São Paulo, domingo, 07 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Democratas reavivam debate sobre seguros-saúde nos EUA

Hillary Clinton, John Edwards e Barack Obama propõem reformas universalizantes

País tem hoje 47 milhões de pessoas sem seguro médico; partidos protagonizam uma guerra verbal em meio a pré-campanha eleitoral

ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO

A imagem é em preto-e-branco, e a música de fundo, um violão suave. Hillary Clinton, atual pré-candidata favorita entre os democratas para a eleição presidencial de 2008, surge com o microfone na mão. Várias fotos -Hillary com bombeiros após o 11 de Setembro, uma menina negra pobre- se sucedem e um locutor diz: "Quase todos os candidatos defendem que o sistema de saúde é para todos, mas quem você acha que nunca desistirá?"
Com o controverso comercial de 30 segundos, Hillary espeta concorrentes democratas e republicanos e bate mais uma vez na tecla que divide quase irreconciliavelmente os partidos no Congresso e na disputa pela Casa Branca: a reforma do sistema de saúde americano.
Em setembro, a ex-primeira dama apresentou um novo calhamaço de idéias -o "Plano Americano de Escolhas em Saúde"- com o qual propõe oferecer cobertura universal para os 301 milhões de americanos pelo custo nada módico de US$ 110 bilhões ao ano.
"Não há nova burocracia, você pode manter os médicos que conhece e o plano que possui se quiser. Mas essa proposta aumenta as escolhas e mantém custos sob controle", disse a senadora por Nova York.
O plano chegou pouco depois, e com diferenças mínimas, das propostas de seus principais rivais democratas, Barack Obama e John Edwards, que também apostam no tema para conquistar eleitores. Há amplo espaço para o debate: 47 milhões de americanos não têm seguro de saúde hoje -entre adultos de baixa renda, o problema atinge 44%. Com altíssimos custos de tratamentos e serviços de caridade lotados, essa população se arrisca a não receber tratamento -ou ser levada à falência.

Reforma modesta
Hillary, Obama e Edwards têm o mesmo objetivo declarado: universalizar o financiamento de saúde, dividindo a responsabilidade entre indivíduos, empresas e o governo.
Entre as promessas democratas estão a expansão dos programas públicos de financiamento médico nos EUA -os principais, Medicare e Medicaid, são voltados apenas para maiores de 65 anos e grupos de famílias de baixa renda. Eles também exigiriam que grandes empresas que não oferecem seguros a funcionários paguem uma porcentagem dos lucros para um fundo governamental.
Assim, a base do sistema atual -que privilegia o oferecimento de seguros-saúde como benefício empregatício- não foi desafiada. Entre os que têm planos, 63% obtêm benefício por seus empregadores, segundo dados do instituto Kaiser Family Foundation.
Mas 81% dos sem-seguro estão em famílias nas quais ao menos um membro trabalha em tempo integral ou meio período -o que mostra a fragilidade do sistema. Para o especialista em economia e políticas de saúde globais da Universidade Harvard (EUA) Marc Roberts, isso é o que compromete os planos democratas. "As propostas são muito modestas e indicam falta de coragem política. Os EUA são o único país industrializado que não têm um sistema de impostos geral para financiar o acesso a serviços de saúde", afirmou à Folha.

Críticas republicanas
Mal foram anunciados, os planos sofreram críticas de pré-candidatos republicanos à Presidência como Fred Thompson e Mitt Romney, que acusam os rivais de tentar "socializar e burocratizar" a saúde.
Apesar de defenderem a expansão do número de segurados, os republicanos não propõe a universalização dos benefícios. Seus planos baseiam-se mais no aumento da competitividade de planos privados para redução dos custos, além da ajuda financeira para a aquisição dos seguros -que custam em média US$ 12,1 mil por ano para uma família americana.
Segundo Roberts, a verdadeira solução não foi jogada na arena política por enquanto: parar de contar com empregadores para oferecer seguros. "O sistema deixa na mão quem é desempregado, autônomo ou trabalha em empresas pequenas, o que é cada vez mais comum", explica. Outra necessidade, segundo o especialista, é que os custos de planos privados sejam bancados pelo governo e cobrados de acordo com a renda do segurado.
Já de acordo com o presidente da Kaiser Family Foundation, Drew Altman, a única rota possível politicamente para universalizar o seguro de saúde hoje é a obrigatoriedade dos planos -incluída nos projetos de Hillary e Edwards- e a ajuda financeira aos que não conseguem adquiri-los sozinhos.
Mas alerta que a guerra verbal está longe do fim: "O debate real só vai ocorrer em 2009, e nenhum plano apresentado até agora tem qualquer chance de ser aprovado como está".


Com agências internacionais


Texto Anterior: Convidado, Lula deve ir a cúpula sobre conflito árabe-israelense
Próximo Texto: Medo de processos leva à rejeição de pacientes difíceis
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.