São Paulo, domingo, 07 de novembro de 2010

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Após 5 anos, caldeirão francês perdura

Em 2005, protestos violentos se espalharam por diversas periferias do país; desemprego hoje pode chegar a 60%

Na época ministro, hoje presidente Sarkozy ganhou popularidade ao defender linha dura contra manifestantes

MARCOS FLAMÍNIO PERES
DE SÃO PAULO

Cinco anos após as revoltas que acuaram a França e chocaram o mundo, as periferias pobres e segregadas de Paris, Marselha, Lyon e outras cidades do país estão mais do que nunca à deriva.
Cerca de um terço da população dessas áreas está abaixo da linha de pobreza, o índice de desemprego chega a 42% -60% em algumas regiões- e as instituições públicas e seus representantes se tornaram cada vez mais alvos de ataques.
E não apenas policiais, mas também agentes sociais, professores, carteiros e motoristas de ônibus.
Reflexo da crise econômica de 2008-9? Sim, mas a razão principal, defende o sociólogo Didier Lapeyronnie [leia nesta página], é a "política repressiva" e de "abandono" adotada por Nicolas Sarkozy ao ser eleito presidente francês, em 2007.
À época ministro do Interior, Sarkozy reprimiu duramente os protestos ocorridos entre 27 de outubro e 16 de novembro de 2005, o que fez sua popularidade saltar 11 pontos e atingir 63%. Lapeyronnie, que é professor na Universidade de Paris 4 e na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, lembra que ele soube usar politicamente os confrontos. Sarkozy atribuiu as revoltas à "poligamia" dos moradores dos subúrbios, que teriam filhos demais. Boa parte deles é de origem africana.

PAÍS DAS TENSÕES
Mas por que a quinta economia do mundo, que figura num invejável oitavo lugar no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU (o Brasil é o 75º), é palco tão frequente de protestos, greves e confrontos com a polícia?
Os mais recentes foram contra a reforma da aposentadoria, no mês passado. Mas, se insatisfação política e econômica ocorre por toda parte, por que é sempre na França que a tensão social parece explodir?
"Desde o racionalismo de Descartes, no século 17, que a França buscar erradicar a expressão das paixões na sociedade", argumenta Michel Maffesoli, um dos criadores da sociologia do cotidiano.
A explicação para esse fenômeno, na opinião do catedrático da Universidade de Paris 5, é de ordem cultural. A ausência do "desregramento autorizado" -como o Carnaval- faz com que a sociedade não tenha canais para extravasar suas emoções. "Daí a violência gratuita, inexplicável" que toma conta do país de tempos em tempos, afirma Maffesoli.
Uma forma de "extravasar" poderia ser o rap -a França é o segundo mercado mundial, depois dos EUA.
Mas, à época, os rappers foram acusados pela centro-direita de incitar a violência durante os distúrbios.
"Na verdade, somos a consequência, não a causa, deles", rebate Mino Brown [leia na outra página], um dos expoentes da cena marselhesa.

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