São Paulo, sábado, 07 de julho de 2007

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Jornalista denuncia ameaças na Venezuela

Repórter que editava principal site da oposição tem carro incendiado; Repórteres sem Fronteiras pedem investigação

Jornalista da TV estatal que substituiu RCTV admite que a tensão aumentou, mas credita problema a fato de meios substituírem partidos

FABIANO MAISONNAVE
EM BARINAS (VENEZUELA)

Alvo de duras críticas de porta-vozes do chavismo, o ex-editor do principal site de notícias oposicionista da Venezuela teve seu carro incendiado na quarta-feira, em Caracas.
O suposto atentado contra o jornalista Roger Santodomingo ocorreu por volta da 1h30, quando o veículo, modelo Ford Explorer, explodiu. O carro, que estava estacionado na rua, passou por uma perícia, ainda inconclusiva.
"Até agora não tenho elementos para provar que seja um atentado contra mim, mas tenho a intuição de que o carro não pega fogo por combustão espontânea", disse à Folha.
Na semana passada, Santodomingo havia deixado o comando do site noticierodigital.com, alegando ameaças contra a sua família. Segundo ele, as intimidações se intensificaram em meio à polêmica gerada pela decisão do governo de Hugo Chávez de não renovar a concessão da emissora oposicionista RCTV.
Poucos dias antes do fim da concessão da RCTV, Santodomingo e outros jornalistas venezuelanos foram acusados pela advogada chavista Eva Golinger de serem "funcionários do governo americano", por aceitar convites de viagem do Departamento de Estado dos EUA. No caso do ex-editor, a visita foi realizada há sete anos e durou três semanas.
Segundo Santodomingo, as intimidações incluíram um bilhete ao seu filho de nove anos na escola onde se lia "traidor da pátria". Em nota, a ONG Repórteres Sem Fronteiras exortou "as autoridades e as personalidades próximas ao poder a cessar suas acusações caluniosas e a tranqüilizar os seus militantes mais fervorosos".
Bastante popular na classe média venezuelana, na maior parte antichavista, o noticierodigital.com mistura notícias, fóruns de discussão e blogs. Uma das seções mais conhecidas é "rumor", onde os internautas votam se é verdade ou não informações como a construção de um túnel entre a residência oficial e o aeroporto militar da capital venezuelana.
Para Eleazar Díaz Rangel, diretor do jornal "Últimas Notícias", o de maior tiragem da Venezuela, o caso RCTV "estimulou um pouco a tensão que existia antes" entre governo e meios de comunicação oposicionistas, embora ressalve que há dúvidas sobre se Santodomingo sofreu um atentado.
O jornalista, que tem um programa semanal na emissora estatal Tves, que substituiu a RCTV, vem defendendo que nunca houve tanta liberdade de imprensa na Venezuela.
O problema, segundo Díaz Rangel, é que os meios de comunicação passaram a substituir partidos políticos: "Há uma crise ética. Alguns proprietários de meios praticamente tomaram o lugar de partidos de oposição e têm sido muito beligerantes em relação ao governo. Isso, de alguma maneira, incide na conduta profissional. Para os jornalistas, parece que buscar a verdade não é fundamental, mas sim estar em harmonia com os interesses político-empresariais".


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