|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Desigualdade social e regional e conflitos represados são ameaça
DE PEQUIM
Intelectuais chineses criticam a ideia da superioridade do
"Consenso de Pequim". Apesar
de reconhecerem o sucesso do
crescimento dos últimos 30
anos, acham que a desigualdade social e os conflitos de interesses podem ser obstáculos no
desenvolvimento do país.
Um deles, o cientista político
Yang Yao, que dirige o Centro
de Pesquisa Econômica da China da Universidade de Pequim,
desacredita a excepcionalidade
do modelo. O sucesso, diz, deve-se à implementação correta
de "doutrinas de mercado neoclássicas": abertura econômica,
privatização, respeito à propriedade e disciplina fiscal.
Yang diz que programas de
redistribuição de renda são mínimos e as remessas do governo central às Províncias são
centradas em obras de infraestrutura. A inflação é controlada
e a carga tributária fica entre
20% e 25% do PIB.
"Como o Partido Comunista
não tem a legitimidade no sentido clássico democrático, ele é
forçado a buscá-la em sua performance, em melhorar a vida
dos cidadãos, o que teve sucesso até agora, mas não vai durar
para sempre", escreveu na revista "Foreign Affairs".
Para o professor, os desafios
estão se acumulando: 90% das
exportações chinesas saem de
nove Províncias litorâneas. "O
interior foi negligenciado, 52%
do PIB equivale à poupança, e o
consumo caiu a um recorde negativo", afirma o especialista.
Ele acha que uma nova crise
deve ocorrer pela soma de desequilíbrios criados com a "arbitrária tomada de terras, a
censura à internet e as cargas
horárias chinesas de trabalho".
Contratos rasgados
Para o economista Huang
Yasheng, do MIT, há diferenças
que devem ser tomadas em
conta para avaliar o sucesso de
pacotes de estímulo.
"Nos EUA, o governo precisa
da confiança da sociedade para
que ela volte a gastar; na China,
como a renda está nas mãos de
governo e estatais, é mais fácil.
Mas a sociedade é pobre", disse
à Folha. "Grupos de interesses
fortes e privilegiados travam a
distribuição igualitária da bonança econômica."
O professor de ciência política da Universidade Northwestern (EUA), Victor Shih, acha
precipitado ver o modelo como
superior. "Quando o mundo
desenvolvido sofre com deficits recorde, é razoável procurar uma nova liderança econômica global, e a China pode parecer um candidato ideal", diz.
"Mas a liderança não depende apenas de reservas. Para ter
um papel global maior, Pequim
terá de seguir certas regras.
Partes do governo continuam a
rasgar contratos. Investidores
domésticos e estrangeiros
saem perdendo muitas vezes."
Texto Anterior: "Consenso de Pequim" brilha na crise e desperta temores Próximo Texto: Boa fase faz China elevar o tom e ceder menos Índice
|