São Paulo, domingo, 07 de julho de 2002

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Luta no Afeganistão entra em fase de baixo atrito

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

A intervenção internacional liderada pelos Estados Unidos no Afeganistão está vivendo agora a fase que se previa que um dia iria acontecer: patrulhas constantes contra um inimigo que age com técnicas de guerra de guerrilha, sem prazo para terminar.
Quando o regime do Taleban desmoronou, suas tropas e os terroristas da rede Al Qaeda fugiram das principais cidades para locais de difícil acesso. Acredita-se que os terroristas foram também para o vizinho Paquistão.
O general Gregory Newbold, diretor de Operações do Estado-Maior Combinado das Forças Armadas dos EUA, relembrou na semana passada o que se dizia no começo da operação, no ano passado: "À medida que as coisas fossem adiante no Afeganistão, elas se tornariam mais difíceis".
Segundo Newbold, as tropas dos americanos e de seus aliados estão enfrentando bolsões de resistência de fanáticos "que não têm nada a perder".
"É muito duro achá-los. É muito duro combatê-los. Por isso nós sabíamos que iria ficar cada vez mais difícil", afirmou o general, durante uma entrevista.
Já faz semanas que as patrulhas percorrem o território praticamente todos os dias. São iniciadas por tropas que fazem o reconhecimento antes de uma operação de maior envergadura, com um maior número de soldados.
Pequenas patrulhas de reconhecimento tendem a ficar nervosas se acontece uma emboscada ou se, de repente, topam com uma força potencialmente hostil.
Para minimizar perdas, a tendência natural é chamar por reforços ou por aquilo que é mais rápido: a aviação.
O problema, nesse último caso, é a dificuldade dos aviadores em distinguir de fato onde está o inimigo, se é que ele está ali.
Os caças supersônicos passam muito rápido e, por isso, só são empregados quando há certeza ou urgência e quando a distância entre o inimigo e as tropas americanas e aliadas é suficiente para impedir o chamado "fogo amigo" (acertar o próprio lado).
Por isso um avião rotineiramente empregado é o avião-canhoneiro ("gunship") AC-130, basicamente um avião de transporte quadrimotor a hélice C-130 armado com canhões.
Voando relativamente devagar e com vários sensores a bordo capazes de dar uma razoável imagem do solo, o AC-130 permite fazer fogo mesmo com os dois lados separados por umas poucas dezenas de metros.
Mas mesmo os "gunships" -primeiro usados na Guerra do Vietnã- não têm como reconhecer com clareza o inimigo. A informação precisa ser passada pelas tropas em terra. Assim como no Vietnã era impossível distinguir entre o guerrilheiro e a população civil, pois a guerrilha não usava uniformes, o mesmo acontece no Afeganistão, pois os membros do Taleban se vestem do mesmo modo que qualquer civil.
Junte-se a isso o completo choque cultural das forças ocidentais em operação no país -sem falar a língua e sem ter meios próprios de obter inteligência-, e o resultado são ataques acidentais que causam mortes na população civil, como esse último, em que se estima que 40 civis foram mortos em um ataque aéreo.
Há dois grupos de tropas estrangeiras no Afeganistão. De um lado está uma força internacional composta por militares de 19 países, a "International Security Assistance Force", antes comandada por um general britânico, no momento comandada por um turco.
O total é de cerca de 5.000 homens, baseados principalmente na capital, Cabul. Nos seus primeiros seis meses de operação, essa força realizou 2.185 patrulhas de policiamento e destruiu perto de três milhões de explosivos, dos quais 80% eram as conhecidas minas antipessoais.
As outras forças são os americanos e seus aliados mais próximos, como britânicos e canadenses. Os números são variáveis, mas estão também na ordem dos milhares.
A contribuição britânica está diminuindo de cerca de 4.000 para 2.000 homens. Ela chegou a incluir uma força de elite, os 1.700 fuzileiros navais (o Commando 45 dos Royal Marines).
Além das forças no próprio teatro de operações, os EUA e seus aliados contam com bases em boa parte dos países em torno (veja mapa). Servem para basear caças-bombardeiros, aviões de transporte e tropas terrestres para pronto emprego ou para uso num prazo mais longo.
Por último, existem as forças navais ocidentais de prontidão no mar Arábico e no mar Vermelho, nucleadas em porta-aviões. Em geral há um dos gigantes porta-aviões americanos de 90 mil toneladas e cerca de 85 aeronaves em cada um desses mares.
Os maiores navios de guerra europeus também foram destacados -ou ainda se encontram- na região: o porta-aviões nuclear francês Charles de Gaulle (40 mil toneladas e 40 aeronaves), o britânico HMS Ocean (21.750 toneladas e 18 aeronaves) e o italiano Giuseppe Garibaldi (13.370 toneladas e 16 aeronaves).



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