São Paulo, quinta-feira, 07 de abril de 2011

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Ditadura síria faz aceno a conservadores

Laico, regime permite que professoras usem véu e fecha cassino na tentativa de esvaziar protestos de muçulmanos

Maioria do país é sunita, mas a família Assad, no poder desde 71, é ligada aos xiitas; revolta tem elementos religiosos

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O ditador da Síria, Bashar Assad, revogou medida que impedia professoras de usarem o véu islâmico e fechou o único cassino do país, numa tentativa de agradar aos conservadores muçulmanos e esvaziar sua participação em protestos pró-democracia.
As manifestações, que eclodiram há cerca de três semanas, já deixaram pelo menos 80 mortos no país -a maior parte deles, segundo ativistas, atingidos pelas forças de segurança da ditadura, o que o governo nega.
Em junho de 2010, Assad decidira transferir de escolas públicas para funções administrativas as professoras do ensino básico que usavam o véu, o que irritou setores islâmicos. Segundo o ministro interino da Educação, Ali Saad, agora elas poderão retornar ao emprego original.
No mesmo dia em que foi divulgada a medida sobre o véu, a imprensa estatal síria noticiou que o Cassino Damasco foi fechado porque seus donos "violaram a lei", sem dar detalhes. Os jogos de azar são reprovados pelos muçulmanos praticantes.
Ontem, seis grupos sírios de direitos humanos afirmaram que a Justiça do país ordenou a libertação de 48 curdos que haviam sido presos no ano passado durante conflito com a polícia na cidade de Raqqah, no norte do país.
O gesto foi visto como uma tentativa do ditador de apaziguar a minoria curda (6,6% dos cerca de 22,5 milhões de habitantes da Síria), que possui um longo histórico de queixas de discriminação.

NOVOS PROTESTOS
Governada pelo partido Baath, que é laico, desde 1963, a Síria é um país de maioria muçulmana sunita.
Mas a família Assad, no poder desde 1971, pertence ao ramo dos alauítas, que é ligado aos xiitas (majoritários em países como o Irã, um dos principais aliados da Síria) e perfaz só 11% da população.
As novas medidas de Assad visam esfriar as rebeliões, nas quais elementos religiosos são visíveis. Analistas veem nos principais focos da revolta pró-democracia -Daraa e Latikia, cidades no sul da Síria- ressentimento da maioria sunita contra a minoria alauíta no poder.
Os oposicionistas, porém, prometem novos atos até o fim da semana. Para Radwan Ziadeh, ativista de direitos humanos que vive nos EUA, os gestos de Assad não conterão as manifestações: "O governo não entende que os cidadãos têm de ser livres para protestar pacificamente".
A ONG Human Rights Watch pediu que as forças de segurança do ditador parem de utilizar "força letal" não justificada contra os manifestantes antigovernistas.


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