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Boa fase faz China elevar o tom e ceder menos
DE PEQUIM
O sentimento de que o modelo chinês foi mais exitoso que o
ocidental para superar a crise
tem provocado uma confiança
assertiva em Pequim.
Em março, o líder Wu Bangguo, um dos nove membros do
Comitê Permanente do Politburo, a maior instância de poder no país, disse que "a China
nunca copiará o sistema ocidental de vários partidos e de
separação entre os Poderes,
continuaremos sob a liderança
do Partido Comunista".
Na mesma semana, o primeiro-ministro, Wen Jiabao, afirmou que os EUA "deveriam
honrar seus compromissos"
para que as reservas em dólar
do país não se desvalorizassem.
"Os EUA devem cuidar das
economias chinesas", disse, referindo-se aos quase US$ 2 trilhões que o país tem em títulos
do Tesouro americano.
A China sempre protestou ao
ver seus interesses ameaçados,
mas a retórica se tornou mais
agressiva. Ameaçou represálias
comerciais a empresas que
vendam armamento a Taiwan
(que a China considera uma
Província rebelde) e disse que
os EUA sofreriam "severas consequências" se Barack Obama
recebesse o líder tibetano no
exílio, o dalai-lama, que a China
julga terrorista e separatista.
Apesar de pressões externas,
a China condenou em dezembro um famoso dissidente, o
professor Liu Xiaobo, a 11 anos
de prisão e executou um britânico acusado de tráfico de drogas, apesar da alegação de que
ele era doente mental.
Semanas antes, o presidente
Hu Jintao não foi à cúpula sobre mudança climática em Copenhague. Enviou Wen, sem
poder para acordos de último
minuto. Um vice-ministro foi
indicado para negociar com
Obama, algo muito simbólico
na hierárquica China. O Reino
Unido acusou a China de sabotar a cúpula.
Mas os EUA precisam do
apoio da China para impor sanções aos programas nucleares
do Irã e da Coreia do Norte,
aliados do gigante asiático.
O mundo dos negócios não
está imune. "Empresários têm
se queixado muito de mudanças de regras, quebras de contratos e da arrogância das autoridades chinesas", disse à Folha o consultor de empresas
americano James L. McGregor,
que vive há 25 anos na China.
"São os mesmos empresários
que eram cortejados há pouco
para investir no país", diz.
A retórica de enfrentamento
está em alta nos dois lados. Editoriais em jornais americanos
pediram "firmeza" ao presidente Obama ao lidar com a
China. Para o colunista Philip
Bowring, do "International Herald Tribune", o sucesso "fossilizou o sistema político chinês e
fortaleceu o nacionalismo".
"Apesar de anos de deficits,
de ver a pirataria de nossas
marcas, os interesses dos nossos empresários ainda se sobrepõem aos interesses nacionais", diz. "Os EUA precisam
recuperar sua autoconfiança e
perguntar a Pequim: quem precisa mais de quem?"
(RJL)
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