São Paulo, domingo, 07 de fevereiro de 2010

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Desigualdade social e regional e conflitos represados são ameaça

DE PEQUIM

Intelectuais chineses criticam a ideia da superioridade do "Consenso de Pequim". Apesar de reconhecerem o sucesso do crescimento dos últimos 30 anos, acham que a desigualdade social e os conflitos de interesses podem ser obstáculos no desenvolvimento do país.
Um deles, o cientista político Yang Yao, que dirige o Centro de Pesquisa Econômica da China da Universidade de Pequim, desacredita a excepcionalidade do modelo. O sucesso, diz, deve-se à implementação correta de "doutrinas de mercado neoclássicas": abertura econômica, privatização, respeito à propriedade e disciplina fiscal.
Yang diz que programas de redistribuição de renda são mínimos e as remessas do governo central às Províncias são centradas em obras de infraestrutura. A inflação é controlada e a carga tributária fica entre 20% e 25% do PIB.
"Como o Partido Comunista não tem a legitimidade no sentido clássico democrático, ele é forçado a buscá-la em sua performance, em melhorar a vida dos cidadãos, o que teve sucesso até agora, mas não vai durar para sempre", escreveu na revista "Foreign Affairs".
Para o professor, os desafios estão se acumulando: 90% das exportações chinesas saem de nove Províncias litorâneas. "O interior foi negligenciado, 52% do PIB equivale à poupança, e o consumo caiu a um recorde negativo", afirma o especialista.
Ele acha que uma nova crise deve ocorrer pela soma de desequilíbrios criados com a "arbitrária tomada de terras, a censura à internet e as cargas horárias chinesas de trabalho".

Contratos rasgados
Para o economista Huang Yasheng, do MIT, há diferenças que devem ser tomadas em conta para avaliar o sucesso de pacotes de estímulo.
"Nos EUA, o governo precisa da confiança da sociedade para que ela volte a gastar; na China, como a renda está nas mãos de governo e estatais, é mais fácil. Mas a sociedade é pobre", disse à Folha. "Grupos de interesses fortes e privilegiados travam a distribuição igualitária da bonança econômica."
O professor de ciência política da Universidade Northwestern (EUA), Victor Shih, acha precipitado ver o modelo como superior. "Quando o mundo desenvolvido sofre com deficits recorde, é razoável procurar uma nova liderança econômica global, e a China pode parecer um candidato ideal", diz.
"Mas a liderança não depende apenas de reservas. Para ter um papel global maior, Pequim terá de seguir certas regras. Partes do governo continuam a rasgar contratos. Investidores domésticos e estrangeiros saem perdendo muitas vezes."


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