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São Paulo, segunda-feira, 07 de abril de 2003

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Rodríguez Saá quer "colocar argentinos para trabalhar"

ENVIADO ESPECIAL A SAN LUIS

Adolfo Rodríguez Saá foi presidente da Argentina por sete dias. Em janeiro de 2001, ele não conseguiu o apoio necessário para levar adiante as medidas que havia anunciado em seu primeiro dia de mandato. Agora candidato, Rodriguez Saá diz que terá todo o apoio necessário. "Os partidos políticos vão respeitar a vontade popular. E essa será a tarefa do presidente: convocar todos os argentinos para que se respeite a vontade popular."
Inspirado no presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt (1882-1945), ele anunciou 125 medidas que seriam tomadas nos cem primeiros dias de seu governo. Medidas, diz Rodríguez Saá, que acabarão com "as causas da decadência argentina".
Governador da Província de San Luis desde 1983, o candidato espera governar o país com o mesma receita que, diz, fez com que ele fosse reeleito quatro vezes seguidas: corte de gastos, reforma do Estado e grandes obras de infra-estrutura pública.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista que ele concedeu à Folha. (MARCELO BILLI)

Folha - O sr. começa seu plano de governo dizendo que acabará com as causas da decadência argentina. A que se refere e como fará isso?
Adolfo Rodríguez Saá -
A decadência argentina se refere, fundamentalmente, a tudo o que provoca a corrupção em nosso país. Na Argentina, se entronizou a cultura do lucro em lugar da cultura do trabalho. Em qualquer país, as pessoas progridem trabalhando e produzindo. A causa da decadência argentina é o não-trabalho. Os produtores sempre esperam tudo do Estado. Temos de criar um capitalismo saudável na Argentina.

Folha - Como se cria um capitalismo saudável?
Rodríguez Saá -
É preciso eliminar as causas a que me referi. Precisamos colocar todos os argentinos para trabalhar. Se os argentinos tiverem trabalho, terminarão todos os problemas da Argentina. Ao invés de dar um "plano chefes" [benefício que o governo argentino concede à chefes de família desempregados" de 150 pesos, damos um emprego de 300 pesos, por exemplo, para que os trabalhadores trabalhem no reflorestamento do território ou construindo canais para liberar 6 milhões de hectares de terra que hoje estão inundados. A Argentina tem 70% de seu aparato produtivo ocioso. É uma situação diferente da do Brasil. Para aumentar a produção, o Brasil precisa investir. Nós temos um aparato produtivo imenso e amplo que hoje não produz.

Folha - Essas medidas exigem investimentos pesados. O sr. fala em reflorestamento, na criação de uma indústria de medicamentos genéricos e de uma petroleira estatal. O FMI exigirá menos gastos.
Rodríguez Saá -
Quem falou em gastar mais? Eu proponho gastar menos, mas gastar bem. Na Argentina se gasta muito mal. Temos de combater o que eu chamo de nichos de corrupção estrutural. O Estado tem de assumir uma posição de austeridade. Reformar o Orçamento, eliminar a corrupção. Mesmo com recursos escassos, temos de criar um plano de reativação econômica ao estilo do que fez Roosevelt nos EUA. Temos de economizar, e isso é possível, mais de 6 bilhões de pesos eliminando a corrupção. Vamos colocar a serviço do país outros 5 bilhões de pesos dos 15 bilhões que usaríamos para pagar juros da dívida. É suficiente para pôr em marcha todas as 125 medidas, e a Argentina passará a ter um Orçamento com superávit. E é possível fazer. Eu governei por 18 anos a Província de San Luis e foi a única [Província" com superávit fiscal durante 18 anos.

Folha - O sr. não pôde governar em janeiro de 2001 porque não conseguiu o apoio do seu próprio partido, o PJ. Os peronistas chegam à eleição divididos em três grandes grupos. Como o sr. conseguirá apoio para governar?
Rodríguez Saá -
O presidente Lula tem apoio no Brasil? O presidente Lula não teve os votos suficientes no primeiro turno e obteve um respaldo formidável no segundo turno. O presidente da Argentina será eleito, se não obtiver os votos necessários em 27 de abril, no segundo turno. Seja quem for, e creio que serei eu, terá um enorme respaldo popular. Com isso e cumprindo com o programa de governo, temos de chegar à governabilidade.

Folha - Mas este governo terá que lidar, por três meses, com o mesmo Parlamento de janeiro de 2001.
Rodríguez Saá -
Os partidos políticos da Argentina irão respeitar a vontade popular. E essa será a tarefa do presidente: convocar todos os argentinos para que se respeite a vontade popular.

Folha - Qual será sua política em relação ao Brasil e ao Mercosul?
Rodríguez Saá -
Teremos as melhores relações com o Brasil. De acordo com nossa concepção, a região da Argentina é o Mercosul. E, nas 125 medidas, propusemos uma quantidade enorme de políticas que coincidem não apenas com o que propõe o presidente brasileiro, como também com o que propõem os demais países do bloco. Com mais amizade e solidariedade entre nossos povos, vamos encontrar um caminho. Com moeda única, livre circulação de bens, serviços e pessoas, projetos comuns de infra-estrutura. Por que não um plano ferroviário? Por que não planos comuns para o desenvolvimento econômico e social de nossos países? Este é nosso desafio. Nós vamos fazer uma gestão marcadamente a favor do Mercosul.

Folha - Uma das primeiras tarefas do governo será negociar um novo acordo com o FMI. Como o sr. pretende lidar com o Fundo?
Rodríguez Saá -
Nosso problema com a dívida é gravíssimo. Temos de tratar os organismos internacionais de crédito de forma séria e respeitosa. Mas primeiro temos de colocar a Argentina em marcha. Uma vez que a Argentina esteja trabalhando, que o setor produtivo tenha voltado a funcionar, não teremos nenhum problema com a dívida.


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