São Paulo, domingo, 07 de fevereiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Boa fase faz China elevar o tom e ceder menos

DE PEQUIM

O sentimento de que o modelo chinês foi mais exitoso que o ocidental para superar a crise tem provocado uma confiança assertiva em Pequim.
Em março, o líder Wu Bangguo, um dos nove membros do Comitê Permanente do Politburo, a maior instância de poder no país, disse que "a China nunca copiará o sistema ocidental de vários partidos e de separação entre os Poderes, continuaremos sob a liderança do Partido Comunista".
Na mesma semana, o primeiro-ministro, Wen Jiabao, afirmou que os EUA "deveriam honrar seus compromissos" para que as reservas em dólar do país não se desvalorizassem.
"Os EUA devem cuidar das economias chinesas", disse, referindo-se aos quase US$ 2 trilhões que o país tem em títulos do Tesouro americano.
A China sempre protestou ao ver seus interesses ameaçados, mas a retórica se tornou mais agressiva. Ameaçou represálias comerciais a empresas que vendam armamento a Taiwan (que a China considera uma Província rebelde) e disse que os EUA sofreriam "severas consequências" se Barack Obama recebesse o líder tibetano no exílio, o dalai-lama, que a China julga terrorista e separatista.
Apesar de pressões externas, a China condenou em dezembro um famoso dissidente, o professor Liu Xiaobo, a 11 anos de prisão e executou um britânico acusado de tráfico de drogas, apesar da alegação de que ele era doente mental.
Semanas antes, o presidente Hu Jintao não foi à cúpula sobre mudança climática em Copenhague. Enviou Wen, sem poder para acordos de último minuto. Um vice-ministro foi indicado para negociar com Obama, algo muito simbólico na hierárquica China. O Reino Unido acusou a China de sabotar a cúpula.
Mas os EUA precisam do apoio da China para impor sanções aos programas nucleares do Irã e da Coreia do Norte, aliados do gigante asiático.
O mundo dos negócios não está imune. "Empresários têm se queixado muito de mudanças de regras, quebras de contratos e da arrogância das autoridades chinesas", disse à Folha o consultor de empresas americano James L. McGregor, que vive há 25 anos na China.
"São os mesmos empresários que eram cortejados há pouco para investir no país", diz.
A retórica de enfrentamento está em alta nos dois lados. Editoriais em jornais americanos pediram "firmeza" ao presidente Obama ao lidar com a China. Para o colunista Philip Bowring, do "International Herald Tribune", o sucesso "fossilizou o sistema político chinês e fortaleceu o nacionalismo".
"Apesar de anos de deficits, de ver a pirataria de nossas marcas, os interesses dos nossos empresários ainda se sobrepõem aos interesses nacionais", diz. "Os EUA precisam recuperar sua autoconfiança e perguntar a Pequim: quem precisa mais de quem?" (RJL)


Texto Anterior: Desigualdade social e regional e conflitos represados são ameaça
Próximo Texto: Cena local move Obama contra China
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.