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Jornalista denuncia ameaças na Venezuela
Repórter que editava principal site da oposição tem carro incendiado; Repórteres sem Fronteiras pedem investigação
Jornalista da TV estatal que substituiu RCTV admite que a tensão aumentou, mas credita problema a fato de meios substituírem partidos
FABIANO MAISONNAVE
EM BARINAS (VENEZUELA)
Alvo de duras críticas de porta-vozes do chavismo, o ex-editor do principal site de notícias
oposicionista da Venezuela teve seu carro incendiado na
quarta-feira, em Caracas.
O suposto atentado contra o
jornalista Roger Santodomingo
ocorreu por volta da 1h30,
quando o veículo, modelo Ford
Explorer, explodiu. O carro,
que estava estacionado na rua,
passou por uma perícia, ainda
inconclusiva.
"Até agora não tenho elementos para provar que seja
um atentado contra mim, mas
tenho a intuição de que o carro
não pega fogo por combustão
espontânea", disse à Folha.
Na semana passada, Santodomingo havia deixado o comando do site noticierodigital.com, alegando ameaças contra a sua família. Segundo ele,
as intimidações se intensificaram em meio à polêmica gerada
pela decisão do governo de Hugo Chávez de não renovar a
concessão da emissora oposicionista RCTV.
Poucos dias antes do fim da
concessão da RCTV, Santodomingo e outros jornalistas venezuelanos foram acusados pela advogada chavista Eva Golinger de serem "funcionários do
governo americano", por aceitar convites de viagem do Departamento de Estado dos
EUA. No caso do ex-editor, a visita foi realizada há sete anos e
durou três semanas.
Segundo Santodomingo, as
intimidações incluíram um bilhete ao seu filho de nove anos
na escola onde se lia "traidor da
pátria". Em nota, a ONG Repórteres Sem Fronteiras exortou "as autoridades e as personalidades próximas ao poder a
cessar suas acusações caluniosas e a tranqüilizar os seus militantes mais fervorosos".
Bastante popular na classe
média venezuelana, na maior
parte antichavista, o noticierodigital.com mistura notícias,
fóruns de discussão e blogs.
Uma das seções mais conhecidas é "rumor", onde os internautas votam se é verdade ou
não informações como a construção de um túnel entre a residência oficial e o aeroporto militar da capital venezuelana.
Para Eleazar Díaz Rangel, diretor do jornal "Últimas Notícias", o de maior tiragem da Venezuela, o caso RCTV "estimulou um pouco a tensão que existia antes" entre governo e
meios de comunicação oposicionistas, embora ressalve que
há dúvidas sobre se Santodomingo sofreu um atentado.
O jornalista, que tem um programa semanal na emissora estatal Tves, que substituiu a
RCTV, vem defendendo que
nunca houve tanta liberdade de
imprensa na Venezuela.
O problema, segundo Díaz
Rangel, é que os meios de comunicação passaram a substituir partidos políticos: "Há uma
crise ética. Alguns proprietários de meios praticamente tomaram o lugar de partidos de
oposição e têm sido muito beligerantes em relação ao governo. Isso, de alguma maneira, incide na conduta profissional.
Para os jornalistas, parece que
buscar a verdade não é fundamental, mas sim estar em harmonia com os interesses político-empresariais".
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