São Paulo, domingo, 07 de fevereiro de 2010

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Cena local move Obama contra China

Objetivo americano de manter superioridade militar no Pacífico também é fator de pressão na relação bilateral

Guinada de Washington no trato com Pequim obedece a cálculos de política interna e é permeada por pressão pela apreciação do yuan

CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO

A guinada de 180 graus do governo de Barack Obama em relação à China -e em especial a decisão de retomar a venda de armas a Taiwan- obedeceu a cálculos de política interna e à percepção em Washington de que Pequim pode minar a supremacia militar americana na região do Pacífico.
O democrata vinha sendo acusado de condescendência com o país que é o maior credor dos EUA -mas que também depende dele para o comércio e a manutenção do valor de suas reservas em dólares e títulos americanos.
"A equipe de Obama parecia passiva demais em aceitar críticas de um governo que vive numa Cidade Proibida com telhados de vidro", escreveu David Rothkopf, analista da revista "Foreign Policy".
Desde a crise financeira, Washington reforçou a demanda para que Pequim participe da solução de problemas globais. Flertou com a ideia de um G2, mas reage mal quando as posições chinesas não coincidem com as suas.
Acusada de não "cooperar" na questão do Irã, a China foi responsabilizada pelo acordo fraco na conferência do clima em Copenhague, à qual os EUA levaram proposta aquém da responsabilidade de poluidor histórico. Pequim é instada a valorizar sua moeda, o yuan, enquanto o dólar desvalorizado impulsiona a meta americana de dobrar as exportações.
Há pouca disponibilidade em Washington para esperar resultados da diplomacia, diz o embaixador Charles Freeman, um dos maiores conhecedores da China nos EUA.
"A América não está habituada a lidar com centros independentes de poder. Seus políticos não estão acostumados a formular políticas por meio de consultas multilaterais", argumenta ele.
Na área militar, as rusgas crescem desde que a China, em 2009, acusou de espionagem navios militares americanos que estavam em sua Zona Econômica Exclusiva. Os EUA, que não assinaram a Convenção do Direito do Mar, viram nisso disposição chinesa de assegurar não interferência em seu entorno imediato.
São crescentes os alertas sobre a modernização militar chinesa, embora o orçamento de Pequim para a defesa equivalha a um décimo do americano, para população mais de quatro vezes maior.
Freeman vê exagero nesse alarme, mas afirma que programas de armas antinavio e antissatélite, além das operações chinesas no ciberespaço, são um desafio para o objetivo americano de manter superioridade militar.
A estratégia dos EUA é cercar a China com acordos bilaterais que lhe garantem aliados e presença militar no Pacífico. Mas possíveis ramificações políticas da integração econômica entre os chineses e os vizinhos são vistas com desconfiança pelos americanos.
O novo governo japonês ventilou a ideia de uma Comunidade do Leste da Ásia e, na semana passada, o jornal oficial "China Daily" destacou resultado de um relatório conjunto de historiadores chineses e japoneses, em que os últimos reconheceram que a invasão da China em 1937 foi um "ato de agressão".


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