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Rodríguez Saá quer "colocar argentinos para trabalhar"
ENVIADO ESPECIAL A SAN LUIS
Adolfo Rodríguez Saá foi presidente da Argentina por sete dias.
Em janeiro de 2001, ele não conseguiu o apoio necessário para levar
adiante as medidas que havia
anunciado em seu primeiro dia de
mandato. Agora candidato, Rodriguez Saá diz que terá todo o
apoio necessário. "Os partidos
políticos vão respeitar a vontade
popular. E essa será a tarefa do
presidente: convocar todos os argentinos para que se respeite a
vontade popular."
Inspirado no presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt
(1882-1945), ele anunciou 125 medidas que seriam tomadas nos
cem primeiros dias de seu governo. Medidas, diz Rodríguez Saá,
que acabarão com "as causas da
decadência argentina".
Governador da Província de
San Luis desde 1983, o candidato
espera governar o país com o
mesma receita que, diz, fez com
que ele fosse reeleito quatro vezes
seguidas: corte de gastos, reforma
do Estado e grandes obras de infra-estrutura pública.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista que ele concedeu à Folha.
(MARCELO BILLI)
Folha - O sr. começa seu plano de
governo dizendo que acabará com
as causas da decadência argentina.
A que se refere e como fará isso?
Adolfo Rodríguez Saá - A decadência argentina se refere, fundamentalmente, a tudo o que provoca a corrupção em nosso país. Na
Argentina, se entronizou a cultura
do lucro em lugar da cultura do
trabalho. Em qualquer país, as
pessoas progridem trabalhando e
produzindo. A causa da decadência argentina é o não-trabalho. Os
produtores sempre esperam tudo
do Estado. Temos de criar um capitalismo saudável na Argentina.
Folha - Como se cria um capitalismo saudável?
Rodríguez Saá - É preciso eliminar as causas a que me referi. Precisamos colocar todos os argentinos para trabalhar. Se os argentinos tiverem trabalho, terminarão
todos os problemas da Argentina.
Ao invés de dar um "plano chefes"
[benefício que o governo argentino concede à chefes de família desempregados" de 150 pesos, damos um emprego de 300 pesos,
por exemplo, para que os trabalhadores trabalhem no reflorestamento do território ou construindo canais para liberar 6 milhões
de hectares de terra que hoje estão
inundados. A Argentina tem 70%
de seu aparato produtivo ocioso.
É uma situação diferente da do
Brasil. Para aumentar a produção,
o Brasil precisa investir. Nós temos um aparato produtivo imenso e amplo que hoje não produz.
Folha - Essas medidas exigem investimentos pesados. O sr. fala em
reflorestamento, na criação de
uma indústria de medicamentos
genéricos e de uma petroleira estatal. O FMI exigirá menos gastos.
Rodríguez Saá - Quem falou em
gastar mais? Eu proponho gastar
menos, mas gastar bem. Na Argentina se gasta muito mal. Temos de combater o que eu chamo
de nichos de corrupção estrutural. O Estado tem de assumir uma
posição de austeridade. Reformar
o Orçamento, eliminar a corrupção. Mesmo com recursos escassos, temos de criar um plano de
reativação econômica ao estilo do
que fez Roosevelt nos EUA. Temos de economizar, e isso é possível, mais de 6 bilhões de pesos eliminando a corrupção. Vamos colocar a serviço do país outros 5 bilhões de pesos dos 15 bilhões que
usaríamos para pagar juros da dívida. É suficiente para pôr em
marcha todas as 125 medidas, e a
Argentina passará a ter um Orçamento com superávit. E é possível
fazer. Eu governei por 18 anos a
Província de San Luis e foi a única
[Província" com superávit fiscal
durante 18 anos.
Folha - O sr. não pôde governar
em janeiro de 2001 porque não
conseguiu o apoio do seu próprio
partido, o PJ. Os peronistas chegam à eleição divididos em três
grandes grupos. Como o sr. conseguirá apoio para governar?
Rodríguez Saá - O presidente Lula tem apoio no Brasil? O presidente Lula não teve os votos suficientes no primeiro turno e obteve um respaldo formidável no segundo turno. O presidente da Argentina será eleito, se não obtiver
os votos necessários em 27 de
abril, no segundo turno. Seja
quem for, e creio que serei eu, terá
um enorme respaldo
popular. Com isso e
cumprindo com o
programa de governo,
temos de chegar à governabilidade.
Folha - Mas este governo terá que lidar,
por três meses, com o
mesmo Parlamento de
janeiro de 2001.
Rodríguez Saá - Os
partidos políticos da
Argentina irão respeitar a vontade popular.
E essa será a tarefa do
presidente: convocar
todos os argentinos
para que se respeite a
vontade popular.
Folha - Qual será sua
política em relação ao
Brasil e ao Mercosul?
Rodríguez Saá - Teremos as melhores relações com o Brasil. De
acordo com nossa
concepção, a região da
Argentina é o Mercosul. E, nas 125 medidas, propusemos uma
quantidade enorme de
políticas que coincidem não apenas com o
que propõe o presidente brasileiro, como
também com o que
propõem os demais
países do bloco. Com
mais amizade e solidariedade entre nossos
povos, vamos encontrar um caminho. Com moeda única, livre
circulação de bens, serviços e pessoas, projetos comuns de infra-estrutura. Por que não um plano
ferroviário? Por que não planos
comuns para o desenvolvimento
econômico e social de nossos países? Este é nosso desafio. Nós vamos fazer uma gestão marcadamente a favor do Mercosul.
Folha - Uma das primeiras tarefas
do governo será negociar um novo
acordo com o FMI. Como o sr. pretende lidar com o Fundo?
Rodríguez Saá - Nosso problema
com a dívida é gravíssimo. Temos
de tratar os organismos internacionais de crédito de forma séria e
respeitosa. Mas primeiro temos
de colocar a Argentina em marcha. Uma vez que a Argentina esteja trabalhando, que o setor produtivo tenha voltado a funcionar,
não teremos nenhum problema
com a dívida.
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