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UMA VISÃO DE DIREITA
Segurança e economia são êxitos de Bush
Os republicanos não têm problemas com a atitude de Bush, sabendo que trabalharemos com nossos aliados quando pudermos e que os interesses dos EUA têm de ser prioritários
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DA REDAÇÃO
George W. Bush merece um segundo mandato porque sua resposta ao 11 de Setembro foi correta tanto interna quanto externamente e sua iniciativa de reduzir
impostos foi benéfica à economia.
A análise é de Trent England, diretor de análises políticas e analista de política legal da Fundação
Heritage (Washington), um dos
mais influentes centros de pesquisas conservadores dos EUA.
Leia a seguir trechos de sua entrevista, por telefone, à Folha.
(MÁRCIO SENNE DE MORAES)
Folha - Por que o sr. pensa que
Bush merece ser reeleito?
Trent England - Há inúmeras razões pelas quais Bush merece ter
um segundo mandato. Obviamente, sua resposta aos ataques
de 11 de setembro de 2001 foi adequada tanto no que concerne à segurança interna quanto no que
diz respeito à guerra ao terrorismo. A atual administração está fazendo um ótimo trabalho em sua
perseguição aos terroristas.
Os americanos tiram vantagens
dessa política porque se sentem
menos vulneráveis, e os estrangeiros também, já que a ameaça terrorista se tornou
menos grave. Os
iraquianos e os
afegãos também
foram beneficiados por esse esforço do governo,
pois estão livres
do regime terrorista que dominava seu país.
Outro ponto importante é a economia. Os cortes
de impostos aprovados no Congresso estão começando a mostrar-se benéficos.
Isso já influencia a
Bolsa de Valores,
que começa a dar
sinais de estar retomando o caminho do crescimento, deixando
para trás o difícil
período que atravessou no final da
década passada.
A combinação da redução de
impostos com o livre comércio
deu grandes resultados, e Bush
realmente acredita que ela possa
nos levar a uma situação de crescimento estável.
Folha - Seu segundo mandato será diferente do primeiro?
England - A eleição de 2000 foi
dramática, pois alguns de seus adversários políticos tentaram fazer
com que as pessoas pensassem
que seu mandato não era forte o
suficiente por conta dos problemas ocorridos com a contagem
dos votos na Flórida. Não creio
que as alegações fossem legítimas,
mas, em algumas áreas, aquilo
afetou o governo de Bush -ao
menos até o 11 de Setembro.
Mesmo depois dos atentados,
em algumas questões domésticas
o governo foi mais tímido do que
seria normalmente por conta da
controvérsia de 2000. Uma vitória
clara de Bush, em novembro, tirará boa parte da munição de seus
adversários e permitirá que ele tenha um mandato mais forte.
Folha - O sr. falou de livre comércio, mas muitos analistas latino-americanos diriam que o governo
de Bush é protecionista. Por quê?
England - Há um anseio por protecionismo em vários segmentos
da sociedade, como nos sindicatos. Embora não entenda o funcionamento da economia, esse
movimento tem seu valor político. É por isso que vimos a administração sendo obrigada a moderar algumas de suas posições relacionadas ao livre comércio.
Sei que o representante comercial americano [Robert Zoellick]
vem aplicando sua visão de um
mundo que, no futuro, estará livre
de tarifas aduaneiras. Creio que
sua idéia seja que possamos atingir esse estágio em 15 ou 20 anos.
Contudo o que é ainda mais importante é que essa idéia exista.
O governo de Bush aprendeu
que o livre comércio teria sido a
melhor saída em casos em que
tentou impor barreiras ao comércio internacional e criou controvérsia, como no caso das tarifas
sobre o valor do aço importado.
Folha - O sr. pensa que a América
Latina terá mais importância para
Bush em seu segundo mandato?
England - Muitas vezes, a América Latina foi negligenciada por
presidentes e pelo Congresso
americanos. A guerra ao terrorismo faz com que as questões internacionais se tornem mais importantes, e os países situados no
continente americano deverão
ganhar peso nessa equação.
Há muita preocupação, em
Washington, com a possibilidade
de o tráfico de drogas financiar
atividades terroristas, e isso afeta
vários países latino-americanos,
como a Colômbia.
Folha - E quanto à Alca [Área de
Livre Comércio das Américas]?
England - Se o atual governo for
obstinado em sua busca pela
aprovação da Alca, esta terá boas
chances de ser adotada. Todavia,
como em várias
outras áreas, tudo
depende das eleições legislativas.
Se os republicanos conseguirem
conquistar uma
maioria mais folgada no Senado,
grande parte da
pauta do partido
será aprovada. E
isso também vale
para a Alca.
Folha - A política
externa americana
será menos unilateralista?
England - Trata-se de uma questão
que será bastante
discutida na campanha. John
Kerry [virtual
candidato democrata] vem tentando caracterizar a política externa de Bush como isolacionista
ao afirmar que o presidente ignorou nossos aliados tradicionais.
Penso que os republicanos não
têm problemas com a atitude de
Bush, sabendo que trabalharemos
com nossos aliados quando pudermos e que os interesses dos
EUA têm de ser prioritários.
Além disso, o governo conseguiu explicar à população a razão
pela qual devemos agir dessa forma, devendo manter esse argumento. Após o 11 de Setembro, os
americanos entenderam que o
primeiro trabalho do governo federal é proteger o país. Não creio
que Kerry venha a atrair muitos
eleitores atacando a política externa da administração de Bush.
Esta, aliás, vem tentando reaproximar-se dos aliados com os
quais teve problemas. Isso vem
ocorrendo em áreas nas quais
compartilhamos idéias e valores.
Trabalhamos com alguns deles no
Afeganistão, com outros no Iraque. Bush mostrou que não é isolacionista e deixou claro que não
aceitará que um punhado de países europeus dite sua política.
Folha - Há algo no governo de
Bush que poderia ser melhorado?
England - O déficit público é inquietante. A administração tem
de conter os gastos não relacionados à defesa. A maioria dos conservadores que não estão na Casa
Branca pensa que Bush não fez o
bastante para reduzir o déficit.
O governo tem de conter o apetite do Congresso no que se refere
a gastos públicos. A base de apoio
de Bush espera que seu governo
cumpra a promessa de não gastar
demais, e o grau de apoio que ela
dará ao presidente em seu segundo mandato dependerá disso.
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