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ARGENTINA
Para analistas, agenda política sustenta popularidade do presidente, mas foco de insatisfação econômica cresce
Apoio a Kirchner se mantém acima de 70%
CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES
Pouco mais de cinco meses depois de sua posse, o presidente argentino, Néstor Kirchner, permanece com popularidade alta nas
pesquisas, mas há focos de insatisfação crescente.
Segundo levantamento da consultoria Ricardo Rouvier e Associados, 72,4% dos argentinos avaliam positivamente o presidente,
e 61,4% aprovam seu governo.
Apesar disso, Kirchner vem sofrendo críticas por parte dos chamados piqueteiros -grupos de
desempregados que bloqueiam
estradas para exigir emprego e
subsídios, cuja mobilização teve
influência decisiva sobre a renúncia do ex-presidente Fernando de
la Rúa, no final de 2001.
Nesta semana, um grupo de 30
organizações dos chamados piqueteiros "duros" comandou
uma marcha pelas ruas do centro
de Buenos Aires, no protesto mais
importante desde o início do atual
governo, em maio.
Caso o governo "não preste
atenção às demandas da sociedade" sobre a necessidade de se criar
mais postos de trabalho e maior
equidade social, "haverá outro 20
de dezembro", ameaçou a piqueteira Nina Pelosso, do Movimento
Independente de Aposentados e
Desempregados (MIJD).
Ela se refere ao dia em que protestos de rua derrubaram De la
Rúa. Na época, choques entre manifestantes e forças policiais deixaram cerca de 30 mortos.
O governo argentino relativizou
as afirmações, mas advertiu que
os piqueteiros serão presos caso
"passem dos limites".
Limpeza geral
A pesquisa da Ricardo Rouvier
ouviu 680 pessoas entre 8 e 27 de
outubro na Grande Buenos Aires.
A popularidade do governo em
outubro é inferior à do levantamento anterior feito pela mesma
consultoria, mas a diferença está
dentro da margem de erro da pesquisa, de 3,6 pontos percentuais.
Em setembro, a avaliação positiva
de Kirchner foi de 76%.
Segundo os entrevistados, as
principais razões para a boa avaliação do governo Kirchner são a
percepção de melhora na economia (32,6%) e a depuração que o
governo tem feito nas forças policiais (25,5%). Desde o início de
seu governo, Kirchner vem promovendo uma "limpeza geral"
nas instituições, que já atingiu as
Forças Armadas, a polícia federal
e a Suprema Corte de Justiça.
Para a analista Graciela Römer,
a maioria dos argentinos ainda está em compasso de espera. "Os argentinos parecem ter decidido
adiar suas demandas em termos
econômicos, de emprego e de melhora da qualidade de vida, e atender àquelas vinculadas a mudanças no sistema político", disse Römer à Folha.
Segundo ela, Kirchner vem dando sinais claros de vontade de fazer mudanças institucionais, o
que gera um alto nível de satisfação. "Essas mudanças na cúpula
militar e da polícia federal e na
Corte Suprema expressam uma
resposta a uma demanda que é
muito forte entre os argentinos e
que não é nova, de luta contra a
corrupção e a impunidade dos fatores de poder", disse.
Ricardo Rouvier avalia que há
uma "coincidência retórica" entre
o governo e a população. "O que o
governo disse recentemente sobre
a conivência entre a polícia corrupta e a política é algo que as pessoas nas ruas diziam e suspeitavam, mas que ninguém com tanta
autoridade pública havia dito. Isso lhe deu muita popularidade."
A pesquisa aponta, no entanto,
que o nível de satisfação da população em áreas específicas - como desemprego - é "medíocre",
segundo Römer.
Para ela, essa "lacuna" tem explicação. "Como a agenda está
muito centrada em temas políticos, os argentinos decidiram dar
ao governo um crédito em relação
à satisfação de demandas mais
pontuais. O desafio é saber quanto tempo vai durar essa opção."
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