São Paulo, domingo, 07 de fevereiro de 2010

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entrevista

País precisa de reforma política, diz analista

DE GENEBRA

Mais do que se equilibrar entre Rússia e União Europeia, o próximo presidente da Ucrânia precisará lançar urgentemente uma reforma política que corrija a ambiguidade institucional no governo do país, afirma Pavol Demes, diretor do German Marshall Fund em Bratislava e supervisor do programa do instituto para Europa Central e do Leste. (LC)

 


FOLHA - A Ucrânia vai ficar mais próxima da Rússia do que sob Viktor Yushchenko?
PAVOL DEMES - Sim, mas é como dizer que sob [Barack] Obama os EUA estão mais próximos da Rússia que sob George W. Bush. Qual o problema se a Ucrânia quer desenvolver laços melhores com a Rússia, depois que Yushchenko arruinou as relações com todo o mundo?

FOLHA - Houve tensão com a possibilidade de a Ucrânia se unir à União Europeia e à Otan.
DEMES - São projetos irrealistas. Para a Ucrânia, no momento, é muito melhor desenvolver relações melhores tanto com a UE como com a Rússia. A Otan não é uma questão agora, pois a população é contra. A chave para a Ucrânia é econômica, pois todos esses problemas políticos domésticos nos últimos anos levaram o país a graves problemas econômicos, e é por isso que a Rússia é importante. Não é uma questão filosófica, é pragmática.

FOLHA - Que rumo essa parceria tomaria?
DEMES - A economia ucraniana e a russa são interdependentes em energia e agricultura, e a chave é desenvolver laços que não permitam à Rússia dominar a economia. É preciso tratar as coisas como questões de mercado. A Ucrânia deveria pagar pelas commodities russas o mesmo preço que os demais, para não ser pressionada depois a fazer isso ou aquilo por conta do preço subsidiado.

FOLHA - O sr. diz que o país está politicamente mais maduro, mas, ao mesmo tempo, os resultados da Revolução Laranja se esfacelaram.
DEMES - Eu concordo. Acho que a população esperava que a Revolução Laranja trouxesse uma cultura política diferente, que a corrupção diminuísse, que o Judiciário melhorasse, e isso não aconteceu. Em segundo lugar, esperava que os políticos fossem ficar menos polarizados, e isso também acabou não se materializando.

FOLHA - Yushchenko é o culpado ou é um problema mais amplo da classe política?
DEMES - Yushchenko fracassou como presidente, mas eu acho que a culpa também é do sistema político na Ucrânia. Todo mundo concorda que eles precisam de uma reforma constitucional. A divisão de poderes não é clara. E a relação entre poderes econômicos e políticos também é confusa.


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