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Após 5 anos, caldeirão francês perdura
Em 2005, protestos violentos se espalharam por diversas periferias do país; desemprego hoje pode chegar a 60%
Na época ministro, hoje presidente Sarkozy ganhou popularidade ao defender linha dura contra manifestantes
MARCOS FLAMÍNIO PERES
DE SÃO PAULO
Cinco anos após as revoltas que acuaram a França e
chocaram o mundo, as periferias pobres e segregadas de
Paris, Marselha, Lyon e outras cidades do país estão
mais do que nunca à deriva.
Cerca de um terço da população dessas áreas está
abaixo da linha de pobreza, o
índice de desemprego chega
a 42% -60% em algumas regiões- e as instituições públicas e seus representantes
se tornaram cada vez mais alvos de ataques.
E não apenas policiais,
mas também agentes sociais,
professores, carteiros e motoristas de ônibus.
Reflexo da crise econômica de 2008-9?
Sim, mas a razão principal, defende o sociólogo Didier Lapeyronnie [leia nesta
página], é a "política repressiva" e de "abandono" adotada por Nicolas Sarkozy ao
ser eleito presidente francês,
em 2007.
À época ministro do Interior, Sarkozy reprimiu duramente os protestos ocorridos
entre 27 de outubro e 16 de
novembro de 2005, o que fez
sua popularidade saltar 11
pontos e atingir 63%.
Lapeyronnie, que é professor na Universidade de Paris
4 e na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, lembra que ele soube usar politicamente os confrontos.
Sarkozy atribuiu as revoltas à "poligamia" dos moradores dos subúrbios, que teriam filhos demais. Boa parte
deles é de origem africana.
PAÍS DAS TENSÕES
Mas por que a quinta economia do mundo, que figura
num invejável oitavo lugar
no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU (o Brasil
é o 75º), é palco tão frequente
de protestos, greves e confrontos com a polícia?
Os mais recentes foram
contra a reforma da aposentadoria, no mês passado.
Mas, se insatisfação política e econômica ocorre por toda parte, por que é sempre na
França que a tensão social
parece explodir?
"Desde o racionalismo de
Descartes, no século 17, que a
França buscar erradicar a expressão das paixões na sociedade", argumenta Michel
Maffesoli, um dos criadores
da sociologia do cotidiano.
A explicação para esse fenômeno, na opinião do catedrático da Universidade de
Paris 5, é de ordem cultural.
A ausência do "desregramento autorizado" -como o
Carnaval- faz com que a sociedade não tenha canais para extravasar suas emoções.
"Daí a violência gratuita,
inexplicável" que toma conta
do país de tempos em tempos, afirma Maffesoli.
Uma forma de "extravasar" poderia ser o rap -a
França é o segundo mercado
mundial, depois dos EUA.
Mas, à época, os rappers
foram acusados pela centro-direita de incitar a violência
durante os distúrbios.
"Na verdade, somos a consequência, não a causa, deles", rebate Mino Brown [leia
na outra página], um dos expoentes da cena marselhesa.
FOLHA.com
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