|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"VIETNÃ ISRAELENSE"
Guerrilheiros aprenderam a usar estratégias de Israel
ROBERT FISK
do "The Independent"
Houve uma época em que os
palestinos diziam que o Líbano
se tornaria o Vietnã de Israel.
Os israelenses riram da
ameaça, invadiram o Líbano
em 1982 (pela segunda vez em
quatro anos), expulsaram a
OLP (Organização para a Libertação da Palestina) de Beirute e, por força da ferocidade
de seus ataques, criaram o Hizbollah.
Agora, o Hizbollah veio concretizar a previsão palestina.
Não apenas Israel perdeu a
guerra do Líbano -foi redondamente derrotado por um dos
mais profissionais exércitos
guerrilheiros do mundo-, como já deixou de meter medo
nos libaneses.
Na semana retrasada, um coronel israelense e dois soldados
foram mortos no sul do Líbano, na área sob ocupação israelense inacreditavelmente chamada de "zona de segurança".
Na passada, a mesma coisa
aconteceu com um general e
três de seus soldados.
Qual foi a reação israelense?
A mesma retórica sobre "combater o terrorismo" que se ouve
há mais de 20 anos.
A inanidade da tão propagandeada "vingança" ficou clara pelo nome escolhido para a
mais recente incursão retaliatória israelense no Líbano:
"Operação Terra, Mar e Ar".
A triste verdade é que nenhum soldado israelense hoje
ousa pôr os pés fora da zona
ocupada; nenhum soldado se
aventura a avançar a pé, ou
mesmo com tanques, para atacar guerrilheiros do Hizbollah.
É o que basta para eliminar o
elemento "terra" da operação.
O Líbano será alvejado pelos
disparos de artilharia de sempre. Em apenas 48 horas na semana passada, houve pelo menos 23 ataques aéreos - são
cerca de 1.400 em 12 meses.
E a pequena canhoneira classe Hetz que está disparando
contra o antigo acampamento
palestino de Nahme, ao sul de
Beirute -um alvo que não
guarda a menor relação com o
Hizbollah-, não vai preocupar os homens que estão destruindo Israel no sul do Líbano.
Na realidade, o que o Hizbollah vem fazendo é copiar cuidadosamente táticas israelenses e voltá-las contra o inimigo.
Quando Israel começou a
usar o sistema analógico para
detonar bombas escondidas
atrás de pedras, os guerrilheiros copiaram a tecnologia.
Quando os israelenses blindaram seus grandes tanques
Merkava para prevenir ataques
por foguetes, o Hizbollah
aprendeu a disparar mísseis
nos pontos de junção das chapas blindadas.
Quando os israelenses se gabaram das proezas do seu serviço de inteligência no sul do
Líbano, o Hizbollah subornou
ou chantageou colaboradores
libaneses de Israel na região,
membros do Exército do Sul do
Líbano, e forçou-os a trair seus
patrões.
Mas o Hizbollah também copiou outra tática israelense de
poder destrutivo muito maior.
No passado, era parte da política israelense obrigar a população civil libanesa a pagar pela
presença dos guerrilheiros no
sul do Líbano. A idéia era simples: o sofrimento imposto aos
civis seria tão grande que obrigaria o governo libanês a desarmar o Hizbollah.
Agora, é o Hizbollah que
ameaça disparar saraivadas de
foguetes contra o norte de Israel. E são os israelenses que
imploram a seu governo para
que retire as tropas do Líbano.
É justamente nisso que consiste a beleza da confusão toda,
do ponto de vista dos libaneses
e dos aliados sírios e iranianos
do Hizbollah.
A Síria quer a devolução das
colinas do Golã, ocupadas por
Israel. A continuação da guerra
movida pelo Hizbollah contra a
ocupação do sul do Líbano é a
única forma de pressão sangrenta que Damasco pode aplicar sobre Israel.
Já os libaneses recebem com
escárnio as condições propostas por Israel para se retirar da
região. "Obedeçam a resolução
425 do Conselho de Segurança
da ONU", respondem. A resolução, de 1978, exige "a retirada
total e incondicional".
Na realidade, os libaneses
não têm pressa de ver os israelenses partirem. Mas Israel está
tentando desesperadamente
sair da região.
E os soldados israelenses têm
tanto medo que, quando têm licença, preferem percorrer -a
pé e à noite, através de uma zona rural e o mais distante possível das estradas- os cerca de
20 quilômetros que os separam
da fronteira israelense.
Tradução de
Clara Allain
Texto Anterior: Sul do Líbano: Israelense descreve guerra contra Hizbollah Próximo Texto: Saiba o que é o Hizbollah Índice
|