São Paulo, domingo, 07 de outubro de 2007

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Medo de processos leva à rejeição de pacientes difíceis

DA REDAÇÃO

Em 2004, a brasileira Camila Ramos, 32, que vive em Nova York, teve um aborto espontâneo. Ao procurar um médico, porém, a situação difícil se tornou mais complicada.
"Ficou claro no primeiro ultra-som o que tinha acontecido, mas os médicos me encaminharam para outro especialista, que fez um segundo ultra-som e ainda exames complementares." Após dias, o médico ainda deixou para Ramos a decisão de como proceder: "Pediram que eu escolhesse se queria esperar para que meu corpo resolvesse a questão sozinho, se tomaria remédios ou se preferia uma curetagem", conta.
A chamada medicina defensiva, descrita pela AMA (Associação Médica Americana), pode ajudar a explicar a experiência de Ramos. Ela mostra que, nos EUA, mesmo quem paga caro por atendimento não está livre de riscos. Trata-se de uma prática deturpada devido ao temor dos médicos do país de sofrerem processos legais por erros. Pedidos desnecessários de exames, recusa de procedimentos tidos como arriscados, envio de pacientes para outros médicos e rejeição da responsabilidade por decisões são alguns dos sintomas que acometem os profissionais afetados.
"Não me senti nem um pouco competente para decidir o que fazer sem orientação. De raiva, acabei saindo da clínica sem fazer nada", afirmou a brasileira à Folha. Ela passou um mês sentindo dores até que sofreu uma grande hemorragia e teve de ser operada.
Em uma pesquisa feita na Pensilvânia e publicada em 2005 no jornal da AMA, 93% dos médicos entrevistados admitiram utilizar a medicina defensiva. As ações mais comuns são pedidos extras de exames e encaminhamento de pacientes para outros médicos. Recusar cirurgias a pacientes com condições de saúde mais complexas também foram atitudes adotadas por 42% dos 824 médicos ouvidos pelo estudo.
"Em qualquer consulta nos EUA é fácil ver que cada ação é pensada para evitar um processo por erro médico", conta outra brasileira que vive nos EUA e não quis se identificar. "Já tive a impressão de estar diante de uma dessas declarações de responsabilidade que a gente assina quando abre uma conta de e-mail." (AM)


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