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Democratas reavivam debate sobre seguros-saúde nos EUA
Hillary Clinton, John Edwards e Barack Obama propõem reformas universalizantes
País tem hoje 47 milhões de pessoas sem seguro médico;
partidos protagonizam uma guerra verbal em meio a
pré-campanha eleitoral
ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO
A imagem é em preto-e-branco, e a música de fundo,
um violão suave. Hillary Clinton, atual pré-candidata favorita entre os democratas para a
eleição presidencial de 2008,
surge com o microfone na mão.
Várias fotos -Hillary com
bombeiros após o 11 de Setembro, uma menina negra pobre-
se sucedem e um locutor diz:
"Quase todos os candidatos defendem que o sistema de saúde
é para todos, mas quem você
acha que nunca desistirá?"
Com o controverso comercial de 30 segundos, Hillary espeta concorrentes democratas
e republicanos e bate mais uma
vez na tecla que divide quase irreconciliavelmente os partidos
no Congresso e na disputa pela
Casa Branca: a reforma do sistema de saúde americano.
Em setembro, a ex-primeira
dama apresentou um novo calhamaço de idéias -o "Plano
Americano de Escolhas em
Saúde"- com o qual propõe
oferecer cobertura universal
para os 301 milhões de americanos pelo custo nada módico
de US$ 110 bilhões ao ano.
"Não há nova burocracia, você pode manter os médicos que
conhece e o plano que possui se
quiser. Mas essa proposta aumenta as escolhas e mantém
custos sob controle", disse a senadora por Nova York.
O plano chegou pouco depois, e com diferenças mínimas, das propostas de seus
principais rivais democratas,
Barack Obama e John Edwards, que também apostam
no tema para conquistar eleitores. Há amplo espaço para o debate: 47 milhões de americanos
não têm seguro de saúde hoje
-entre adultos de baixa renda,
o problema atinge 44%. Com
altíssimos custos de tratamentos e serviços de caridade lotados, essa população se arrisca a
não receber tratamento -ou
ser levada à falência.
Reforma modesta
Hillary, Obama e Edwards
têm o mesmo objetivo declarado: universalizar o financiamento de saúde, dividindo a
responsabilidade entre indivíduos, empresas e o governo.
Entre as promessas democratas estão a expansão dos
programas públicos de financiamento médico nos EUA -os
principais, Medicare e Medicaid, são voltados apenas para
maiores de 65 anos e grupos de
famílias de baixa renda. Eles
também exigiriam que grandes
empresas que não oferecem seguros a funcionários paguem
uma porcentagem dos lucros
para um fundo governamental.
Assim, a base do sistema
atual -que privilegia o oferecimento de seguros-saúde como
benefício empregatício- não
foi desafiada. Entre os que têm
planos, 63% obtêm benefício
por seus empregadores, segundo dados do instituto Kaiser
Family Foundation.
Mas 81% dos sem-seguro estão em famílias nas quais ao
menos um membro trabalha
em tempo integral ou meio período -o que mostra a fragilidade do sistema. Para o especialista em economia e políticas de saúde globais da Universidade Harvard (EUA) Marc
Roberts, isso é o que compromete os planos democratas. "As
propostas são muito modestas
e indicam falta de coragem política. Os EUA são o único país
industrializado que não têm
um sistema de impostos geral
para financiar o acesso a serviços de saúde", afirmou à Folha.
Críticas republicanas
Mal foram anunciados, os
planos sofreram críticas de
pré-candidatos republicanos à
Presidência como Fred
Thompson e Mitt Romney, que
acusam os rivais de tentar "socializar e burocratizar" a saúde.
Apesar de defenderem a expansão do número de segurados, os republicanos não propõe a universalização dos benefícios. Seus planos baseiam-se
mais no aumento da competitividade de planos privados para
redução dos custos, além da
ajuda financeira para a aquisição dos seguros -que custam
em média US$ 12,1 mil por ano
para uma família americana.
Segundo Roberts, a verdadeira solução não foi jogada na
arena política por enquanto:
parar de contar com empregadores para oferecer seguros. "O
sistema deixa na mão quem é
desempregado, autônomo ou
trabalha em empresas pequenas, o que é cada vez mais comum", explica. Outra necessidade, segundo o especialista, é
que os custos de planos privados sejam bancados pelo governo e cobrados de acordo com a
renda do segurado.
Já de acordo com o presidente da Kaiser Family Foundation, Drew Altman, a única rota
possível politicamente para
universalizar o seguro de saúde
hoje é a obrigatoriedade dos
planos -incluída nos projetos
de Hillary e Edwards- e a ajuda financeira aos que não conseguem adquiri-los sozinhos.
Mas alerta que a guerra verbal está longe do fim: "O debate
real só vai ocorrer em 2009, e
nenhum plano apresentado até
agora tem qualquer chance de
ser aprovado como está".
Com agências internacionais
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