São Paulo, quinta-feira, 07 de abril de 2011

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Conflito revive guerra civil que dividiu Costa do Marfim há 9 anos

AMARO GRASSI
DE SÃO PAULO

O impasse político que paralisa a Costa do Marfim há quatro meses revive as rivalidades políticas que levaram o país a uma guerra civil em 2002, segundo analistas.
Firmado em 2007, o acordo de paz que encerrou oficialmente o conflito armado não logrou restabelecer uma unidade entre os partidários do presidente Laurent Gbagbo e os oposicionistas, que travam a disputa pelo poder.
E embora se confunda com divisões de fundo étnico e religioso entre o sul e o norte, a crise marfinense possui origem política, remetendo à disputa pelo espólio de Félix Houphouet-Boigny, líder da independência e ditador de 1960 até morrer, em 1993.
"Muitos remontam [o começo do conflito] ao final dos anos 1990, quando Henri Konan Bédié, então presidente, adotou a ideologia da "Ivoirité" ["Marfinidade'] e a fez de ferramenta política", afirma Till Förster, professor de antropologia social da Universidade de Basel, na Suíça.
A adoção da bandeira etnonacionalista serviu para excluir o rival Alassane Ouattara do pleito de 2000. Ouattara, que estivera ao lado de Bédié no final do regime de Boigny, foi acusado de ter parentes de Burkina Fasso.
Mas provocou também a exclusão política de vastas partes da população no norte, oeste e centro do país.
Bédié seria deposto em 1999 num golpe militar. Um ano depois, Gbagbo assumiria em meio a revoltas, mantendo apelo à "marfinidade".
"A origem do conflito era puramente política, e não étnica nem religiosa", diz Förster, autor de pesquisa e artigos sobre Costa do Marfim.

PERSPECTIVA
Apesar disso, Abu Bakarr Bah, professor de sociologia da Universidade de Northern Illinois, não descarta desdobramento que gere disputas étnicas na Costa do Marfim.
"É possível que no longo prazo leve a conflitos étnicos. Não estou dizendo que haverá um genocídio. Mas há uma configuração de poder [que pode levar a isso]", afirmou.
"As linhas da crise são claras. Trata-se de um conflito que ocorre já há algum tempo, uma convergência de fatores, [mas] há também configuração étnica e regional."
Os dois analistas concordam em que a volta da estabilidade política e econômica perdida nas duas últimas décadas do século passado dependerá da habilidade do líder para voltar a unir o país.
Para Förster, se Ouattara de fato assumir, as perspectivas locais "dependerão muito da capacidade de integrar os mais de 40% que votaram em Gbagbo nas eleições".
Mas seria perigoso, diz Bah, se as forças do atual presidente se reagrupassem para contestar a legitimidade de Ouattara no pós-crise.


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