São Paulo, domingo, 07 de fevereiro de 2010

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entrevista

"Pequim quer ver cumprido pacto de 1982"

DA SUCURSAL DO RIO

O embaixador aposentado Charles Freeman, que morou em Taiwan e estuda a China desde que foi intérprete da visita de Richard Nixon (1972), diz que Pequim quer cumprimento de acordo de 1982.

 


FOLHA - É boa política a decisão de vender arma a Taiwan?
CHARLES FREEMAN - As vendas não mudarão a balança militar entre Taiwan e a China continental, inclinada enormemente em favor da última. A decisão tem motivações políticas, que incluem aumentar a confiança do governo Ma Ying-jeou, em Taipé, demonstrando à oposição independentista que o presidente taiwanês tem o apoio de Washington. Em casa, o governo Obama mostra fidelidade à Lei das Relações com Taiwan [que desde 1979 embasa o apoio à ilha, mesmo sem reconhecimento formal de sua autonomia] e refuta críticos da direita que o acusaram de ser tíbio com a China. A decisão não surpreende, mas não a chamaria de sábia, pois terá custos na relação bilateral.

FOLHA - Como o sr. avalia a reação chinesa?
FREEMAN - A China ameaçou retaliar e, para manter sua credibilidade, deverá fazê-lo. Alguns especulam que a reação é resultado de disputas na liderança chinesa ou demonstração de arrogância. Eu a interpreto como uma barganha dirigida a abrir negociações para o cumprimento do Comunicado Conjunto de 17 de agosto de 1982, no qual os EUA prometeram reduzir paulatinamente a qualidade e o volume das vendas de armas a Taiwan. Desde 1992, quando o governo de Bush pai vendeu [caças] F-16, os EUA não honram o pacto. Falta saber se a China calculou bem o que é possível obter do governo Obama.

FOLHA - A impressão é que a política externa de Obama deixou a abordagem de privilegiar as negociações. Por quê?
FREEMAN - No final, há mais continuidade do que mudança na política externa. As prioridades domésticas continuam a eclipsar as questões externas. A negociação com o Irã se mostrou elusiva. Os israelenses continuam a desafiar Washington impunemente na questão da solução de dois Estados para sua relação com os palestinos. O recomeço com a Rússia ainda está por produzir benefícios claros para os dois lados.
Dadas essas frustrações, o governo está voltando às práticas usuais e deixando de enfatizar as diferenças com seus antecessores.


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