|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
entrevista
"Pequim quer ver cumprido pacto de 1982"
DA SUCURSAL DO RIO
O embaixador aposentado Charles Freeman,
que morou em Taiwan e
estuda a China desde que
foi intérprete da visita de
Richard Nixon (1972), diz
que Pequim quer cumprimento de acordo de 1982.
FOLHA - É boa política a decisão de vender arma a Taiwan?
CHARLES FREEMAN - As vendas não mudarão a balança militar entre Taiwan e a
China continental, inclinada enormemente em favor da última. A decisão
tem motivações políticas,
que incluem aumentar a
confiança do governo Ma
Ying-jeou, em Taipé, demonstrando à oposição independentista que o presidente taiwanês tem o
apoio de Washington.
Em casa, o governo Obama mostra fidelidade à Lei
das Relações com Taiwan
[que desde 1979 embasa o
apoio à ilha, mesmo sem
reconhecimento formal
de sua autonomia] e refuta
críticos da direita que o
acusaram de ser tíbio com
a China. A decisão não surpreende, mas não a chamaria de sábia, pois terá
custos na relação bilateral.
FOLHA - Como o sr. avalia a
reação chinesa?
FREEMAN - A China ameaçou retaliar e, para manter
sua credibilidade, deverá
fazê-lo. Alguns especulam
que a reação é resultado de
disputas na liderança chinesa ou demonstração de
arrogância.
Eu a interpreto como
uma barganha dirigida a
abrir negociações para o
cumprimento do Comunicado Conjunto de 17 de
agosto de 1982, no qual os
EUA prometeram reduzir
paulatinamente a qualidade e o volume das vendas
de armas a Taiwan.
Desde 1992, quando o
governo de Bush pai vendeu [caças] F-16, os EUA
não honram o pacto. Falta
saber se a China calculou
bem o que é possível obter
do governo Obama.
FOLHA - A impressão é que a
política externa de Obama deixou a abordagem de privilegiar as negociações. Por quê?
FREEMAN - No final, há
mais continuidade do que
mudança na política externa. As prioridades domésticas continuam a
eclipsar as questões externas. A negociação com o
Irã se mostrou elusiva. Os
israelenses continuam a
desafiar Washington impunemente na questão da
solução de dois Estados
para sua relação com os
palestinos. O recomeço
com a Rússia ainda está
por produzir benefícios
claros para os dois lados.
Dadas essas frustrações,
o governo está voltando às
práticas usuais e deixando
de enfatizar as diferenças
com seus antecessores.
Texto Anterior: Cena local move Obama contra China Próximo Texto: Potências não confiam em acordo com o Irã Índice
|