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São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2003

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Sob intensa perseguição há dois anos, organização do saudita Bin Laden continua agindo aliada a outros grupos terroristas

Mesmo acuada, Al Qaeda ameaça

OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO

A Al Qaeda, responsável pelo 11 de Setembro, sofreu um duro golpe desde 2001, com a prisão ou a morte de muitos de seus membros, mas a rede terrorista continua ativa e decidida a realizar atentados. E seu maior líder, o saudita Osama bin Laden, continua desaparecido, transformado em símbolo do extremismo islâmico e da luta contra os EUA.
Para o cingalês Rohan Gunaratna, autor do livro "Inside Al Qaeda - Global Network of Terror" (dentro da Al Qaeda - rede global do terror), da Columbia University Press, a Al Qaeda e suas organizações associadas constituirão uma ameaça significativa em 2003 e nos próximos anos.
Logo após a Guerra do Iraque, funcionários de agências de inteligência dos EUA mostraram um certo otimismo devido ao fato de a rede terrorista não ter conseguido realizar um ataque de grandes proporções durante o conflito.
Esse silêncio momentâneo reforçou a percepção nos EUA de que a capacidade operacional da Al Qaeda estaria severamente comprometida. Mas o otimismo logo explodiu pelos ares, pois já em maio, pouco depois de o presidente George W. Bush anunciar o final da fase dos principais combates no Iraque, a ameaça descrita por Gunaratna concretizou-se.
No intervalo de apenas alguns dias, houve atentados em Riad (Arábia Saudita), na Tchetchênia, no Paquistão e em Casablanca (Marrocos). Embora não haja provas definitivas, há indícios de que os atentados tiveram o dedo da Al Qaeda.
Em agosto, um terrorista suicida se explodiu diante do hotel Mariott em Jacarta, na Indonésia. Dois dias depois, um caminhão-bomba foi deixado em frente à Embaixada da Jordânia no Iraque. No dia 19, foi a vez de a sede da ONU em Bagdá ser atingida por um atentado. E, no dia 29, o alvo foi a cidade de Najaf, sagrada para os xiitas iraquianos. Mais uma vez, não há comprovação do envolvimento da Al Qaeda, mas é possível que a organização tenha participado dos ataques.

Contatos ampliados
Desde 2001, mais de 3.000 suspeitos de envolvimento com o terrorismo foram presos em quase cem países. Estima-se que entre 60% e 70% dos quadros mais importantes da Al Qaeda estejam mortos ou atrás das grades, inclusive figuras-chave como Khalid Sheik Mohammed (suspeito de ter sido um dos organizadores dos ataques contra o World Trade Center e o Pentágono).
Não é pouco. Mas, para contrabalançar a perda de quadros e mostrar que está viva, a organização está reforçando sua rede de contatos com grupos islâmicos radicais ao redor do mundo.
"Não há dúvida de que a Al Qaeda está trabalhando com grupos islâmicos menores, treinados durante anos no Afeganistão. E que há uma coordenação entre os ataques dos últimos meses, em especial os de maio e agosto", afirmou Gunaratna, pesquisador do Centro para o Estudo de Terrorismo e Violência Política da Universidade St. Andrews (Escócia), em entrevista à Folha logo após o ataque à ONU.
Tradicionalmente, a cúpula da Al Qaeda priorizava ataques contra alvos estratégicos mais difíceis e deixava os mais fáceis para seus grupos associados.
Com a perseguição aos níveis mais altos da organização e a intensificação das ações de inteligência e das medidas de segurança nos EUA, na Europa e na Ásia Central, muitos de seus membros estão trabalhando com grupos terroristas em regiões menos visadas, que passarão a ter acesso a tecnologias mais sofisticadas. "O teatro de guerra vai se ampliar", afirmou Gunaratna.
Com a ocupação do Iraque, e a presença de cerca de 150 mil soldados americanos no coração do Oriente Médio, a situação pode ficar ainda mais complexa.
"A queda de Saddam Hussein não foi ruim para a Al Qaeda, que não gostava do regime iraquiano e agora tem a oportunidade de atacar diretamente os EUA, sem precisar se arriscar em solo americano", disse Daniel Byman, pesquisador nas áreas de estratégia contraterrorista e terrorismo no Oriente Médio do Instituto Brookings, em Washington.
Desde 1º de maio, quase 70 americanos morreram em ataques no Iraque e, embora certamente não se possa atribuir essas mortes à Al Qaeda, já surgem indícios de que a rede terrorista tentará fazer do Iraque o palco principal de suas atividades terroristas.
"Para a Al Qaeda, desmoralizar os EUA no Iraque seria comparável à desmoralização impingida aos soviéticos no Afeganistão", afirma Byman, professor da Universidade Georgetown.
Resta dizer que, apesar de muitos dos quadros mais experientes da Al Qaeda estarem fora de combate, seu grande ideólogo, o saudita Osama bin Laden, continua desaparecido.
Não é possível dizer, com 100% de certeza, se o inimigo número 1 dos EUA está vivo ou morto, mas o mais provável é que esteja escondido na região de fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão. Também o número 2 na hierarquia da organização, o egípcio Ayman al Zawahiri, segue desaparecido.


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