São Paulo, sábado, 07 de fevereiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Chávez aperta cerco contra estudantes opositores

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

A pouco mais de uma semana do referendo sobre o projeto de emenda que dará a Hugo Chávez a possibilidade de se candidatar novamente à Presidência da Venezuela, 15 estudantes oposicionistas foram detidos em ações policiais envolvendo manifestações contra o projeto.
O episódio ocorreu anteontem, na cidade de Maracay (110 km a oeste de Caracas). Segundo relatos da imprensa local, um grupo de universitários preparou uma manifestação chamada de "pijamaço", em que simulavam estar dormindo em protesto contra a emenda da reeleição indefinida, que será votada no próximo dia 15, e contra o feriado decretado pelo governador do Estado de Aragua, o chavista Rafael Isea.
Na quarta-feira, dia 4, Isea decretou feriado estadual em homenagem ao fracassado golpe de Estado militar liderado por Chávez em 1992.
O protesto, realizado diante da sede do governo, foi dispersado por bombas de gás lacrimogêneo pela polícia estadual. Quinze estudantes foram detidos e liberados horas depois.
Horas depois, Chávez disse que a atuação da Polícia de Aragua foi "benfeita" e acusou os estudantes de jogar pedras contras as forças de segurança.
"Falem de mim o que quiserem. O Chávez tonto, permissivo, esse ficou em 2002, 2003", disse, anteontem à noite.
Em Caracas, na noite de quarta-feira, a casa do líder universitário Miguel Ponte, da Unimet (Universidade Metropolitana), foi alvo de uma operação de busca e apreensão. O estudante, que prestou depoimento, é acusado de ter tentado incendiar um parque florestal durante um recente confronto com a polícia. Quatro computadores foram levados.

Marcha
Ontem, o Ministério da Justiça autorizou os estudantes oposicionistas a realizar uma marcha em Caracas, marcada para hoje de manhã. O anúncio, feito em entrevista coletiva pelo ministro Tareck El Aissami, contou com a presença do ex-líder estudantil e dirigente oposicionista Stálin González.
No final do evento, Chávez ligou para Aissami para cumprimentá-lo pela reunião e chegou a conversar com González, a quem desejou "sucesso" na manifestação de hoje.
Segundo o líder estudantil David Smolansky, 23, desde o início da campanha, cerca de 70 universitários já foram detidos durante manifestações, embora ninguém estivesse mais preso ontem. "Trata-se de uma estratégia de diminuir a credibilidade do movimento estudantil", disse à Folha.
Sobre a ligação de Chávez para González, Smolansky, disse que não viu "nada em particular". "Foi simplesmente para mostrar o poder centralizador que ele tem. É preciso "deschavizar" o país. Ele quer ser o centro de tudo, e não cairemos nessa armadilha. Estamos protestando contra a emenda, não contra Chávez", disse o estudante de jornalismo da Universidade Católica Andrés Bello.


Texto Anterior: Foco: Líder trotskista, carteiro Besancenot funda Partido Anticapitalista na França
Próximo Texto: ONU suspende ajuda humanitária a Gaza após 2º confisco do Hamas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.