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São Paulo, sexta-feira, 07 de novembro de 2003

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ARGENTINA

Para analistas, agenda política sustenta popularidade do presidente, mas foco de insatisfação econômica cresce

Apoio a Kirchner se mantém acima de 70%

CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES

Pouco mais de cinco meses depois de sua posse, o presidente argentino, Néstor Kirchner, permanece com popularidade alta nas pesquisas, mas há focos de insatisfação crescente.
Segundo levantamento da consultoria Ricardo Rouvier e Associados, 72,4% dos argentinos avaliam positivamente o presidente, e 61,4% aprovam seu governo.
Apesar disso, Kirchner vem sofrendo críticas por parte dos chamados piqueteiros -grupos de desempregados que bloqueiam estradas para exigir emprego e subsídios, cuja mobilização teve influência decisiva sobre a renúncia do ex-presidente Fernando de la Rúa, no final de 2001.
Nesta semana, um grupo de 30 organizações dos chamados piqueteiros "duros" comandou uma marcha pelas ruas do centro de Buenos Aires, no protesto mais importante desde o início do atual governo, em maio.
Caso o governo "não preste atenção às demandas da sociedade" sobre a necessidade de se criar mais postos de trabalho e maior equidade social, "haverá outro 20 de dezembro", ameaçou a piqueteira Nina Pelosso, do Movimento Independente de Aposentados e Desempregados (MIJD).
Ela se refere ao dia em que protestos de rua derrubaram De la Rúa. Na época, choques entre manifestantes e forças policiais deixaram cerca de 30 mortos.
O governo argentino relativizou as afirmações, mas advertiu que os piqueteiros serão presos caso "passem dos limites".

Limpeza geral
A pesquisa da Ricardo Rouvier ouviu 680 pessoas entre 8 e 27 de outubro na Grande Buenos Aires. A popularidade do governo em outubro é inferior à do levantamento anterior feito pela mesma consultoria, mas a diferença está dentro da margem de erro da pesquisa, de 3,6 pontos percentuais. Em setembro, a avaliação positiva de Kirchner foi de 76%.
Segundo os entrevistados, as principais razões para a boa avaliação do governo Kirchner são a percepção de melhora na economia (32,6%) e a depuração que o governo tem feito nas forças policiais (25,5%). Desde o início de seu governo, Kirchner vem promovendo uma "limpeza geral" nas instituições, que já atingiu as Forças Armadas, a polícia federal e a Suprema Corte de Justiça.
Para a analista Graciela Römer, a maioria dos argentinos ainda está em compasso de espera. "Os argentinos parecem ter decidido adiar suas demandas em termos econômicos, de emprego e de melhora da qualidade de vida, e atender àquelas vinculadas a mudanças no sistema político", disse Römer à Folha.
Segundo ela, Kirchner vem dando sinais claros de vontade de fazer mudanças institucionais, o que gera um alto nível de satisfação. "Essas mudanças na cúpula militar e da polícia federal e na Corte Suprema expressam uma resposta a uma demanda que é muito forte entre os argentinos e que não é nova, de luta contra a corrupção e a impunidade dos fatores de poder", disse.
Ricardo Rouvier avalia que há uma "coincidência retórica" entre o governo e a população. "O que o governo disse recentemente sobre a conivência entre a polícia corrupta e a política é algo que as pessoas nas ruas diziam e suspeitavam, mas que ninguém com tanta autoridade pública havia dito. Isso lhe deu muita popularidade."
A pesquisa aponta, no entanto, que o nível de satisfação da população em áreas específicas - como desemprego - é "medíocre", segundo Römer.
Para ela, essa "lacuna" tem explicação. "Como a agenda está muito centrada em temas políticos, os argentinos decidiram dar ao governo um crédito em relação à satisfação de demandas mais pontuais. O desafio é saber quanto tempo vai durar essa opção."


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