
O tribunal que suspendeu as
restrições de viagem de Khan,
73, é uma nova corte com jurisdição legal limitada estabelecida pelo antigo presidente Pervez Musharraf, e ao que parece
a decisão foi tanto uma jogada
política do novo governo civil
do país quanto um ato judicial.
Khan, que o Ocidente considera como um cientista renegado e pária que vendeu tecnologia a Coreia do Norte, Líbia e
Irã, tem reputação de herói nacional no Paquistão por seu papel no desenvolvimento do país
como potência nuclear.
Falando a jornalistas depois
que a decisão foi anunciada, o
Khan disse que "tudo isso aconteceu devido ao forte interesse
do presidente, do primeiro-ministro e especialmente de Rehman Malik [funcionário do Ministério do Interior] pelo caso.
Eles o revisaram, e Malik estudou a situação, a discutiu com o
governo e a discutiu com as autoridades envolvidas".
A suspensão das restrições
serviu para pacificar o lobby
conservador do Paquistão, de
acordo com Talat Masood, general reformado do Exército.
"Isso tirou a pressão que existia
sobre o governo e gerou boa
vontade para o governo devido
a essa popularidade." Masood
disse acreditar que o governo
impedirá que Khan saia do país.
"O governo se esforçará ao
máximo para assegurar à comunidade internacional que
ele dedicará a maior parte de
seu tempo à educação e não a
assuntos nucleares. Isso é muito importante para a credibilidade do Paquistão", disse.
"A libertação de Khan é uma
boa decisão simbólica, que deve
restaurar a fé no esforço do governo civil para sustentar sua
soberania", disse Rafia Zakaria,
colunista do jornal paquistanês
"Daily Times". "Isso é essencial
se queremos que os paquistaneses acreditem que a guerra
contra o terrorismo não está
sendo travada apenas em benefício dos EUA, e sim que pode
servir aos seus interesses".
O Departamento de Estado
americano qualificou ontem de
"deplorável" a decisão da Justiça paquistanesa. A Casa Branca
disse que pedirá ao Paquistão
"garantias de que o dr. Khan
não esteja envolvido ou comprometido em nenhuma das
atividades que levaram a sua
prisão domiciliar".
A mulher de Khan, Henny
Khan, disse que as autoridades
ainda estavam retendo o passaporte de seu marido. Ela também elogiou os líderes do governo por sua decisão. "Obviamente nada poderia ter acontecido sem a aprovação do sr.
Zardari [Asif Ali Zardari, atual
presidente paquistanês]."
Khan foi colocado em prisão
domiciliar por prazo indefinido
pelo ex-presidente Musharraf,
depois de ter confessado em
2003 que dirigiu uma rede nuclear ilícita por mais de 15 anos.
Em investigações mais recentes, foi descoberto que a rede de
Khan negociava uma versão
testada, compacta e eficiente
de um projeto de bomba nuclear, que poderia reduzir significativamente o prazo necessário para produzir uma arma
do tipo, para cujo lançamento
seria possível utilizar diversos
mísseis já existentes, entre os
quais o Shahab-3 iraniano.
Em entrevistas a redes locais
de TV, Khan disse que sua confissão de envolvimento em proliferação nuclear, feita em
2004, era "coisa do passado".
No livro "The Nuclear Jihadist" (o jihadista nuclear), Douglas Franz e Catherine Collins
escreveram que Khan fez "mais
para desestabilizar o delicado
equilíbrio nuclear do que qualquer pessoa na história". "Ele
demonstrou de maneira convincente que as salvaguardas e
a mentalidade internacionais
existentes não eram mais funcionais, o que conduz à sombria
conclusão de que qualquer regime e qualquer indivíduo pode
adquirir uma bomba atômica."
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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