São Paulo, domingo, 07 de março de 2004

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UMA VISÃO DE DIREITA

Segurança e economia são êxitos de Bush


Os republicanos não têm problemas com a atitude de Bush, sabendo que trabalharemos com nossos aliados quando pudermos e que os interesses dos EUA têm de ser prioritários


DA REDAÇÃO

George W. Bush merece um segundo mandato porque sua resposta ao 11 de Setembro foi correta tanto interna quanto externamente e sua iniciativa de reduzir impostos foi benéfica à economia.
A análise é de Trent England, diretor de análises políticas e analista de política legal da Fundação Heritage (Washington), um dos mais influentes centros de pesquisas conservadores dos EUA.
Leia a seguir trechos de sua entrevista, por telefone, à Folha. (MÁRCIO SENNE DE MORAES)
 
Folha - Por que o sr. pensa que Bush merece ser reeleito?
Trent England -
Há inúmeras razões pelas quais Bush merece ter um segundo mandato. Obviamente, sua resposta aos ataques de 11 de setembro de 2001 foi adequada tanto no que concerne à segurança interna quanto no que diz respeito à guerra ao terrorismo. A atual administração está fazendo um ótimo trabalho em sua perseguição aos terroristas.
Os americanos tiram vantagens dessa política porque se sentem menos vulneráveis, e os estrangeiros também, já que a ameaça terrorista se tornou menos grave. Os iraquianos e os afegãos também foram beneficiados por esse esforço do governo, pois estão livres do regime terrorista que dominava seu país.
Outro ponto importante é a economia. Os cortes de impostos aprovados no Congresso estão começando a mostrar-se benéficos. Isso já influencia a Bolsa de Valores, que começa a dar sinais de estar retomando o caminho do crescimento, deixando para trás o difícil período que atravessou no final da década passada.
A combinação da redução de impostos com o livre comércio deu grandes resultados, e Bush realmente acredita que ela possa nos levar a uma situação de crescimento estável.

Folha - Seu segundo mandato será diferente do primeiro?
England -
A eleição de 2000 foi dramática, pois alguns de seus adversários políticos tentaram fazer com que as pessoas pensassem que seu mandato não era forte o suficiente por conta dos problemas ocorridos com a contagem dos votos na Flórida. Não creio que as alegações fossem legítimas, mas, em algumas áreas, aquilo afetou o governo de Bush -ao menos até o 11 de Setembro.
Mesmo depois dos atentados, em algumas questões domésticas o governo foi mais tímido do que seria normalmente por conta da controvérsia de 2000. Uma vitória clara de Bush, em novembro, tirará boa parte da munição de seus adversários e permitirá que ele tenha um mandato mais forte.

Folha - O sr. falou de livre comércio, mas muitos analistas latino-americanos diriam que o governo de Bush é protecionista. Por quê?
England -
Há um anseio por protecionismo em vários segmentos da sociedade, como nos sindicatos. Embora não entenda o funcionamento da economia, esse movimento tem seu valor político. É por isso que vimos a administração sendo obrigada a moderar algumas de suas posições relacionadas ao livre comércio.
Sei que o representante comercial americano [Robert Zoellick] vem aplicando sua visão de um mundo que, no futuro, estará livre de tarifas aduaneiras. Creio que sua idéia seja que possamos atingir esse estágio em 15 ou 20 anos. Contudo o que é ainda mais importante é que essa idéia exista.
O governo de Bush aprendeu que o livre comércio teria sido a melhor saída em casos em que tentou impor barreiras ao comércio internacional e criou controvérsia, como no caso das tarifas sobre o valor do aço importado.

Folha - O sr. pensa que a América Latina terá mais importância para Bush em seu segundo mandato?
England -
Muitas vezes, a América Latina foi negligenciada por presidentes e pelo Congresso americanos. A guerra ao terrorismo faz com que as questões internacionais se tornem mais importantes, e os países situados no continente americano deverão ganhar peso nessa equação.
Há muita preocupação, em Washington, com a possibilidade de o tráfico de drogas financiar atividades terroristas, e isso afeta vários países latino-americanos, como a Colômbia.

Folha - E quanto à Alca [Área de Livre Comércio das Américas]?
England -
Se o atual governo for obstinado em sua busca pela aprovação da Alca, esta terá boas chances de ser adotada. Todavia, como em várias outras áreas, tudo depende das eleições legislativas. Se os republicanos conseguirem conquistar uma maioria mais folgada no Senado, grande parte da pauta do partido será aprovada. E isso também vale para a Alca.

Folha - A política externa americana será menos unilateralista?
England -
Trata-se de uma questão que será bastante discutida na campanha. John Kerry [virtual candidato democrata] vem tentando caracterizar a política externa de Bush como isolacionista ao afirmar que o presidente ignorou nossos aliados tradicionais.
Penso que os republicanos não têm problemas com a atitude de Bush, sabendo que trabalharemos com nossos aliados quando pudermos e que os interesses dos EUA têm de ser prioritários.
Além disso, o governo conseguiu explicar à população a razão pela qual devemos agir dessa forma, devendo manter esse argumento. Após o 11 de Setembro, os americanos entenderam que o primeiro trabalho do governo federal é proteger o país. Não creio que Kerry venha a atrair muitos eleitores atacando a política externa da administração de Bush.
Esta, aliás, vem tentando reaproximar-se dos aliados com os quais teve problemas. Isso vem ocorrendo em áreas nas quais compartilhamos idéias e valores. Trabalhamos com alguns deles no Afeganistão, com outros no Iraque. Bush mostrou que não é isolacionista e deixou claro que não aceitará que um punhado de países europeus dite sua política.

Folha - Há algo no governo de Bush que poderia ser melhorado?
England -
O déficit público é inquietante. A administração tem de conter os gastos não relacionados à defesa. A maioria dos conservadores que não estão na Casa Branca pensa que Bush não fez o bastante para reduzir o déficit.
O governo tem de conter o apetite do Congresso no que se refere a gastos públicos. A base de apoio de Bush espera que seu governo cumpra a promessa de não gastar demais, e o grau de apoio que ela dará ao presidente em seu segundo mandato dependerá disso.



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